domingo, 27 de fevereiro de 2011

Duas brasas

Cigarro ao chão é fim inevitável
Mas os fósforos iguais não são
Aritmética, sistemática, implacável
De um sistema análogo à eleição

Os segundos, preservados, riscos-mortos
O primeiro é descartado, brasa em vida
O queimante na sarjeta em viés torto
Os queimados com seus pares suicidas

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Horas

Mais uma hora. Menos um dia. Ontem. Hoje.

Alguns aproveitam pra dormir mais, outros pra ficar mais tempo conectados; ainda há quem prefira a balada que pode ser adiantada ou atrasada. Agora o corpo tem que entrar no novo ritmo, ir ao encontro do sol ou da lua em outro fuso que foi forçado à natureza, que apenas continua o seu ciclo, horários à parte. É um ritmo. Uma fruição. Um contínuo ir e vir que não se abala com diferenças de ponteiro. Sísmicos abalos acontecem constantemente, independe de ações separadas por dado continente ou região, e suas variações de relógios, mas o humano consegue em 24 horas fazer diversos estragos. O balanço da crosta é como uma bufada depois do trago, e a fumaça é tabaco queimado. Um câncer. Uns cansam de tanto falar e tentar modificar atitudes de outros, enquanto quem faz o contrário, e gera o posterior revés tem melhor preparo físico. O ambiente é físico. O quanto de tudo também não é físico? É difícil quantificar as almas!

A claridade natural até mais tarde gera economia na utilização da luz artificial, e os recursos são preservados, quando se tem essa consciência. A ciência evolui, e quanto mais isso ocorre, há o desejo de ser mais do que historicamente até hoje se fez ser, sem marcar o despertar, deixando acontecer.

Um despertador. Hora de levantar. Antes que não haja mais chão, mais cedo ou mais tarde.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Culto semanal

“Uma semana”, ela disse. Se desdisse: “Na próxima também não dá!”

“E no sábado à noite?”, ele perguntou.

“Tenho igreja”, ela frisou.

“Hum...”, ele quis dizer: “eu já estava ansioso em ter que esperar uma semana para talvez termos um encontro, agora vou ter que ficar na expectativa até deus sabe quando?”. Pensou.

Foi dito e foi feito. Isso mesmo, como escritura sagrada. Ela, boa samaritana, disse que cuidava de crianças, ou ministrava aulas de ensino bíblico, catequese, ele não sabia ao certo. No sábado, era o culto em si.

“Então vou à igreja!”, ele propôs.

“Ah!”, ela exclamou, sem ter, ou saber o que falar.

Ele decidiu não ir. Até iria, mas o fato de ter se convidado tirava toda a intenção de chamado divino. Pelo jeito, trejeitos, atos, ela é mulher de Jesus, e ele até que estava pensando em abrir algumas concessões, tipo, beber menos, voltar a ler a bíblia, escutar algum cantor gospel. Mas não. Ela, se quisesse algo, arrumaria brechas em seus afazeres para fazerem alguma coisa juntos, ou nada.

Desse modo ele fica na mão dela. Como se quando estalar o dedo ele vai, ou quando as rugas do dedo fizerem-na ver que está perto do pai amado, o chama. Desencana. Se o chamar ele vai, mas dá uma semana de prazo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Depois de algum tempo

Depois de algum tempo, volto aos escritos, logo dois, um sobre o fim de ciclo, o outro sobre o começo de outro, respectivamente, livre para o mercado de trabalho e enfrentando as agruras dessa liberdade. Tentar postar semanalmente é de novo a meta, tentar ir me re-regrando e entrando em um eixo. Io Gio.

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. Final

Como uma revista que vai à falência e sai de circulação sem mais nem menos, sem ao menos deixar um aviso aos leitores na última página da última edição, não tenho mais meu espaço cativo na gôndola da banca de revistas.

Após dois anos vendo e vendendo capas e mais capas, comprando todo mês aquela escolhida, às vezes alguma outra por matéria que interessava, agora não vejo mais os lançamentos quando chegam, qual título tem maior saída, se bem que isso não vá mudar radicalmente da noite para o dia. A minha rotina sim mudou. Posso seguir por hora meu relógio biológico, então, vou dormir praticamente na hora em que são entregues os malotes de jornais, ou na hora em que saem de casa os motoristas e cobradores de ônibus, no ‘negreiro’, na madrugada, no nevoeiro. Mais tarde, na hora do almoço deles, pegarão em algum cruzamento do centro da cidade o jornal “Metro”, mais ou menos no horário em que eu estava indo para a labuta, quase na hora de seus respectivos almoços. Irão folhear e ler as figuras, ou ler notícias no formato de manchetes de internet, se tendo por completamente informados. Já é alguma coisa.

Eu, do lado inverso, agora que não lido mais com os fardos amarrados em cordão que chegavam todo o santo dia, de onde não sei saindo tanta informação e/ou entretenimento, várias cores, tamanhos, formatos, nomes de periódicos, agora leio mais. Antes, mais as figuras, as nuances de cores e tipografias de letras nos títulos.

Já pensei em ter uma banca minha, mas o fato de ter que madrugar (acordar de madrugada e não dormir de madrugada) é um freio, como também o desconto para consignação ser muito baixo.

O fato é que fui jornaleiro. A intenção é ser Jornalista.
       

Entrevista/Ovo Rachado


Nunca gostei de entrevistas, alguém, em um posto soberano, tentando achar as rachaduras de outro, essas que podem muito bem terem sido causadas por diversas definições de galinha. Nisso consiste a brincadeira: saber se a pessoa está apta a participar do círculo do ovo choco sem entornar o caldo. O de ouro é conhecimento de causa. Não vá para a rinha sem saber com quem vai lutar, como foi treinado o oponente, e o que pretende com o combate. Isso dá gosto para o tratador. Sem isso, o máximo que se consegue é a prata, e o segundo vencedor é o primeiro perdedor. Mais do mesmo. Mantras, como canja da já citada ave não fazem mal a ninguém. E o bico, como fica? Aberto, mas só se souber cacarejar, se não, fechado pra não entrar mosca nem sair percevejo que impregnará o ar. Sabe como é: pé de fêmea de galo é ao chão durante toda a vida, e na cara aos que envelhecem.

É possível conseguir ter um terreiro firme, onde possa pisar; é preciso sair, ir além; no meio do caminho sempre existem várias pedras, e é necessário mudar o passo e dançar conforme o batuque do outro, pois lá, com o seu, parentes que voam não farão verão, os de lá, saberão que você não é um deles e te sacarão com bicadas dizendo que não está no lugar certo.

A crista. Há crista no meio. Um olhar te esquadrinha de cima a baixo e o outro os seus gestos. É preciso ser peso-pena-ligeiro para dominar quem te domina.

Casca, clara, gema, quando não é mais um inflado para ir para a panela no futuro. Essa é a composição de todos, é o fim de todos, quando as rachaduras várias não levam a nocaute antes, sem dar o mínimo prazer de ser frito para outro, ou justamente por não ter tido nem mesmo a capacidade de se dar assim, não tendo nem o regozijo de ver outro feliz, cai, quebra, esfarela-se. Menos um oval no mundo redondo. Que gira. Que pomba. Apenas, penas.