terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Bem ou mal, nasce mais um menino deus

O casal planejou o nascimento do filho. Já estava na hora! Fizeram o pé de meia, e com trinta e poucos anos, os dois, não poderia ele deixar passar o tempo de ventre fértil dela. Quiseram. E veio. Sistema de produção que vige igual desde a concepção do segundo homem, após a perda do paraíso e do primeiro agrupamento de dois corpos com alguma safadeza. Sem berço de ouro: família conquistada com o suor do trabalho diário longe das terras onde brotavam frutos em abundância. O primogênito, que será amado pela mãe com afinco maior, ou não. Que celebrará os pais como deuses. Sabe-se lá. Poderá renegá-los. Mas nessa hora, marcas de nascença serão advindas do código genético, e às vistas, nenhuma será malfazeja. 

O casal teve mais um filho. O sexto da prole. Mais um pra chorar dia e noite porque terá pouco o que comer. Outro que apanhará dos irmãos mais velhos que inconscientemente quererão mostrar a ele que o mundo não é fácil. “Não matarás!”. Saberá a lei. Talvez seja difícil segui-la. Não necessariamente precisará ser batizado com o nome de Caim. Talvez um Judas, que trairá em troca de moedas, ou que pedirá nos sinais mendigando migalhas, centavos, qualquer coisa que ajude na compra do tóxico que amenizará o presente rude. O futuro de um nascituro é sempre incerto. Poderá ser um benfeitor para os seus pares, alcançando um nível elevado na sociedade vigente. Poderá esquecer-se de todos em seu iate. 

Tudo são conjecturas. 

E vinte e cinco meninos nascem nesse dia vinte e cinco. Tomamos dois de exemplo. Serão tratados como deuses por seus pais. Uma data pra ser lembrada. O que antes era festa pagã fará com que o valor pago por presentes seja em dobro: natal + aniversário. 

A vida seguirá. Seu dia será todo dia vinte e cinco de dezembro, data que lhe dirão ter chegado ao mundo dos vivos. Lembrará de sensações intra-uterinas e vai pensar que já tinha nascido antes mesmo de ter posto a cara pra fora e ver como estava o tempo. Só o tempo. Rei. Três reis magos amigos do pai visitarão o primeiro. A benzedeira visitará o segundo, que estará na cama que range pior que manjedoura.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

É o fim dos mundos!

É o fim do mundo em espaços abertos. Pessoas vão aos shoppings sem nenhum propósito, simplesmente vão, por ir. 

O sósia do Quentin Tarantino termina o seu cigarro na porta de entrada, próximo ao estacionamento. Sua esposa o espera. Depois da última tragada e soltada de fumaça dá a mão a ela e se dirigem para dentro. O corpo de Shrek, a camisa de um time das camadas populares do Estado de São Paulo que disputou um título de Campeonato Mundial e ganhou. É o fim do mundo dentro dos gramados.

Prestes ao fim do mundo previsto pelos Maias, o quase Quentin passeia. O seu próximo filme, Django Unchained estreará nos States no dia de Natal. Por aqui só no ano que vem. Se vier. Uma diferença de datas como a que separa os dois extremos do mundo: quando aqui for amanhã, no Japão será o dia depois de amanhã. 

O diretor e sua mulher ensaiam. Adentram o centro de compras e começam a sequência de passos do nada para lugar nenhum. Olhar vitrines, depois de terem tomado o café da manhã à tarde, em uma padaria chique do bairro granfino onde moram. Lá, uma hostess dos pães delimitava bem sua comissão de frente com uma fita abaixo dos seios. Toda classuda, exibia um porte de aeromoça com suas vestes de cor bege contrastando com os adereços marrons – vide a fita -, e, o nosso Tarantino a percebendo, gostará de tê-la no casting de seu próximo trabalho. Pelos olhares que ele percebeu dos outros clientes solteirões da padoca que esperavam seu frango assado que traz consigo o cheiro do fatídico dia macarrístico da semana, assistirão ao filme daquela bela anfitriã como assistem a carne branca que tosta dentro do vidro: como cachorros. Babando muito. Enquadra a cena, o diretor. Está de férias, o casal. Guarda na mente o take imaginado. 

O ar-condicionado quase sempre faz pessoas assarem diante dos vidros das lojas enfileiradas em corredores.

Por isso, é o fim do mundo vestido! O planeta se desgasta tanto que parece faltar roupas para as mulheres ‘cobrirem suas vergonhas’. É um atentado ao pudor. Tudo bem: é verão. O país é tropical, e devemos dar graças por ele ser abençoado com belos exemplares do sexo feminino. Vários santos. ‘São Pernões’! E não há como ser incrédulo. Ele se faz presente. Eles. Elas. Como dizem alguns, “até pernilongo respeita”, e se realmente é uma força natural ou ‘sobrenatural’, é o fim das fábricas de repelentes. 

E vivamos o hoje como se o mundo fosse acabar amanhã. E se a vida é enfadonha, sempre teremos os filmes para viver outras vidas em outros mundos. E a maior prova de que o mundo sobreviverá são os próximos lançamentos já agendados até agosto nas grandes redes de cinemas. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Os vários mundos possíveis concomitantemente

Houve um tempo em que mirabolava pensamentos esdrúxulos. Coisas tão vãs que todos o questionavam se a sua mente realmente era sã. Um pária para a família, para o bairro, até para a pátria. Não havia nenhuma filosofia. Apenas pensava assim, não sobre. O verbo haver nunca estava no presente. Talvez por muito ainda a ver. Ou apenas pelo simples fato de não ter chegado para ele o momento de ter: aquela experiência; aquela sensação; aquela vida. O que para os outros era mais fácil. Como a comprovação da gravidade pelo objeto que cai um sem-número de vezes seguidas ao chão, quando jogado. Era tudo relativo, como a Teoria da Relatividade: ele que pode ser eu, também pode ser você; você que tem um pouco dele, de mim, de todos. A conjunção cósmica que a física quântica representou em filmes, em séries, em livros. Os vários mundos possíveis concomitantemente. Os diversos ‘eus’ que habitam universos alternativos. De versos ou de prosas. Ou os lugares comuns das verdades mastigadas e cuspidas que perambulam a esfera do Pop, que não chega a ser popular, que se bifurca para lados opostos quando é mudado o hemisfério, ainda mais em se tratando de galáxias. Ele queria ser inventor. Como os grandes gênios de outras épocas que facilitaram um pouco a existência no globo pela invenção de apetrechos e sistemas, ou aqueles que retrataram o perambular dos seus pares contemporâneos pelas folhas escritas, em prosa ou verso. O adverso parece fortalecer o espírito de quem quer alcançar os espíritos que vivem. Espírito como essência e não como alma; como aura, como queira. E ele ainda segue, agora sabendo que o pensado outrora era digno de se jogar fora, e tentando fazer girar todas as engrenagens da máquina chamada cérebro, o que não o levará a ser célebre, mas esse ato o levará a celebrar uma noite de sono e de sonhos, o que consequentemente trará uma reinvenção de si mesmo no próximo sol que surgir, e tudo aquilo que não foi pro lixo das sinapses falhas, terá sido absorvido pelo âmago, coisas vãs ou não que lhe trarão sanidade momentânea.