Virar à esquerda ou à direita pode fazer muita diferença. Pra um lado, com sorte, acha-se um bolo de notas de R$ 50. Pro outro, com azar, um carro desgovernado te acerta em cheio na calçada. Acaso? Destino? Vá lá saber, ou dar pitacos... O que é certo é que Max de Castro e Fred Zero Quatro se equivocaram ao dizer que "nenhum maldito ônibus passa jamais pela história".
Nas histórias das pessoas comuns, um atraso de condução pode fazer com que se encontre alguém que de outra forma não se encontraria; uma companhia momentânea de assento pode se tornar mais, e sempre tem os causos que perambulam por aqueles corredores entuchados de gente. Como diz o personagem que pode prever as várias possibilidades de futuro em MIB 3, o ‘e se’ sempre entra em ação quando o momento é decisivo. Neo em Matrix diz não acreditar em destino pelo fato de não gostar da ideia de não ter o controle da própria vida, mas, não há como saber quando esse ‘momento’ virá. E pode ser a qualquer curva ou busão tomado, ou numa esbarrada em alguém na freada do coletivo. Pode ser. E só será quando for. Sendo assim, todo momento é decisivo, e devemos estar atentos.
"Eu acredito é na rapaziada!". E Gonzaguinha morreu em um acidente de carro aos quarenta e cinco anos. Pouco? Muito? O suficiente? Levou consigo a vida que levava. E não adianta dizer que a força de um pensamento positivo gera um mundo melhor, ou acarreta essas novas possibilidades. Se cair a porca da roda do pneu do ônibus que sai do ponto final, como o pensamento de que ele vai passar no horário influirá? Não dá. Enquanto houver vida o mundo não acabou, portanto, "tudo pode acontecer, ou pode acontecer qualquer coisa", como cantou Arnaldo Antunes.
Mesmo se a mente estiver anuviada de pensamentos obscuros a luz que não se previa surge e pega o peão desprevenido. O contrário também vale. E o fim do mundo continua sendo o fim do dia quando se vai para o mundo dos sonhos, para viver tudo aquilo que se sonha acordado preocupado com o pior: o fim do mês. Isso quando não se inverte a noite pelo dia e, geralmente quem faz isso, quando não é por motivo de labuta, é porque acha que desse jeito vive cada dia como se fosse o último, e pode mesmo ser, mas, enquanto não for, sempre haverá o próximo, a inconsequência acelerando o fim de todos, como se ao achar várias notas virando à esquerda, querer ver o que tinha à direita e bater de cara com o automóvel desgovernado que levará um corpo ao chão de vez, e espalhará a dinheirama pelo ar. Por um momento ficarão suspensos, flutuando, sem o efeito da gravidade, como num sonho. Mas a força da física é cruel, como diria William Bell.