sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cigarrais

Outubro. As cigarras cantam. Cigarra, um nome feminino. Outubro é o mês rosa. Feministas não fazem distinção de cor. O rosa pode ser uma variação do vermelho como sinal de atenção, a atenção que todas as mulheres devem ter às mamas. As cigarras cantam. Dizem que não é a hora, mas elas sabem quando é. Na verdade ninguém sabe qual é a hora, devido aos diferentes fusos horários e também em razão do horário de verão que recentemente voltou a vigorar em alguns lugares, se mantendo ativo desde o seu início de fato no Brasil, na década de 1930, como cantou Noel em 'Por Causa da Hora'. O Noel de vestes vermelhas, barbas brancas que incentiva os pais a comprarem tudo que as vitrines expõem está chegando com suas renas caricatas, de araque e sem arranque, seus anões salva-programas-de-humor-ruins, aquele sino que é sina para muitos, badalando ao lado do saco de bala. Está próximo. O ritmo é sabido. Da pra ouvir a música até tampando os ouvidos. As cigarras não pensam em ritmo. Fazem um aquecimento, como se batessem um brinquedo de bate palmas plástico, como se já prenunciassem o sucesso de crítica e público de antemão. O canto que emitem é apenas em um tom, fixo, rígido do começo até o fim da emissão, mas podendo oitavar, ‘semitonar’, ‘sustenir’ ou ‘bemolisar’ de uma performance solo para outra - poderia se supor erroneamente que isso é música atonal, - e mesmo sem conhecimento de compassos é possível perceber um certo andamento no som que emitem. Época de cópula. “Êxtase no ato da cópula. É isso! Essa é a verdadeira essência e cerne de tudo, a meta e a finalidade de toda a existência”, aforismo de Schopenhauer. O macho depois que copula morre, e a fêmea depois que põe os ovos, idem. Filosofias levadas a sério. O barulho e o silêncio que emitem (silêncio também é música), servem para gracejar com seus pares, como também são indicadores de chuva (e não de tempestade).  No Sul do país cai o mundo sem precisar de qualquer inseto ou animal para anunciar, apenas com privilégio para os que nadam, já que mares são formados onde dantes não os havia. E o líquido que cai das árvores quando a sinfonia é emitida não é de prazer pelo canto ou pela relação firmada, é apenas um conforto íntimo sem conotações - se é que isso possa existir. Famílias acostumas à força das águas teimam em resistir, esse é o instinto mais primário de qualquer animal. Buscam energia no simbolismo que existe além das nuvens, no Ser que comanda o Universo, ou, inverso, nas pessoas que se desdobram em ajudar os próximos como a si próprios, e quem vê de fora esses atos bota fé na humanidade, a despeito de qualquer fim de mundo que qualquer criador possa planejar para suas crias. A descoberta de água em Marte pode ser o indício de que sempre vai existir um recomeço, mesmo na pior das hipóteses. Destruir florestas a esmo é um mal, antônimo de bem. A madeira gera instrumentos utilizáveis em vários âmbitos, isso é bom, antônimo de mau. Instrumentos musicais amenizam a vida, é o ‘Nó na Madeira’, né, João Nogueira?!: "A cigarra quando canta morre, e a madeira quando morre canta...". A caixa acústica de um instrumento de madeira pode simbolizar um caixão. Um cigarro para não pensar nisso não... Ou sim.