terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Bem ou mal, nasce mais um menino deus

O casal planejou o nascimento do filho. Já estava na hora! Fizeram o pé de meia, e com trinta e poucos anos, os dois, não poderia ele deixar passar o tempo de ventre fértil dela. Quiseram. E veio. Sistema de produção que vige igual desde a concepção do segundo homem, após a perda do paraíso e do primeiro agrupamento de dois corpos com alguma safadeza. Sem berço de ouro: família conquistada com o suor do trabalho diário longe das terras onde brotavam frutos em abundância. O primogênito, que será amado pela mãe com afinco maior, ou não. Que celebrará os pais como deuses. Sabe-se lá. Poderá renegá-los. Mas nessa hora, marcas de nascença serão advindas do código genético, e às vistas, nenhuma será malfazeja. 

O casal teve mais um filho. O sexto da prole. Mais um pra chorar dia e noite porque terá pouco o que comer. Outro que apanhará dos irmãos mais velhos que inconscientemente quererão mostrar a ele que o mundo não é fácil. “Não matarás!”. Saberá a lei. Talvez seja difícil segui-la. Não necessariamente precisará ser batizado com o nome de Caim. Talvez um Judas, que trairá em troca de moedas, ou que pedirá nos sinais mendigando migalhas, centavos, qualquer coisa que ajude na compra do tóxico que amenizará o presente rude. O futuro de um nascituro é sempre incerto. Poderá ser um benfeitor para os seus pares, alcançando um nível elevado na sociedade vigente. Poderá esquecer-se de todos em seu iate. 

Tudo são conjecturas. 

E vinte e cinco meninos nascem nesse dia vinte e cinco. Tomamos dois de exemplo. Serão tratados como deuses por seus pais. Uma data pra ser lembrada. O que antes era festa pagã fará com que o valor pago por presentes seja em dobro: natal + aniversário. 

A vida seguirá. Seu dia será todo dia vinte e cinco de dezembro, data que lhe dirão ter chegado ao mundo dos vivos. Lembrará de sensações intra-uterinas e vai pensar que já tinha nascido antes mesmo de ter posto a cara pra fora e ver como estava o tempo. Só o tempo. Rei. Três reis magos amigos do pai visitarão o primeiro. A benzedeira visitará o segundo, que estará na cama que range pior que manjedoura.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

É o fim dos mundos!

É o fim do mundo em espaços abertos. Pessoas vão aos shoppings sem nenhum propósito, simplesmente vão, por ir. 

O sósia do Quentin Tarantino termina o seu cigarro na porta de entrada, próximo ao estacionamento. Sua esposa o espera. Depois da última tragada e soltada de fumaça dá a mão a ela e se dirigem para dentro. O corpo de Shrek, a camisa de um time das camadas populares do Estado de São Paulo que disputou um título de Campeonato Mundial e ganhou. É o fim do mundo dentro dos gramados.

Prestes ao fim do mundo previsto pelos Maias, o quase Quentin passeia. O seu próximo filme, Django Unchained estreará nos States no dia de Natal. Por aqui só no ano que vem. Se vier. Uma diferença de datas como a que separa os dois extremos do mundo: quando aqui for amanhã, no Japão será o dia depois de amanhã. 

O diretor e sua mulher ensaiam. Adentram o centro de compras e começam a sequência de passos do nada para lugar nenhum. Olhar vitrines, depois de terem tomado o café da manhã à tarde, em uma padaria chique do bairro granfino onde moram. Lá, uma hostess dos pães delimitava bem sua comissão de frente com uma fita abaixo dos seios. Toda classuda, exibia um porte de aeromoça com suas vestes de cor bege contrastando com os adereços marrons – vide a fita -, e, o nosso Tarantino a percebendo, gostará de tê-la no casting de seu próximo trabalho. Pelos olhares que ele percebeu dos outros clientes solteirões da padoca que esperavam seu frango assado que traz consigo o cheiro do fatídico dia macarrístico da semana, assistirão ao filme daquela bela anfitriã como assistem a carne branca que tosta dentro do vidro: como cachorros. Babando muito. Enquadra a cena, o diretor. Está de férias, o casal. Guarda na mente o take imaginado. 

O ar-condicionado quase sempre faz pessoas assarem diante dos vidros das lojas enfileiradas em corredores.

Por isso, é o fim do mundo vestido! O planeta se desgasta tanto que parece faltar roupas para as mulheres ‘cobrirem suas vergonhas’. É um atentado ao pudor. Tudo bem: é verão. O país é tropical, e devemos dar graças por ele ser abençoado com belos exemplares do sexo feminino. Vários santos. ‘São Pernões’! E não há como ser incrédulo. Ele se faz presente. Eles. Elas. Como dizem alguns, “até pernilongo respeita”, e se realmente é uma força natural ou ‘sobrenatural’, é o fim das fábricas de repelentes. 

E vivamos o hoje como se o mundo fosse acabar amanhã. E se a vida é enfadonha, sempre teremos os filmes para viver outras vidas em outros mundos. E a maior prova de que o mundo sobreviverá são os próximos lançamentos já agendados até agosto nas grandes redes de cinemas. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Os vários mundos possíveis concomitantemente

Houve um tempo em que mirabolava pensamentos esdrúxulos. Coisas tão vãs que todos o questionavam se a sua mente realmente era sã. Um pária para a família, para o bairro, até para a pátria. Não havia nenhuma filosofia. Apenas pensava assim, não sobre. O verbo haver nunca estava no presente. Talvez por muito ainda a ver. Ou apenas pelo simples fato de não ter chegado para ele o momento de ter: aquela experiência; aquela sensação; aquela vida. O que para os outros era mais fácil. Como a comprovação da gravidade pelo objeto que cai um sem-número de vezes seguidas ao chão, quando jogado. Era tudo relativo, como a Teoria da Relatividade: ele que pode ser eu, também pode ser você; você que tem um pouco dele, de mim, de todos. A conjunção cósmica que a física quântica representou em filmes, em séries, em livros. Os vários mundos possíveis concomitantemente. Os diversos ‘eus’ que habitam universos alternativos. De versos ou de prosas. Ou os lugares comuns das verdades mastigadas e cuspidas que perambulam a esfera do Pop, que não chega a ser popular, que se bifurca para lados opostos quando é mudado o hemisfério, ainda mais em se tratando de galáxias. Ele queria ser inventor. Como os grandes gênios de outras épocas que facilitaram um pouco a existência no globo pela invenção de apetrechos e sistemas, ou aqueles que retrataram o perambular dos seus pares contemporâneos pelas folhas escritas, em prosa ou verso. O adverso parece fortalecer o espírito de quem quer alcançar os espíritos que vivem. Espírito como essência e não como alma; como aura, como queira. E ele ainda segue, agora sabendo que o pensado outrora era digno de se jogar fora, e tentando fazer girar todas as engrenagens da máquina chamada cérebro, o que não o levará a ser célebre, mas esse ato o levará a celebrar uma noite de sono e de sonhos, o que consequentemente trará uma reinvenção de si mesmo no próximo sol que surgir, e tudo aquilo que não foi pro lixo das sinapses falhas, terá sido absorvido pelo âmago, coisas vãs ou não que lhe trarão sanidade momentânea.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

2

A tiazinha muito pequenina olha o passageiro do lado de cima a baixo, de baixo pra cima. O jovem com fones nos ouvidos não lhe dirige o olhar. Está fixo na paisagem, como paisagem. Teso. Tenso.
Vai ver no tempo dela as pessoas fossem mais cordiais; ou está carente mesmo. 
O que ela espera? Um “bom dia!”, “boa tarde”, “boa noite”? 
Para ele não há divisões. Quase nem dorme. Talvez seja isso: o olhar de zumbi velho em rosto aparentemente novo deixou-a estupefata e, a cada minuto, olha novamente não acreditando realmente que ele seja uma pessoa real. 
Ao sair de perto dele se benze. 
“Virge, minha nossa senhora, é o fim do mundo! Será esse o Benedito?”.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pedintes de cigarro

Quando se anda pelas ruas fumando é normal pedirem cigarros. Quase sempre os pedintes são mendigos, meninos ou homens, esfarrapados ou vestidos casualmente.

No começo é estranho. Parece que até quando não se solta fumaça pela boca, com o maço guardado no bolso, o percebem como um fumante e, ao vir o pedido, se a resposta for negativa, esquadrinham todos os compartimentos de sua roupa procurando um volume, não acreditando no não.

Dias atrás, quando neguei um pra um – inclusive uma tragada, já que tinha acabado de acender -, o dito cujo me agourou a morte pela ingestão das substâncias. 

Primeiro: não tem como oferecer uma tragada e pegar de novo sem saber por onde passa/passou a boca e os dedos alheios, sendo esse fator possivelmente mais passível de morte. Segundo: Já tive dores de consciência pelo vício, e nesses casos, sempre depois de fumar meio maço, deixava o restante com os moradores das calçadas, acreditando que como já não tinham muita perspectiva de futuro, e não conseguiriam sanar a fome tão rapidamente se não passassem os bons samaritanos da madrugada distribuindo sopa e pão, podiam ao menos ter esse prazer ínfimo, e matar quem estava matando por momentos. Já fui caridoso.

Já vislumbrei brutos, machões de galocha, investindo contra o que nega, depois da negativa, revirando as vestimentas, as mochilas; achando o maço (ou os maços) e espancando, ou mesmo acendendo um por um e queimando com brasas a pele do migué.

Para quem está parando, boa desculpa é dizer “é o último”, no fundo não se martirizando por mentir, sabendo que logo mais tragará outro.

O governo cobra um IPI alto sobre o produto. Poderia haver contrapartida. Ao invés de jogar fora todos os carregamentos do Paraguai, distribuir aos mais necessitados. Mas depois, não há tratamento a contento nos postos de saúde, nem pra quem adoeceu, nem pra quem quer parar. Ou há?

Para muitos, direitos e cigarros são só exercidos no ‘semedão’.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Rugas

Existe dignidade na pele enrugada. É a pele de quem sobreviveu. De quem aguentou a vida por todos esses anos. De quem viveu. Mesmo mais ou menos. Mais, ou menos. E como quando era criança, faz birra, agora pela vontade de ir e ficar lá, e não o contrário do começo. A sua creche são os transportes públicos em horário de pico, aonde vai por querer para compartilhar da convivência humana, demasiadas cheias que andam as conduções nessas ocasiões. E só. Foi mais firme que o cônjuge. A força da gravidade fez a pele cair, mas não o corpo tombar por completo. Calos que só serviram para sapatos mais largos. Não calaram uma voz frouxa e rouca. De cigarro ou de gasto. A gastura é a solidão. Agora com todo tempo do mundo pra dormir mais, não dorme. Existe menos necessidade. Quando havia sono, existiam os afazeres. O tempo livre parece prender. Dorme com as galinhas e acorda com os galos. E a cada ano, com a chegada de uma nova primavera, a mudança de idade parece um placar de futebol de campo de várzea, onde os números são mudados manualmente, ciclicamente o da direita, e a cada década o da esquerda, podendo chegar a três dígitos, renomeando a modalidade para basquete, se o trocador não cansar ou o jogo não acabar. Uma ambivalência de relógio de parede. Quando se ouve o eco de mais uma hora completada, provavelmente tudo estará em suspensão, como quando há mais um tento. O tempo-espaço de tentativas e erros. Um sábio de conteúdo empírico: a experiência! Expectativa de mais. Pra morrer só basta estar vivo. Pra viver também.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Semanário 4

ABORTAR O ESTUPRO SERIA A SOLUÇÃO MAIS CABÍVEL AOS SERES HUMANOS. Ao invés disso, o que se vê na atual conjuntura do mundo é um candidato à presidência dos Estados Unidos dizendo que as mulheres têm a capacidade ímpar de abortar um filho, quando indesejado. Que nenhuma das suas parentes sofra desse tipo de abuso, para que ele não precise sentir essa pimenta nos próprios olhos. Por outro lado, Julian Assange, fundador do Wikileaks – site que divulgou documentos secretos dos states, trazendo à tona a podridão deles -, se exilou politicamente no Equador, por causa da denúncia de um suposto abuso sexual cometido na Suécia. O presidente americano segue na intenção de capturá-lo. Assange nega tudo. Em resposta, num pronunciamento aberto a mídia feito recentemente, atacou o candidato a reeleição Barack Obama, afirmando ser o presidente um empecilho à liberdade de expressão. Obama, por Twitter, defendeu as mulheres, alfinetando o seu concorrente de mesma pátria, enfatizando que os direitos conquistados pelas mulheres não podem ser ignorados. Nesses casos, castração biológica seria solução, ou, cortar males pelas raízes.
O IMPERADOR QUER RECOLOCAR A COROA, PARA REINAR NO FLAMENGO. Será? Agora que o atacante da camisa 99, Vagner Love, engrenou, surge a notícia do ressurgimento de Adriano (na verdade esse texto havia sido iniciado quando surgiu a notícia da volta e da recontratação do atacante com a cláusula de risco, onde se ele pisasse na bola, seria dispensado. No momento que retomo essas linhas, ele já pisou na bola, faltando ao treino e recebendo um puxão de orelha de Zinho – ex-jogador e atual gerente de futebol do clube de regatas Rubro-Negro -, que expôs que ali ele não reinará sozinho, e que ninguém será bobo da corte). Essa decisão de recontratar Adriano é equivalente a utilizar para uma nova guerra tanques antigos, old scholl. Trombadas sempre serão necessárias na grande área. Vale mais aproveitar o lance e finalizar com precisão – o mesmo para uma carreira de jogador. Fica a dica.

PAULO COELHO FAZ LIVROS (FILHOS), COMO COELHOS FAZEM FILHOS (FILHOS). Na semana passada, Edney Silvestre foi até a Suíça entrevistar o maior vendedor de livros em língua portuguesa. Silvestre, repórter há muito tempo, ex-correspondente no exterior, se lançou na carreira de escritor. Seu primeiro livro, ‘Se eu fechar os olhos agora’, da Editora Record, foi bem recebido por crítica e público. O seu estilo de escrita, lembra o de Graciliano Ramos. Os dois, jornalistas e escritores, usam da concisão como diretriz chave dos seus livros, aliada a enredos bem construídos. Parece que a intenção dele não é vender como Coelho, mas sim, pouco a pouco firmar seu nome na Literatura – com L maiúsculo -, brasileira. Como repórter, não deve haver pré-conceitos, e de cada nova matéria a intenção é extrair o melhor dos assuntos e dos entrevistados. Fora uma das raras vezes onde o autor e ‘mago’ abriu as portas do seu escritório em Genebra. A pergunta chave era: 'Há uma fórmula para o sucesso?'. Num computador estilo all-in-one com uma tela de umas 30 polegadas, o escritor de cabelos brancos ralos e rabo de cavalo afirmou que não. Para ele, o segredo é não se prender a fórmulas e sempre se reinventar. Disse também que quando um livro empaca, quer dizer que não terá grande vendagem. O seu mais recente, ‘Manuscrito Encontrado em Accra’, foi concebido em quinze dias. Como nas parceiras musicais com Raul Seixas onde, quando as letras vinham de estalo, o sucesso era garantido. Com certeza os escritores que levam tempos burilando, melhorando, escrevendo e reescrevendo as suas obras, sabem que não é assim. Pelo menos para eles não. O que não impede que seja diferente para outros. O que ocorre é que por mais que tenha feito alquimias, ainda há algo em sua literatura que não desce para a maioria. Mas se é o maior vendedor de livros... Será a inveja do brasileiro de ver outro dando certo? Vide críticos literários e descubra por si mesmo. Ou será que há algum pacto para esse parto de ideias que jorram constantemente?

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Mal-estares

É preciso não ver. Tapar os olhos do coração. Ele que, como peneira, está furado, mas, se o que se desprende não ilumina como sol, se torna necessário deixar no calabouço do esquecimento. Para que não se torne vulto. Para que não se torna sombra. Para que essa materialização de fumaça negra que empesteia cerebelos não faça os donos das massas encefálicas perderem o entre. O por onde? O quê? que só faz sentido quando ditérios de consolo auto-ajudam seres a se moldarem melhor. Como: Passado – História, Futuro – Mistério. O que resta não é resto, pois por mais pouco que seja, é tudo. Se torna mister apagar sem medo. O que for digno de ficar já está digerido no organismo vivo. No cerne. A perdição que está no centro. Em meio ao caos dos horários de pico. Em meio ao caos dos sentimentos dispersos. Nas passagens de pedestres onde olhares são fugidios. Para não haver acidente. Às vezes batidas são necessárias para revirar carcaças. E de repente assim, capengando, se encontre o caminho de volta, ao interior, à própria casa. Salas de estar. Mal-estares. E a chuva cairá em um velório, como é clichê. E olhos molhados não verão. Mas corações sentirão. E mesmo empedrados, só pararão de sentir no dia em que os corpos em que batem forem para seus calabouços próprios. Pra nunca mais queimar o sol na cara. Nem quebrar a cara em dias nublados.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

1

O prazer perambulava pelas vias respiratórias, bulinando, fornificando. Usou o dedão e o indicador, como poderia usar um prendedor de roupa. Tinha alergia à madeira, e os de plástico eram caros. 
Um silêncio precedia. Desejos não podem ser satisfeitos sem critério. Ele é velho, o senhor. Viveu. Vivido. Não tem mais idade para se regozijar só. Quer compartilhar, deixar algo de seu. 
O horário é de pico. Há lotação na condução. 
Entra. 
Finalmente em êxtase, libera o que estava contido triunfante, num estertor em berrante: “Atchim!”. 
Compartilhou doenças, e vários o saúdam com: “Saúde!”.

Sobre 'Micrins'

Alguns chamam conduções pequenas de ‘micrins’. Muitos andam pulando de condução em condução como se não houvesse acontecido a evolução comprovada por Darwin. São coexistências momentâneas. Gente dessa espécie, seleciona naturalmente o seu itinerário. É como se já fizesse parte do próprio código genético, mas o único código a ser seguido de verdade, é o prefixo da linha. Das cenas diárias, surgem fotografias esmiuçadas em poucas linhas, nesse microcosmo da existência. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Quinas

Virar à esquerda ou à direita pode fazer muita diferença. Pra um lado, com sorte, acha-se um bolo de notas de R$ 50. Pro outro, com azar, um carro desgovernado te acerta em cheio na calçada. Acaso? Destino? Vá lá saber, ou dar pitacos... O que é certo é que Max de Castro e Fred Zero Quatro se equivocaram ao dizer que "nenhum maldito ônibus passa jamais pela história".

Nas histórias das pessoas comuns, um atraso de condução pode fazer com que se encontre alguém que de outra forma não se encontraria; uma companhia momentânea de assento pode se tornar mais, e sempre tem os causos que perambulam por aqueles corredores entuchados de gente. Como diz o personagem que pode prever as várias possibilidades de futuro em MIB 3, o ‘e se’ sempre entra em ação quando o momento é decisivo. Neo em Matrix diz não acreditar em destino pelo fato de não gostar da ideia de não ter o controle da própria vida, mas, não há como saber quando esse ‘momento’ virá. E pode ser a qualquer curva ou busão tomado, ou numa esbarrada em alguém na freada do coletivo. Pode ser. E só será quando for. Sendo assim, todo momento é decisivo, e devemos estar atentos. 

"Eu acredito é na rapaziada!". E Gonzaguinha morreu em um acidente de carro aos quarenta e cinco anos. Pouco? Muito? O suficiente? Levou consigo a vida que levava. E não adianta dizer que a força de um pensamento positivo gera um mundo melhor, ou acarreta essas novas possibilidades. Se cair a porca da roda do pneu do ônibus que sai do ponto final, como o pensamento de que ele vai passar no horário influirá? Não dá. Enquanto houver vida o mundo não acabou, portanto, "tudo pode acontecer, ou pode acontecer qualquer coisa", como cantou Arnaldo Antunes. 

Mesmo se a mente estiver anuviada de pensamentos obscuros a luz que não se previa surge e pega o peão desprevenido. O contrário também vale. E o fim do mundo continua sendo o fim do dia quando se vai para o mundo dos sonhos, para viver tudo aquilo que se sonha acordado preocupado com o pior: o fim do mês. Isso quando não se inverte a noite pelo dia e, geralmente quem faz isso, quando não é por motivo de labuta, é porque acha que desse jeito vive cada dia como se fosse o último, e pode mesmo ser, mas, enquanto não for, sempre haverá o próximo, a inconsequência acelerando o fim de todos, como se ao achar várias notas virando à esquerda, querer ver o que tinha à direita e bater de cara com o automóvel desgovernado que levará um corpo ao chão de vez, e espalhará a dinheirama pelo ar. Por um momento ficarão suspensos, flutuando, sem o efeito da gravidade, como num sonho. Mas a força da física é cruel, como diria William Bell.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

5 minutos ou 1/3 de intervalo de jogo de futebol

Cinco minutos podem desconfigurar uma configuração padrão. Podem trazer luz às trevas, breu à claridade, ou apenas insights, ou apenas darkness. E a linha espaço-tempo pode se alterar, pra vida não ser mais a B, ser a A. Ou a C, ou a D, vai depender. Como um estouro, qual o primeiro que gerou o universo, um átimo dará novas sequências aos átomos e fecundará-nascerá algo outro. Dependência. De si próprio e de outrens. Sem o primeiro fator não há mundo que valha, pois um mundo pessoal só existe com a pessoa; sem os segundos (as) não haveria sinapses para formar novas histórias. Interação que gera ação. E os momentos se desgastam. Como ao bater duas pedras para forjar o fogo. Método primitivo para a vida num mundo moderno. Logo será substituído por um modelo de ser mais congruente com o resto, padrões, habituados as nuances de conexões sem fio com o redor, que pelas forças propulsoras das vontades, os irá manejar como marionetes. Os que não, serão jogados a esmo como carne velha, comidas para eternos e etéreos urubus. Toda a calefação bipolar dos polos alterará muitas personalidades. Personagens fantasiosos não serão mais críveis. Cravos não serão mais tocados. Teclados serão acionados pela mente. Isso é muito. Não há tempo para quem quiser se contentar com pouco. Esgotos sempre surgirão quando menos se esperar. Perdigotos de gritos cairão pelos bueiros. Escarros-catarros se juntarão aos girinos. Será escroto. Basta um tchum. Shazam será só lenda. Num estalo; numa piscadela; num estalar de dedos; num vapt; 1/3 de intervalo de half-time de game de futebol não americano. Brasileiro. Sangue quente abaixo dos trópicos. Trapaças bem ajeitadas. Com jeito vai. Se isso não destruir o lar, edificará novos cômodos. Serão novos caminhos a percorrer. Novas novidades. Estradas sem redundâncias. Textos redigidos. Senhas de novos dígitos. O fel é digerível. Como saliva advinda de chiclete. Quando o papo não cola, sempre alguém cheio de nove-horas vai dar chilique, e sair à pique.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

É soda. É soja.

O mundo está por um triz. É a raspa do chifre do bode. Falta soja, sobra soda. A palavra que poderia seguir rimaria, mas não deve ser dita nesse horário. Poderá haver crianças na sala. E que tenha. Mas afinal, que horas são? 

- Mamãe, o mundo é soda?

- Não é bem isso, meu filho. É que a outra palavra você não pode aprender ainda. Mas você já tem idade pra saber que devemos preservar o mundo! Bebe seu suco! 

O mundo é soja! 

A criança fica dispersa. É hora de comer, mas tem a televisão. Para ele o mundo está por um triz: a porta da rua. E a definição de mundo é pequena, não chega muito além da esquina do quarteirão, onde fica o mercadinho, onde são vendidas diversas leguminosas. A mãe sabe que ele não irá comer esse tipo de coisa. Não custa insistir. Está com cinco anos, não sabe bem o que quer. 

Fica difícil exigir de seres humanos tão pequenos esse peso nas costas. O peso do mundo. E o mundo será deles, no futuro, tão logo. 

Bodes não passam na rua sua. Um cavalo puxa o carrinho, às vezes o próprio homem puxa. 

- Poxa! 

São os dois que por ali diariamente transitam, em meio aos caminhões, ônibus, tubos que soltam fumaças pretas e pessoas que jogam embalagens pelos vidros. 

- Filho, pega o que você jogou... 

- Mas todo mundo joga mãe... 

- Todo mundo não tem educação, você tem! 

- Depois o cara do cavalo pega mãe... 

- Não senhor! Ele já tem muito trabalho. Trabalha por mim, pelo seu pai, por você, pelos seus amiguinhos... 

Valha-os Nossa Senhora. 

O menino não sabe o que é ozônio. 

- Mamãe, vaca solta pum? 

A pergunta fica no ar, como o gás que sobe para as alturas das nuvens. 

Não pode brincar na chuva. A mãe tem medo de gripe: 

- Deixa ele, benhê, antes que a chuva fique ácida! 

O pai tem um humor negro. Por enquanto, quando cai o temporal, enchentes fazem propaganda quando estampam várias marcas de produtos diversos nas águas que correm enlameadas. 

A vida está por um triz. As mães precisam ensinar para os que chegam como preservá-la, pois se não, do mesmo jeito que animais ficam sem pastos no dia a dia, pessoas ficarão ilhadas em seus currais. 

É *oda. 

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O círculo central muda toda hora de lugar

Era certeza que o estavam tirando. Ou ele que não sabia se colocar. Obviamente duvidavam de sua masculinidade. Bastava se portar como homem, como se soubesse... Sentia que os olhares que lhe destinavam eram débeis. Vai ver estava debilitado de boas faculdades mentais. Ó. Ká. Era preciso se encontrar. Mas chegara até ali por bifurcações que não deixavam rastros, como se o mundo tal qual conhecia fosse aniquilando-se a si mesmo a cada novo passo dado. Os dardos jogados no próximo alvo iam a esmo. O círculo central mudava toda hora de lugar. Como se estivesse vivo. Um objeto animado. Um animal racional desanimado por não compreender à sua volta. A floresta ainda era bela. A princesa continuava presa. Só precisava transpor aqueles obstáculos para salvá-la. Mas será que ela o salvaria? Será que ela saberia colar os cacos do seu mundo que foram ficando para trás? Ou fariam um novo mundo com a sua prole? Tudo que queria era enxergar um palmo adiante do próprio nariz. Só enxergava o próprio. Um vesgo forjado pela circunstância. Estrábico que não fixava um ponto fixo. Se ao menos tivesse o prefixo de um SAC para ligar, ouviria as opções e escolheria falar com um dos atendentes, que rangendo os dentes não lhe explicaria nada. Provavelmente a opção nove, que cairia nove vezes e, se houvesse insistência pela décima, ouviria o que já sabia: Pouco. Ou fariam os procedimentos de praxe que na prática só solucionavam o problema até a ligação ter um fim. “Mais alguma coisa? Agradecemos a ligação e uma boa vida até a morte!”. Protocolos não serviam de nada. Deveriam ser quebrados pela sensibilidade dos corações. Era tudo questão de tempo, de clima: chuva pra pensar nas faltas e sol pra ver as presenças dos outros. Mais uma igual primavera e ficaria louco. Por enquanto, olhava por cima quem o olhava de lado, retendo o máximo de tempo a pálpebra firme, imóvel, enfática, fecundando ideias para obter o êxito, tirando da frente tudo o que o impedia de prosseguir, colocando todos os pingos de gente grãos de areia em seus devidos lugares, mostrando que os gêneros não se definem só pelo sexo, vide os ratos e leões transfigurados em homens, e ratazanas e tigresas mulheres, existindo até simbiose de masculinos-femininas, e vive-versa. Ele estava ciente, paciente, consciente.

domingo, 18 de março de 2012

Nesgas

Haverá dias em que uma nesga de rosto pela fresta se transformará num bicho de sete cabeças, quando a dificuldade se fincar no ato simples, quando o fantasioso prevalecer sobre o real. O pau-pau, pedra-pedra será chutado pelo chão em jogos ritualísticos de passagem por calçadas, na intenção de derrubar o oponente com quem se joga. Amarelinha pra quem tem conta no vermelho e não sangue azul. Aquele que vai pulando do seu quadrado ao seu quadrado, na intenção de chegar ao céu riscado, e ganhar sossego. O tropeço deita ao chão. O giz que fez as marcas riscará em volta desse e inutilizará aquele lugar de pisar. Vermes que fazem peso sobre a terra também farão sob ela. Ela deu, ela tira. Ela dá, ele tira. Mas ela sabe prender. Domínio material. Corpos vazios. Ética do jeitinho. Forçados cóxis expostos por simbiose ao ambiente. Ambíguos umbigos que se retraem ou se mostram. Piercings presos ou pintados. Mão na roda é pé descalço quando a areia é fofa. Só meias-fases de energias vitais ligadas. Logados no lesco-lesco se dilaceram unilateralmente. Macintoshes que morrem e viram sucata eletrônica. Trabalhos que matam e Jobs que morrem viram lendas. Salário digno é coisa de outro mundo. O primeiro. O futuro. Modas de viola. Os últimos. O passado. Gentes de outros modos. Não pegam mais em cabos de enxada. Assistem TV a cabo. Cabra macho está se transformando em gene recessivo. Nada está virando. Estão virando. Lembranças d’O Vira. Tacam Mamonas. E dançam com os barulhos das bolinhas, como Portugueses dançavam com o marulho do mar, antes de supostamente descobrirem as terras de cá. E depois, cansados de ver e usar as carnes que estavam às mostras, cobriram-nas com panos, que hoje são pouco usados, e os planos mirabolantes de descobrir novas terras caem logo pela já conhecida, onde tudo está descoberto, e não há cartas nas mangas, pois não há mangas. Difícil é desvendar um olhar, que consigo traz o mistério.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Semanário 3

DIFÍCIL ENGOLIR ESSE SOPA. E MESMO COM O CALDO DA LEI TENDO ENTORNADO PELO CHÃO, conseguiram derrubar o tempero do MEGAUPLOAD, e deixar a internet um pouco sem sal. Será mais difícil ainda para aqueles que já não tinham muitos êxitos em encontrar arquivos. Agora, com cada vez menos sites de compartilhamento, restam os torrents. E quando se entra no Mega, o que se vê são as letrinhas do FBI (Federal Bureal of Investigation), com os símbolos das entidades que alegam querer proteger direitos autorais. Aquela águia do Centro Nacional de Propriedade Intelectual com certeza é uma mosca que pousou na nossa sopa. Ao pé da letra, os autores são os que menos ganham nesses trâmites do produto – seja música, filme ou série -, a maior parte ficando com a Indústria. O 4SHARED entrou na onda, deletando alguns arquivos, e outros FILEALGUMACOISADAVIDA seguem a tendência. Refeição cultural estragada, podre. Democracia virtual posta à prova. Alguns estudiosos afirmam que a pornografia na rede diminui a prática de atos obscenos ou impróprios na vida real, por pessoas com certos distúrbios sexuais. Se não encontrarem os e seus filmes preferidos, a sociedade será prejudicada; será um atentado ao pudor público. É a eterna dicotomia: Público e privado. A arte, em todas as suas acepções, é feita para que uma mensagem chegue ao mundo. Coisas da vida moderna aliadas a questões fundamentais do ser.

É UM TREMENDO ‘PÉ NO SACO’ NÃO PODER MAIS SAIR DOS SUPERMERCADOS COM AS SACOLAS NAS MÃOS. E o lixo doméstico, como fica? E a separação dos produtos recicláveis? Como já se manifestaram algumas pessoas, isso é obra de quem não tem contato nem com a arrumação doméstica básica. Um cliente de certo estabelecimento se manifestou ao ser entrevistado por um repórter de um telejornal da região, na hora em que passava pelo caixa: “olhe a sua volta, tudo aqui é feito de plástico. Não acho certa essa lei!”. Concordo. Pagar R$ 0,25 por sacola é ultraje. Fui fazer compras dominicais num Mini Mercado do bairro e o dono não queria me ceder uma sacolinha: “é a lei”, disse. Logo pra mim que sempre fiz questão de levar a minha de pano de casa. Se for analisar, tenho algumas de crédito pelas tantas vezes que não utilizei as dele, anos a fio... O jeito é estocar plástico bolha pra passar a raiva. Quem tiver um estoque das ditas ‘vilãs maiores do meio ambiente e do futuro do planeta’ que racione. Quem não, que se vire, com a marca do mercado pra dentro ou pra fora. Os mais extremistas, sabendo que não têm onde jogar o lixo em casa, deixarão cair nas vias públicas, pelas janelas dos automóveis. O comércio privado economiza, lucra mais. O ser humano comum que use caixas para transportar as compras, se equilibrando dentro do busão, como verdadeiro malabarista. Uma função que cada vez mais tem que ser inata à classe menos favorecida, que precisa sobreviver no meio fio, para chegar ao outro lado.

NO BRASIL, HÁ MAIS CELULARES QUE PESSOAS. SE FOR LIGAR PRUM NÚMERO DE OPERADORA DIFERENTE DA PRÓPRIA, o preço é exorbitante. Restam os torpedos e os aparelhos com múltiplos chips. Muita gente não atende as chamadas. Talvez, dentro das inúmeras funções que os novos têm, os usuários se esquecem que eles também servem para as ligações. O básico. Como disse um amigo certa vez: “o meu celular não tem câmera, não tem internet, não tem aplicativos, mas tem crédito”. Ele pode usar para fazer ligações. Resta saber se vão atender. Eu tive meu primeiro celular em 2009. Até então, nunca achei necessário. Nunca gostei de ser encontrado; sempre quis ter autonomia nas minhas idas e vindas. Como na rotina corrida é difícil conseguir falar com alguém em casa, a melhor maneira de entrar em contato é pelo telefone móvel. Na rede mundial, surgiu uma corrente afirmando que todos os chips tinham um nome. Bastava fazer uma operação com os números e as letras do registro, e adicionar mais alguma coisa. Não me lembro dessa equação. Como de nenhuma outra. Isso seria uma forma de controle sobre os cidadãos. Quando muitos expõem vida e dados pessoais em um mundo virtual, mesmo sem isso é fácil achar alguém. "Se você sentir saudade, liga pro meu celular...".

CARLOS NASCIMENTO DISSE QUE O POVO ESTÁ MENOS INTELIGENTE por fazer virar notícia o suposto estupro no BBB, e a Luíza, que estava no Canadá. Ironicamente, ele virou noticia por ter notificado o que ele achava não ser notícia. São fatos pueris, mas as pessoas têm direito de falar sobre o que bem entenderem. Nos casos das mídias sociais, podem fazer suas próprias escolhas de temas, não se baseando tão somente no que a mídia estipula. O mundo virtual é livre – apesar de quererem com leis errôneas aos poucos diminuir essa liberdade. Fica parecendo o sujo falando do mal lavado. Como quem critica o Facebook, mas não abandona a rede social; ou aqueles que repudiam o Big Brother, mas assistem todos os dias. Cada um faz o que acha melhor pra si. Dentro da lei. Só não podem fazer leis que restrinjam as ações das pessoas no universo online. Já burlam nossos direitos básicos no mundo real, então, nos deixem ter algum alento. Dentro da lei, é claro, mas uma lei que seja em prol do bem de todos, e não que só beneficie quem tem poder, em detrimento dos menos afortunados. Daqui, da América do Sul, nas partes baixas do mundo – segundo o mapa-múndi estruturado por quem tem mais terras à vista-, conseguimos acesso a ele todo. Por que frear essa conexão, que já é tão estreita em termos de banda?