segunda-feira, 30 de julho de 2012

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O prazer perambulava pelas vias respiratórias, bulinando, fornificando. Usou o dedão e o indicador, como poderia usar um prendedor de roupa. Tinha alergia à madeira, e os de plástico eram caros. 
Um silêncio precedia. Desejos não podem ser satisfeitos sem critério. Ele é velho, o senhor. Viveu. Vivido. Não tem mais idade para se regozijar só. Quer compartilhar, deixar algo de seu. 
O horário é de pico. Há lotação na condução. 
Entra. 
Finalmente em êxtase, libera o que estava contido triunfante, num estertor em berrante: “Atchim!”. 
Compartilhou doenças, e vários o saúdam com: “Saúde!”.

Sobre 'Micrins'

Alguns chamam conduções pequenas de ‘micrins’. Muitos andam pulando de condução em condução como se não houvesse acontecido a evolução comprovada por Darwin. São coexistências momentâneas. Gente dessa espécie, seleciona naturalmente o seu itinerário. É como se já fizesse parte do próprio código genético, mas o único código a ser seguido de verdade, é o prefixo da linha. Das cenas diárias, surgem fotografias esmiuçadas em poucas linhas, nesse microcosmo da existência.