sábado, 27 de novembro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 7

08 de janeiro – sexta – 0h40 Não sei bem por que chego em Campinas esse horário. O primeiro corujão (peruas que funcionam de madrugada) é às 0h50. Tenho algumas quadras para transpor da rodoviária até o Terminal Mercado. Ando nuns passos larguíssimos até para o meu 1 metro de perna. A mochila pesando, as pernas doem. Perco a condução por 2 min. O próximo só 2h20. Penso em ir a pé mas vou ao “Finos do taco” tomar cerveja que no evento só fiquei na vontade, e comer alguma coisa já que minha última refeição foi o almoço do dia anterior.
(h...) Hoje estou de folga porque trabalhei domingo passado. Tiro o dia para digitar a semana até aqui.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 6

7 de janeiro – quinta – 10h10 Dia atípico. Acordo no meu horário. Hoje, mesmo chovendo, vou para São Paulo participar de um evento da distribuidora DINAP. Por isso não fui trabalhar como o habitual. Também por isso, ontem, mesmo chovendo, sai para tomar uns goles de loira e dar uma relaxada já que não precisaria acordar cedo. Não consegui vencer o vermelho dos olhos mesmo dormindo mais, talvez por ter bebido mais.
Ia começar a digitar o texto hoje só que acordei tarde. Termino o café e ligo para os dois dentistas que tenho em vista já que preciso tirar quatro dentes para consertar a mordida. Não consigo falar com nenhum deles. Vou à internet apurar as mudanças de ontem pra hoje: Não muita coisa ou eu que não sei pesquisar sobre mudanças. Da próxima vez digito no google. Acho sim o e-book de Fernando Sabino “O Encontro Marcado”; começo a ler e engreno (e olha que não sou adepto da leitura na tela). Mesmo assim, cesso a sessão com tempo para almoçar e arrumar a mochila: carteira, livro, revista, m.p.3, fone de ouvido, celular, cigarros: Pronto!
Chego na rodoviária de Campinas faltando 20min para a saída do ônibus que vai ser 17hs. Compro a passagem e vou matar o tempo. Pra variar um pouco, passo na revistaria. Lá, um tiozinho grisalho com uma prancheta faz o encalhe. Os títulos conheço todos e às vezes fico igual quem sempre pergunta se não tem revista nova. Pra gente que tá ali todo dia, as mensais principalmente, começam a parecer antigas, dando impressão de serem perdidas, mas o caso é que a medida do tempo fica meio alterada. Das revistas vou para os livros tentando forjar um encontro com Sabino, se tiver o que eu comecei a ler hoje, já levo agora e vou lendo. Não tem. Vou comprar com desconto para vendedor.
Sigo. O meu assento é na janela e a minha frente tem uma gata. Quero dizer que ela é cinco estrelas como a tatuagem que tem nas costas do pescoço mas, como atende ao telefone várias vezes, penso que o namorado/amante/ficante (já que não tem aliança), deve estar esperando.
Pela Bandeirantes o ritmo é intenso e da impressão de a distância ser igual Campinas-Hortolândia. Nas paisagens verdes, nas árvores imensas que lembram pinheiros, as cúpulas parecem ter sido moldadas por seres Avatares.
Olhando as casas, as pessoas, enquanto o ônibus passa, vejo a vida de todos os dias de todos, enquanto o meu é diferente.
Às 18hs a embarcação se acopla na marginal Tietê. A impressão de ponto de chegada logo acaba no engarrafamento. Ficamos 1h para chegar no Terminal Rodoviário Tietê-Portuguesa. Eu tenho que pegar uma vã fretada na estação Vila Madalena no máximo às 19h30. Acho que vai dar. Quando entro no metrô e vejo que terei que descer na estação Paraíso que dá acesso a linha verde, já começo a duvidar. Depois, pegando a linha verde, vejo que tem mais umas oito estações até a minha. Desacredito de todo.
Chego no ponto X da vã fretada com + N minutos de atraso. Espero e ninguém aparece. Próximo, há uma banca de revistas. Pergunto se o atendente trabalha com a DINAP e se não tem o telefone de contato deles. Ele me passa dois. Um não pode atender e o outro é inexistente. Ligo para a livraria na intenção de falar com o gerente. Indico para atendente que ele me retorne. Ai lembro que tenho o endereço do local e como tenho boca, vou a Vila Leopoldina. Além do mais, ninguém me retorna.
Pergunto a três, quatro para não ter erro; caso houvesse quatro opções dadas, perguntaria a mais três, mas os dedos são todos apontados para a mesma direção, como quem denuncia um delator: Atrasado!
Pego o circular e começa a confusão entre Avenida Leopoldina e Vila Leopoldina; no mapa das ruas em que passa, na parede da condução, consta uma Avenida Jaguaré, e eu querendo ir na Rua Jaguaré Mirim.
O motorista diz que sabe, acontece que tem uns tiques que me deixam nervoso. Sento na frente como a assegurar que ele não irá esquecer de me avisar (ou esquecer quem era/ dá umas viradas bruscas de cabeça/ estala os beiços/ pisca diferente/ se balança no assento); só respiro melhor quando vejo a placa: Vila Leopoldina. Mais 30min chego no meu destino, um pouco depois dos demais, provavelmente descabelado, depois de ter andado um bom pedaço em ritmo rápido. O meu nome está na lista, então a loirinha com cara de modelo anêmica e voz metálica me deixa entrar. Dentro, quero sair: Não conheço absolutamente ninguém. A festa esta boa, do bom e do melhor, de comer e de beber, para todos os gostos. D.jays e uma banda ao vivo (apesar de o baterista atravessar um pouco). Peço um copo de cerveja e tento me ambientar. Falo com alguns que conheci na abertura do RALLY DE VENDAS (como foi chamada a disputa). Sento numa mesa junto com eles.
21h30, na mesa, alguns superiores da Abril, alguns vendedores da rede de livrarias da loja que fica na Avenida Paulista, muitos vencedores e ganhadores de prêmios que atingiram as metas de vendas estipuladas. Nós interioranos alcançamos o faturamento proposto um mês então, cada um leva um mini-system pra casa. Nas outras mesas, pessoas de outras livrarias de rede, em suma, todos da capital. Conheço a gerente de compras que parece mais simpática do que a voz no telefone, e me foi apresentando mesa por mesa, como um objeto de estudos, uma espécie em extinção: “Ele veio de Campinas”; e a resposta: “Ohhh!”; e a emenda: “Chegou agora!”; “Ohhh!”. Assim passo por todas as mesas e volto para a que estava. Chegando depois, sem conhecer ninguém, pareço um típico caipira interiorano, penso, não sei se pensam. Sei que chego mudo e saio calado. Mas olho...
... Tem uma garota, morena, cabelo preto, rosto expressivo, olhar com atitude, voz impostada de quem sabe o que fala, não deixando de ser doce, suave, estilo alternativo de se vestir, uma tatuagem do lado de dentro de ambos os braços, perto da veia, se não me engano no esquerdo uma cruz e no direito um tribal. Me encantei, mas, está ao lado de outros dois caras que trabalham com ela; o imediato do lado, pinta de roqueiro descolado, se ainda não tiveram um lance, tem chance, caso aquele anel de adorno que ela tem não seja de compromisso.
Às 22h10 pego a minha lembrança e embarco no caminho inverso do que vim, dessa vez com a perua fretada (não teria como perdê-la). Não sei bem porque chego na rodoviária 23h10. O ônibus sai 23h20. Antes, no metrô, vi a família de Americanos ou Suecos ou Holandeses e fiquei pensando o que será que pensam de nós... no transporte subterrâneo ninguém olha pra ninguém, mas eles olhavam... Quando deu microfonia no alto falante na hora que o motornista anunciava a próxima estação, com certeza pensaram: “Só no terceiro mundo acontece isso. Que paisinho horrível”. Também penso que os engenheiros que fizeram o projeto do metrô de São Paulo ao andarem nesse transporte devem se regozijar, ou já morreram, ou justamente o contrário: São felizes por não precisarem.

domingo, 14 de novembro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 5

6 de janeiro – quarta - mais um dia. Citando Bide e Marçal – na versão original: “o bonde São Januário leva mais um sócio otário, sou eu quem vou trabalhar...”.
Adiantei 3min dos relógios que supostamente estavam adiantados 5min e não perdi a hora. Primeira pontualidade do ano (nem a passagem é pontual, cada um vive uma 00h00).
Lembrei da minha época como operador de caixa, quando me mirando estava a capa de um tomo com a foto de Machado de Assis, tipo me intimando: “E ai, não vai escrever? E consegue fazer algum tão bom quanto eu fiz?”; Pior é que ele acordava cedo e escrevia de madrugada, antes de ir para o trabalho. Será que se eu fizer isso consigo ser prolífico? Uma grande aspiração. Uma grande inspiração. E outro gênio (a meu ver), Graciliano Ramos, mantinha o mesmo esquema de produção. Tenho que ter o meu processo. E um tio da loja, sabendo que eu me meto a tentar rabiscar palavras, todo dia pergunta: “E os textos?” preciso de inspiração que vem de vez em quando, e de ócio, que vem de vez em nunca.
Fico numa sinuca de bico entre música e literatura. Taco em todas as bolas e até agora só deu branca. Gravei um CD que achei ser o demo, divulguei e não obtive retorno. Fiz tudo em processo caseiro e obtive um resultado amador, sempre na intenção de divulgar as composições. Escrevendo, participei de alguns concursos mas não recebi nem menção de menção, também, nunca me achei deverás merecedor. Sou tipo um Caim sem a marca na testa, depois que li Saramago me veio essa suposição. Por agora estou mais propenso a escrita, como cita Chico Buarque em Budapeste “... é a única das artes que não precisa se expor...”; esse expor no sentido de desprendimento, porque toda arte é uma forma de dar-se ao mundo. Mas para ser músico é necessário saber música, partitura, divisão de tempos, duração e localização das notas no pentagrama. Eu sou mais intuitivo. Já na outra ponta, pode-se estudar de uma forma autônoma, lendo os grandes mestres, escrevendo e reescrevendo, pesquisando, vivendo.
O operacional visita a loja. 14hs passo por ele que me cumprimenta e pergunta como foram as festas. Respondo que bem e nem pergunto como foram as dele. Nos dias em que ele vem há todo um alvoroço; segue esquadrinhando centímetro por centímetro para ver se está tudo correto. O pessoal fica num burburinho geral. Eu até pouco tempo falava com ele só o básico, basicamente, respondia às perguntas. Acho que já nos acostumamos em nos topar por ali e buscamos uma melhor convivência (mesmo que inconscientemente). Aparenta ser bem sisudo no mais, sendo São-Paulino, deve ser gente boa.
Lá pelas 14hs e alguma coisa na volta da pausa/wafer de morango vejo um carinha que fez entrevista comigo na livraria “x” há um ano atrás, na mesma época em que fiz entrevista aqui. Esse, cabeludo, acima do peso, usa o uniforme azul-esverdeado de uma companhia de celulares. Citou – na entrevista – a obra da vida dele algo que não me lembro. Eu citei Max de Castro na Orchestra Klaxon, álbum que me fez querer voltar pra música novamente (porque do final de 2001 ao começo de 2003 deixei de lado o violão por desilusão, queria ser sociólogo, “tempo que o vento levou”), mas gaguejando, suando frio, perto de outros que tinham a Eneida de Virgílio como livro de cabeceira, formados em filosofia com tese de conclusão sobre Proust sendo concluída, um estudante de direito que num debate entre um grupo que defendia o direito ao aborto e outro que abortava essa ideia citou o “fato social” de Durkheim para embasar sua tese, sai de fininho. Não passei nos testes. Acho que foi melhor.
16h30, chegando em casa, fui direto para o computador saber a resposta da redação sobre o diário: Nada. Afoito, mandei outros e-mails por todas as vias possíveis. Passados alguns minutos – enquanto ripava uns CD’s para colocar no m.p.3 de fundo musical para a viagem de amanhã – alguém da equipe da revista me respondeu. Explanou como era o processo de escolha, e que haviam perfis a serem julgados: menos literários; pessoas que nunca escreveram diário antes; linguagem mais informal. Pediu pra que eu escrevesse mais sobre mim. Falei um pouco (não querendo me expor muito), dei o link de algumas de minhas páginas na internet: http://twitter.com/gi0lima http://www.myspace.com/giolima. Acho que ela entendeu isso como botar banca. Retornou dizendo que o meu perfil não era bem o que procuravam mas que se eu quisesse, mandasse mesmo assim e que tudo dependeria da apuração e aprovação dos bam-bam-bans e que haveria uma resposta (se positiva em trinta dias) caso contrário, nem confiança. Acho que trinta dias mesmo se por sorte aprovado não entro na edição de fevereiro. Vou mandar mesmo assim. Amanhã (antes de arrumar a mochila com o bote inflável dentro e partir pra S.P), começo a digitar o texto, e na sexta, de folga, espero adiantar a maior parte, só faltando o sábado para fechar o ciclo da semana.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 4

5 de janeiro – terça – (idem segunda e sábado) O relógio desperta com sempre e dessa vez pulo da cama no horário. Saio pensando que tô apavorando e que vou ser pontual mas, ao chegar no ponto constato: Estou atrasado. Tá osso é pouco! Seria necessária uma metralhadora de muxoxos para expressar a indignação pelo malogro. Também, tenho três fusos horários, e nesse ano até agora não me acertei em nenhum deles. O relógio do P.C está na hora de Brasília, horário brasileiro de verão. O do C.E.L. está 5min adiantado, juntamente com a da S.A.L.A; já o do A.L, 10min a frente, e ainda atrasado: P.Q.P.
Estou entre jornalismo e publicidade em razão maior de escrever. Na livraria muitos são formados pela academia, outros não, e comprovei/e comprovo que a principal diferença (em vantagem nossa) para os vendedores da concorrente é a humanidade. Aqui somos mais humanos, mais abertos e dispostos a ajudar, temos mais ímpeto. Lá são mais robotizados, padronizados, tipo reis da cocada e, se não estou enganado, eles próprios frizam cultivar essa animosidade, como diz o Brown: “O que ele quisé nóis qué, vem que tem; O que? Eu não pago pau pra ninguém...”; lembro das vezes em que os jornais ou revistas foram entregues invertidos e algum deles teve que vir buscar, mesmo (em uma das vezes), sendo bastante coisa e pesada, não queria a caixa com logotipo. Era para facilitar. No fim levou. Vai saber qual mandinga fizeram...
Indo ao ralo, duas tias conversam no micro-ônibus. Tia 1: “Até que enfim ponharo ônibus grande aqui”. Tia 2: “Ééé”. Tia 1: “As coisa tá miorano”. O itinerário é de bairros chiques e muitas tiazinhas e tiazonas fazem trabalhos para os patrões/amos. Linguajar típico não deixando de ser sabedoria popular. Realmente as vãs estavam super-empanturradas, mas o problema é o excesso de pessoas, e conduções maiores não resolvem muito.
Mesmo horário de ontem.
Uma correria lascada. Terminar de arrumar a bagunça, fazer um encalhe, fazer o outro e só depois começar a conferir o que chegou. Só quando vem Contigo, Caras, Quem, Istoé Gente já confiro essas logo de cara, ou quando algum cliente indaga se já chegou tal título. E justamente agora vem alguém nesse ensejo. Pego o pacote fechado com dez e sirvo diante da pessoa que diz: “Ainda tá quentinha!”, mas não: eu mesmo já cometi esse erro. Sabe-se lá quanto tempo se passou desde a saída do forno... Só jornais têm essa informação.
... Tem quem passe olhando uma por uma como quem esperasse um sinal divino que indicasse a capa certa, a salvadora. Acho que a maioria desses não paga o dízimo, lê no sofá e deixa lá para recolhermos. Inveja de quem bate ponto, tanto dos que vão passear quanto dos trabalhadores de outras lojas. Ficam olhando o pedreiro fazer a massa, averiguando, dando pitaco com o olho, todo o santo dia. Eles – os clientes – vão ali por lazer, enquanto nós empregados obtemos o pão.