sábado, 27 de dezembro de 2014

Um pouco de tudo e tudo de nada

Um filme sem continuação. Preserva-se o gosto de quero mais pela eternidade. E que gosto tem o gosto de quero mais? Gosto de quero mais! Quem gostou assiste de novo, na memória. Quem não, deleta do HD, busca novas películas para emoldurar a pele, os ossos, o raio que parta essa fita, esse disco, coloque no raio duma bicicleta para apagar tudo que foi gravado. Raspa. Risca. Estar em cena é risco. Arrisca não seguir à risca a marcação pra ver só no que vai dar... Perde o foco de atuação. Frases improvisadas. Risadas de medo, choros alegretes, chorinhos, chorões, fazendo trilha para a mountain bike da vida do triatleta sedentário que de coringa virou carta fora, vinte duas vezes estourado no vinte um, até trinta e três, quem sabe? Nada sabe quem segura a caveira na mão e pira, ou pensa que fazer pose de pensador é pensar. E a porra da câmera filmando na rua; o segurança do banco seguindo com o tripé a sequência do transeunte que só exerce o seu papel, atrás daquele paquete que poderia ser de papelão; e outros querendo retirar seu equilíbrio de três pés. Andar é dois. Raso. Viver é três. Um em pé. Colocar a cabeça pra fora d’água é apenas respirar. Quatro é equilíbrio para medir até que ponto foi o efeito da manguaça. Num tropeço na piscina. Chave de condução que foi pro ralo, depois de um ano de ralação. Pronto pro próximo ponto. De ônibus. Final. Tem os que são circulares. Rodam como barata tonta. Não têm epifanias de Kafka. Só comem. E como! Asa de qualquer coisa frita em um domingo à tarde. Sentar num formigueiro para a digestão acelerada. Quem acelera é o motô, achando que lida com boi, e é só saco que bate no banco quando chega a lombada, acabando com o futuro de futuros motôs e outros que baterão o saco no banco. Féla! Nenéns não farão mais “Kuti, Kuti”. Cuspindo veneno de cobra no catarro. Sem barro pra moldar ghost. “Gosthamuitho” ainda é pouco. E se o pouco com ele era pouco mesmo, pra que ficar se poupando? Voar pelo vidro na batida e bater no poste em cabeçada pode fazer uma luz acender. Em vida envidraçada. O vermelho brilha na luminosidade obscura. A vida dura dura. Bastante. E mesmo morando no sul chegará a comprovar que rapadura é doce, mas não é mole.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Tudo e nada

A justa medida entre tudo e nada. Difícil. Quando não se tem nada, dá-se a cara à tapa sem pestanejar. Quando se tem tudo, uma pedrada ganha o peso de uma pancada com lajota. O nada leva a buscar o tudo com todas as forças possíveis, imagináveis e até outras ocultas. O tudo estagna. Cinco dedos são ambíguos. São tudo e são nada. Uma mão comum. Igual a todas. Para quem perdeu algum em uma das bigornas da vida essa contagem é um todo impossível. Por ora. A ciência não avançou a ponto de a regeneração ser uma verdade absoluta. Enquanto isso tê-los todos os torna imperceptíveis. Não se nota. E a mão fechada para dar ênfase à raiva em busca de tudo assume diferentes conotações. Quatro dedos ou menos. E mesmo os cinco mudam de intensidade, de tamanho, de direção, em suma, de convergência. Os adeptos do nada os perderiam todos se o tudo coubesse afinal apenas em uma das mãos. Olhar na face do mal e sair vitorioso. Vencendo a maldade com maldade, mas não absorvendo o mal no âmago. Se adequando às circunstâncias. A chaga momentânea sarará. E tudo terá valido a pena. Passos para frente e para trás não significam rumos. Podem ser apenas dança. Mexer os pés conforme o ritmo. A emoção é necessária para sentir o clima. Quem comanda é o cérebro, a mente. As sensações são falhas, podem mentir. E que cada mentira dita mil vezes não assuma vida própria. Às vezes não se toca o que se toca, não se vê o que se vê. O corpo ferido pelos embates sempre carregará marcas. Para sempre. E talvez achar que uma pedrada foi pancada de lajota pode pela força do pensar deixar a marca na pele maior do que é. A ferida pode mostrar carne. Poder pensar sobre o nada já cristaliza que não se está mais no nada. Um estágio. Intermediário até a chegada ao tudo. Assumindo o fim como o nada, tudo é esse momento. Difícil. A justa medida.