quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Rugas

Existe dignidade na pele enrugada. É a pele de quem sobreviveu. De quem aguentou a vida por todos esses anos. De quem viveu. Mesmo mais ou menos. Mais, ou menos. E como quando era criança, faz birra, agora pela vontade de ir e ficar lá, e não o contrário do começo. A sua creche são os transportes públicos em horário de pico, aonde vai por querer para compartilhar da convivência humana, demasiadas cheias que andam as conduções nessas ocasiões. E só. Foi mais firme que o cônjuge. A força da gravidade fez a pele cair, mas não o corpo tombar por completo. Calos que só serviram para sapatos mais largos. Não calaram uma voz frouxa e rouca. De cigarro ou de gasto. A gastura é a solidão. Agora com todo tempo do mundo pra dormir mais, não dorme. Existe menos necessidade. Quando havia sono, existiam os afazeres. O tempo livre parece prender. Dorme com as galinhas e acorda com os galos. E a cada ano, com a chegada de uma nova primavera, a mudança de idade parece um placar de futebol de campo de várzea, onde os números são mudados manualmente, ciclicamente o da direita, e a cada década o da esquerda, podendo chegar a três dígitos, renomeando a modalidade para basquete, se o trocador não cansar ou o jogo não acabar. Uma ambivalência de relógio de parede. Quando se ouve o eco de mais uma hora completada, provavelmente tudo estará em suspensão, como quando há mais um tento. O tempo-espaço de tentativas e erros. Um sábio de conteúdo empírico: a experiência! Expectativa de mais. Pra morrer só basta estar vivo. Pra viver também.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Semanário 4

ABORTAR O ESTUPRO SERIA A SOLUÇÃO MAIS CABÍVEL AOS SERES HUMANOS. Ao invés disso, o que se vê na atual conjuntura do mundo é um candidato à presidência dos Estados Unidos dizendo que as mulheres têm a capacidade ímpar de abortar um filho, quando indesejado. Que nenhuma das suas parentes sofra desse tipo de abuso, para que ele não precise sentir essa pimenta nos próprios olhos. Por outro lado, Julian Assange, fundador do Wikileaks – site que divulgou documentos secretos dos states, trazendo à tona a podridão deles -, se exilou politicamente no Equador, por causa da denúncia de um suposto abuso sexual cometido na Suécia. O presidente americano segue na intenção de capturá-lo. Assange nega tudo. Em resposta, num pronunciamento aberto a mídia feito recentemente, atacou o candidato a reeleição Barack Obama, afirmando ser o presidente um empecilho à liberdade de expressão. Obama, por Twitter, defendeu as mulheres, alfinetando o seu concorrente de mesma pátria, enfatizando que os direitos conquistados pelas mulheres não podem ser ignorados. Nesses casos, castração biológica seria solução, ou, cortar males pelas raízes.
O IMPERADOR QUER RECOLOCAR A COROA, PARA REINAR NO FLAMENGO. Será? Agora que o atacante da camisa 99, Vagner Love, engrenou, surge a notícia do ressurgimento de Adriano (na verdade esse texto havia sido iniciado quando surgiu a notícia da volta e da recontratação do atacante com a cláusula de risco, onde se ele pisasse na bola, seria dispensado. No momento que retomo essas linhas, ele já pisou na bola, faltando ao treino e recebendo um puxão de orelha de Zinho – ex-jogador e atual gerente de futebol do clube de regatas Rubro-Negro -, que expôs que ali ele não reinará sozinho, e que ninguém será bobo da corte). Essa decisão de recontratar Adriano é equivalente a utilizar para uma nova guerra tanques antigos, old scholl. Trombadas sempre serão necessárias na grande área. Vale mais aproveitar o lance e finalizar com precisão – o mesmo para uma carreira de jogador. Fica a dica.

PAULO COELHO FAZ LIVROS (FILHOS), COMO COELHOS FAZEM FILHOS (FILHOS). Na semana passada, Edney Silvestre foi até a Suíça entrevistar o maior vendedor de livros em língua portuguesa. Silvestre, repórter há muito tempo, ex-correspondente no exterior, se lançou na carreira de escritor. Seu primeiro livro, ‘Se eu fechar os olhos agora’, da Editora Record, foi bem recebido por crítica e público. O seu estilo de escrita, lembra o de Graciliano Ramos. Os dois, jornalistas e escritores, usam da concisão como diretriz chave dos seus livros, aliada a enredos bem construídos. Parece que a intenção dele não é vender como Coelho, mas sim, pouco a pouco firmar seu nome na Literatura – com L maiúsculo -, brasileira. Como repórter, não deve haver pré-conceitos, e de cada nova matéria a intenção é extrair o melhor dos assuntos e dos entrevistados. Fora uma das raras vezes onde o autor e ‘mago’ abriu as portas do seu escritório em Genebra. A pergunta chave era: 'Há uma fórmula para o sucesso?'. Num computador estilo all-in-one com uma tela de umas 30 polegadas, o escritor de cabelos brancos ralos e rabo de cavalo afirmou que não. Para ele, o segredo é não se prender a fórmulas e sempre se reinventar. Disse também que quando um livro empaca, quer dizer que não terá grande vendagem. O seu mais recente, ‘Manuscrito Encontrado em Accra’, foi concebido em quinze dias. Como nas parceiras musicais com Raul Seixas onde, quando as letras vinham de estalo, o sucesso era garantido. Com certeza os escritores que levam tempos burilando, melhorando, escrevendo e reescrevendo as suas obras, sabem que não é assim. Pelo menos para eles não. O que não impede que seja diferente para outros. O que ocorre é que por mais que tenha feito alquimias, ainda há algo em sua literatura que não desce para a maioria. Mas se é o maior vendedor de livros... Será a inveja do brasileiro de ver outro dando certo? Vide críticos literários e descubra por si mesmo. Ou será que há algum pacto para esse parto de ideias que jorram constantemente?