domingo, 31 de outubro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 3

4 de janeiro – segunda – 7h15 (Pra mim ainda madrugada), o alarme... Quando vejo: 7h45. “Ói nóis tra veis”. Faço tudo como habitualmente, hoje não tão igual. Fui dormir ontem às 3h e ainda acordei no meio da noite pra ir ao banheiro. Essa insônia incomum, acho que por ter dormido muito na noite anterior “fazia tempo que não dormia oito horas de sono...”, e também por dois copos de coca-cola bebidos após a janta. O sono é grande, o olho vermelho. Às vezes penso que o invólucro do meu olho nunca mais ficará branco, e invejo os/as atores/atrizes, músicos/músicas, os caras do “Bluemangroup”, que sempre estão com eles límpidos como a neve. Com certeza dormem bem... Mas ai tem o ator negro superior de Olívia Dunham em Fringe, que também faz Lost, tendo posição de destaque nas duas séries, e seus olhos dele são vermelhos, em algumas partes até negros... Um segredo que só os 4.400 resolveriam, mas a série acabou.
Chego 9h e... Dêem-me um desconto; ainda não entrei no pique do novo ano. Tenho que entrar. Hoje, tudo volta ao normal: às segundas e terças pagamentos de boletos, envios de e-mail, separar todas as revistas que vão embora no encalhe do próximo dia, recolher as que estão espalhadas, conferir e expor as que chegam, o que faz as horas de trabalho passarem rápido, apesar de muitos passantes acharem que só estou pra lá e pra cá com revistas na mão. "Pensam que é fácil, né?".
Eu, nem havia cogitado nada sobre. E pra complicar, há dois meses coloquei o aparelho ortodôntico nos dentes. Como postei na net: “Com ferro nos dentes pra tentar ser menos ferrado”. Pelo menos a bolacha wafer de morango que sempre foi minha refeição em horário de trabalho se adaptou bem a nova "dentadura".
No corredor, na pausa lanche, passam por mim duas garotas com quem trabalhei junto em 2.005 em uma loja de lista de presentes para casamento no mesmo shopping. Àquela época, depois de dois meses de trabalho sai, e imaginava nunca mais voltar. Cinco anos depois, elas ainda estão aqui... E eu estou onde?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O nublado céu azul de Serra

Assumiu-se um outro lado, inverso e contrário do que o que se impregnava por grande parte da mídia. A defesa do vermelho. O cinza céu azulado.

Saiu na capa de uma outra revista semanal da semana retrasada, a Istoé, falas do candidato Serra, do mesmo modo como fez a Veja, de um lado dizendo que conhecia o já afamado Paulo, e do outro dizendo desconhecer. Diferente do outro enfoque, pegaram duas frases do mesmo ano, o nosso quase findo 2010, em épocas das nossas quase terminadas eleições. Desse modo, não há contexto que o salve; há sim ou uma falha de memória, ou um descaramento total.

Como o Cérebro – parceiro de Pink nos desenhos animados – que sempre queria conquistar o mundo, formulava planos mirabolantes e nunca conseguia, ou como o time do coração do dito citado, que alviverde nunca ganhou o mundo fixando um estrela amarela no peito, seguem as tentativas desse de chegar ao lugar maior, ao topo, ao cume, mas está derrapando em suas próprias pernas. Como agora, depois da encenação após ser atingido na cabeça onde suas intenções pululam por objeto ínfimo, e tentar dar notoriedade máxima ao fato.

Sobre a defesa, e a coroa da moeda dos fatos resta a dúvida: Realmente a posição foi assumida por ideologia, ou será que, além disso, surge a vontade de cumprir a defasagem que o nicho de público avesso as explanações direitistas em uma revista de enfoque mais popular necessitava?

As duas coisas, presumo. Nesse caso o meio faz jus ao fim.

Em um artigo foi dito que estão querendo fazer uma divisão simplista entre pobres e ricos. Então não existe? O modo como batem, capa após capa, matéria após matéria, mostra que a classe dominante sente seu poder menor quando o povo assume outros patamares de vida, e de classe. Uma divisão.

Não existe o maniqueísmo bem x mal, que alguns apregoam. Existem visões de mundo e de pessoas diferentes, e nas capas iguais no modelo e na intenção, cada uma defendendo um devido lado, além das diferenças das cores e das frases, uma mais se defende contra os ataques sem número, e dá o contra-ponto.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 2

3 de janeiro – domingo – 10h30 Horário bom de acordar. Fui dormir às 2h00 da madrugada e meu organismo reage melhor. Hoje entro às 13h00, ai consigo fazer um pouco o meu ritmo natural. Há tempos não dormia oito horas de sono (nas últimas três semanas entre natal e ano novo trabalhei sem nenhuma folga e aos domingos o shopping estava abrindo em horário de semana), mas o time do sono já esta regulado para acordar mais cedo e não deixa que a noite seja ininterrupta then, surgem alguns acordares no meio do sono. Tomo café tranqüilo, coloco um queijo no pão, tenho como esmigalhá-lo melhor no meu método de comer com ferro nos dentes. Bebo 500ml de café. Saio para a rua sob um sol a pino do inferno, encontrando logo uma sombra para esperar o ônibus que não tarda. Sempre durmo tarde e só quando acordo mais tarde que fico um pouco menos pior – em relação ao sono – e esse dia é domingo (no esquema normal não fim de ano) ou quando estou de folga (algum dia da semana quando trabalho domingo). Ai, coloco um livro na algibeira e vou dentro da condução tentando aprender com os mestres “in-loco”. A bola da vez é o livro de Contos Vol. I de Hernest Hemingway . O meu auto-presente de natal. Do autor, só li Paris é uma festa, achei interessante, só não despertou maiores sensações. Estava entre O Velho e O mar e esse mas, como no gênero conto pode-se discorrer sobre um assunto ou situação em menos espaço, optei por esse. Li até agora um conto: Interessante. Eu quero trabalhar forma e conteúdo escrevendo, e contos por serem menores são mais apropriados para tal tarefa, escrevê-los ou lê-los, se formando um escritor ou se firmando o caráter de uma pessoa. Fiz um ano e meio do curso de Letras e o que me desgostou foram as muitas matérias e temáticas voltadas para a educação quando o que eu queria/quero, era/é escrever... Entre a possibilidade de pegar umas aulas como professor eventual e ser levado pelo barco sem um mínimo de dom pro ensino ou sobreviver no agora, resolvi ficar só no trabalho que não é a coisa que eu quero fazer até a morte, mas me dá fragmentos de vida.
Quando passo em frente às bancas no centro, olho os títulos e conheço quase todos, os que não tem na “minha banca” já vi em outra quando comprava algo, ou só folheava quando não entrava dinheiro no cofre – vide debaixo da cama.
12h30 Chego meia hora mais cedo. Quero ler a matéria do Mano Brown que saiu na Rolling Stone Brasil mas não dá tempo. Separar as revistas pelos seus setores: casa, moda, variedades (fofocas), variedades (variedades), carros, informática, decoração, receitas, importadas, e.t.c..., e tocar fazer as notas, que são muitas, pois no final de ano o sistema ficou uma semana em manutenção, e elas se acumularam.
Sento no computador que faz parte do quadro dos caixas, o número 1, que tem a placa de preferencial, e muitas vezes sou interrompido no meio dos afazeres. Sentam outros dois operadores nas máquinas ao meu lado e cumprem a defasagem que a placa me faz fazer. É tipo uma banca de jornal dentro da livraria, onde o responsável pelos periódicos é quem trabalha nos periódicos (abaixo do gerente, que foi promovido recentemente; é mais novo e mais antenado; é corinthiano, mas apesar disso é gente boa, então não preciso cantar todo dia “Bebete Vambora” como Jorge Ben Jor. O anterior era como um símbolo da loja, já está na rede a mais de trinta anos. Foi transferido, menos por vontade, mais por ocasião, e assim segue), a loja, a banca. Dar entrada, dar saída, fazer as notas, funções agregadas que são intrínsecas a periódicos. Num domingo tumultuado onde vendedores atendem vários clientes ao mesmo tempo, ao me verem sentado fazendo as notas, se perguntam (e me perguntam) o que eu estou fazendo ali?: Uma coisa que sou pago pra fazer e ninguém irá fazer por mim! Nesse caso, muitas acumuladas desgastam. De repente penso como Lázaro Ramos em “O Homem que copiava”, que o meu trabalho qualquer pessoa faz, e pra dar porque ao relato, sigo a ideia de um diretor de cinema que não lembro o nome, que toda vida filmada por um dia inteiro é matéria para um filme. Sigo.
Nos domingos trabalho sete horas com meia hora de almoço. Na semana são seis horas com quinze minutos de pausa. Entrei às 13h saio às 20h e, como a fila está mais sossegada, compro o CD de Arnaldo Antunes “Nome” e a revista “Conhecimento Prático: Literatura”. Arte esta sempre em pauta, mas falta tempo.

domingo, 17 de outubro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 1

2 de janeiro – sábado – 7h15 (Pra mim ainda madrugada), o alarme do relógio apita. Aperto o botão e o deixo de novo calado. Viro para o lado. Mais cinco minutos – às vezes até mais um começo de sonho. Quando vejo: 7h40. Correria. Banho. Comer o pão com manteiga partindo na mão pedaço por pedaço em razão do recente aparelho nos dentes, sorver o café preto a goles de enchentes de verão, passar a roupa, limpar os dentes (trabalho nunca tão árduo), enxaguante bucal. De casa até o ponto do ônibus a passos longuíssimos até pra mim – que tenho 1:90m sendo que 1:00m só de pernas - levo um, no máximo dois minutos, e quando dou sorte pego a condução derradeira. Assim, completo praticamente um ano na Revistaria de uma Livraria.
E não tem jeito: Sei quando estou atrasado encontrando as mesmas pessoas no itinerário, e quando estou no horário topando outras diferentes mesmas pessoas. E já fui recriminado pela falta de pontualidade, mas quem me chamou na chincha foi labutar em outros ares, desgaste natural. Eu, pra não me desgastar demais com os superiores, me esforço e estava conseguindo manter uma rotina de britânico. Estou indo contra o meu relógio biológico. Sei que no final ele sempre vence.
Às 9h13 chego na livraria e bato o meu cartão. No horário ou fora dele sempre bato o meu cartão, um funcionário meio fora dos padrões que quer mantê-los de alguma forma. Na virada de ano fiquei acordado até às 6h00 e dormi pouco. No dia primeiro, dor de cabeça, ressaca da esbórnia. E nem foi tanto, nu’m ambiente familiar, tocando um samba no meu violão, bebendo cerveja com os comparsas musicais.
Como o povo das distribuidoras quis emendar o feriadão, as revistas semanais, Veja, Época, Istoé, Istoé Dinheiro foram entregues na quinta dia 31, então, teoricamente, não teria muito que fazer no sábado, a não ser atender os clientes a procura de algum periódico, quando possível, a procura de algum livro, CD ou DVD. Mas surgiu uma remessa de revistas importadas para dar entrada no sistema, títulos como Vogue, Harpeers Bazaar, Rolling Stone, Billboard, Popstar, então há mãos na massa, ou melhor, nas capas. Aproximadamente às 13h a encarregada incumbida de estrear o ano no comando da loja me delega a função de operador de caixa, enquanto uma das titulares do posto vai almoçar. Como já havia terminado de cadastrar uma das notas (de três), fui sem pestanejar. A fila estava grande, o povo, o consumo, nada para. No começo me embanano um pouco nas funções, só que logo me lembrei, só passam em crédito ou débito. Isso facilita.
Às 15h e alguma coisa vou embora. Seis horas trabalhadas. Ia comprar um CD e uma revista; a fila vira o quarteirão...

Diário: Na Revistaria de uma Livraria

Inspirado pela Revista Piauí, fiz um diário do meu trabalho na revistaria, na verdade, registrei alguns dias do primeiro mês desse ano corrente de 2010. Com o fim próximo (do ano, e não se sabe de quê mais...), fica a vontade de deixar vir à tona o que àquela época foi constatado. Até cheguei a enviar, pra tentar uma publicação, mas não aceitaram. A justificativa era ser a sessão ou para quem nunca tinha escrito nada antes, ou pessoas renomadas que eles convidavam a escrever. Não me encaixo em nenhuma das categorias. Segue agora pelo blog, nove capítulos dessa saga.

domingo, 10 de outubro de 2010

10 do 10 de 10

10 do 10 de 10. Ainda moro no número 10, da antiga rua 11. Estou contando quase 3 x 10. Estou contando.
Todos contam. A moça afirmou ser às 10 horas da manhã do dia de hoje a simetria ideal para o nascimento do filho, cabalisticamente falando. Eu já contei, cantei, o 08 do 08 de 08, e o 09 do 09 em 09, mas não tinha prorrogado minhas somas e subtrações até a data atual.
O certo é que completei mais uma primavera, no último dia do inverno, no último dia de determinado signo.
Gosto de simetrias. O mundo é assimétrico e parece que nele sempre apareço como um “noves fora”. Divido-me: Aquele que quer sempre mais e o outro que só é subtraído, em cada situação.
A data símbolo, hoje, agora, sinônimo de mudanças. Todo agora tem que ser.
Nas divisões de lados, ideias, opções, determinada liberdade sempre excluirá outro tipo dela. Digo: O que se faz não determina se as venturas não se tornam par. Dizem: o livro de São Cipriano tem maus agouros; só de abri-lo emana vibrações ruins. Pro iníquo agir é preciso ter fé. No compasso da descrença. Meu sobrenome era pra ser Cipriano. Faltou o registro.
Nas 24 horas do dia durmo no máximo 6. Não sonho, e se sonho, não lembro. Fora da vigília, na ativa, ai sim, os pensamentos se transformam em imagens, na intenção de juntar 2 corpos: 1 + 1.
0 não vale nada. Com 1 do lado esquerdo vira 10. Se logo ao lado direito colocarmos 5 zeros é milhar, ai já é mega-sena. Ganhar uma bolada e fazer o que bem entender com o resto de vida que precede.
80, 85 é estimativa comum. "Não confio em ninguém com mais de 30...".
10 do 10 de 10. Que venha o amanhã.

sábado, 9 de outubro de 2010

O que Dilma disse ou não disse, e o danger.

Quem nunca disse algo de que se arrependeu depois? Quem nunca mudou de ideia? É lógico que, quando a pessoa é notória, é pública, tudo que ela diz é tido como pedra, e nada esfarelará. Agora, tentar estraçalhar a imagem de alguém, tirando uma frase dita num contexto, colocando-a separada, sem o amparo da circunstância, é o mesmo que tentar edificar um prédio com areia de Sérgio Naya.
Quando, hoje, uma capa surge com uma repartição no meio, e uma frase em branco com cor vermelha de danger ao fundo, e do lado inverso, uma frase negra sobre fundo branco, certeza é a intenção de desfazer a imagem que quer construir a pessoa em questão: Dilma. Como se ser contra o aborto agora, época eleitoreira, fosse errôneo, já que antes, no avesso da capa, em 2.007, ela dizia que era a favor da descriminalização. Pra frisar, o lado que fica de pé é o da afirmação avermelhada, que não deixa de ser em favor da vida, quando várias delas são postas em risco, pela situação de quem não pode pagar, fazer mesmo assim, correndo riscos; e quem pode faz comodamente, com toda a tranquilidade.
Em outra capa, de uma revista Carta, sita-se essas atuais peripécias, mas argumenta-se a falácia de falso moralismo e dogmatismo cristão, quando na verdade, na vida real, uma em cada cinco mulheres já efetuou essa prática, muitas delas sem o mínimo necessário para exercer esse ato.
É um intento.
São lamentos.
Questões cruciais postas à prova. O fogo que queima é avermelhado, mas do próprio fogo surge luz, queimando a casca, o invólucro. Como diria Nietzsche: “torna-te quem tu és?”. Para isso, é preciso nascer, crescer, e multiplicar, no entanto o que fica dito, de uma forma ou de outra, sobre os assuntos citados, quebra alguma dessas fases.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Pra me redimir

Por falta de postagens na semana que passou, tento me redimir com um poema e dois contos.

domingo, 3 de outubro de 2010

Um tanto de tudo

Quero ser um tanto de tudo ao todo
Quero ser um tudo, todo, tanto
No entanto, o quanto de tudo
Que tenho em meu todo,
Não é tudo, nem tanto, que o meu todo precisa
Todos são tantos, não sei se são tudo
Em baixo do toldo não vemos tudo
Falta um tanto em cima do toldo
Quem te dá?, eu não te dou
O tanto, tudo, que precisa por um todo
A tinta tanta que tonta o seu tolo nariz
É o mundo, e não é tudo
O planeta é abaixo e a galáxia acima do toldo
Tento tudo para o todo ser mais tanto