terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013

   Estava prostrado. Era um doente terminal. Padecia, era certo, mas isso não o impediu de ter bons momentos. Coisas simples que ficariam para a eternidade.
  Para onde ele iria era um mistério, só que não desapareceria por completo enquanto estivesse na mente de muitos. Memórias são falhas. Misto de sonhos verdadeiros e dia a dia fantasioso.
   Não teve nada de especial em relação aos que o sucederam. O que marca são os significados dados a momentos específicos. No fundo, o ciclo continuou como sempre. Idas e vindas. Coisas boas e ruins. Não era melhor nem pior. Era. Ainda é. Logo, seria, ‘já era’. Por ora rebobinava a sua fita: “talvez eu devesse ter dado um grau naquela fita...”; “já havia passado a hora de ter guarida...”.
   Seu rosto estava abatido. Alvo cansaço. Má circulação do sangue. Não parou um dia se quer no último ano. Seu único ano. Primeiro e último. 
  O lençol branco combinava com seu tom de pele. Era típico daquele momento que vinha em seguida à comemoração do nascimento de um famoso menino que viveu até os 33 de idade.
  O ano da sua morte terminava com o número 3. Prenúncio? Destino? Acaso? Não sabia. De coincidências em coincidências as suas horas corriam rumo ao derradeiro fim. Faltava pouco, ou quase nada.
   Dando-lhe as mãos, uma das enfermeiras do hospital faz a pergunta que não queria calar: “O que deseja para os que vêm depois de você?”.
   “Desejo que sejam melhores que eu. Que aprendam com os meus erros e aperfeiçoem meus acertos...”, e nesse momento, sua voz embarga e o batimento cardíaco começa a aumentar em conjunto com a profusão de fogos que brilha e faz barulho lá fora...
   ... A máquina mostra em uma linha verde o seu ritmo, que depois de ir ao pico de bateria de escola de samba vai diminuindo, diminuindo, di-mi-nu-in-do..., di..., mi..., nu..., in..., do...
   Indo.