domingo, 24 de maio de 2015

Pontos finais que nunca terminam

O fim da linha é antes do ponto final. E quem lê a vida ao seu modo decide. Ponto final de linha de ônibus, sofregamente, no apinhado de gente, cheiros, odores, olores, histórias que têm seu valor íntimo, que talvez se perca no público, em púlpitos, ou pontos finais de linhas gramaticais, literalmente.

Como um homem de carnes fartas que bateu a moto e se estatelou no chão, e, depois do acontecido, o busão passou por ele sem nem tchum, seguindo o itinerário.  Quase simultaneamente à morte de milhares no Nepal. Enquanto as cinzas do vulcão do Chile coloriram de rosa o cair de tardes no interior do sudeste do Estado de São Paulo...

Uma engrenagem torta, torpe, onde cada vida vale muito ao avistar um pôr do sol e não vale nada quando surgem desastres. A humanidade vai junto. E fica.

Hipocrisia é tampar o sol com a peneira, como se os raios do Astro-rei não pudessem atravessar as nuvens cinzas, clareando a situação, expondo o encoberto, dando luz ao que não tinha bom tom, ou dando sobrevida ao que já era vivaz.

Descobre-se o descoberto. Opiniões a torto e a direto, de esquerdistas direitos e direitistas tortos demonstram o desejo que todos têm ainda hoje de ‘descobrir o Brasil’, como quando alguém diz o óbvio. Ululante. Morre-se tanto aqui quanto acolá, é inerente, pungente, latente, cada pulsar de novo dia é o início do sepultamento dele mesmo. A esmo. Mesmo em Londres, onde as cores são soturnas e a Rainha tenta aliar a presença de espírito à fenomenologia de expressão da matéria física.  

Não é motivo pra encostar num poste e se prostrar. É um valorizar que nenhuma casa da moeda ou bolsa de valores pode mensurar ou fazer oscilar. Tem que ser sempre válido. Na subida íngreme ou na descida tal qual. Ponto final? Fim? Nada disso. Tudo isso. Isso. Enquanto não se encontra.