sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Outro carnaval

Último dia do mês. Primeiro dia de carnaval (oficialmente).

Fiquei até esse exato momento em que começo a escrever essas linhas pensando sobre o que falar e buscando inspiração para colocar no papel (na tela) algo sobre essa festa popular (do povo?).

Busquei os meus antigos carnavais na mente. Já fui quando era na Av. Francisco Glicério – a principal via do centro de Campinas. Fui também ao sambódromo armado na saída do túnel Joá Penteado. Desses, não me lembro de nenhum acontecimento extraordinário que valha ser contado. Não fiz nenhum filho. Talvez tenha me aliviado das cervejas bebidas em alguma árvore, tendo assim contribuído para o crescimento da mesma. Quase o mesmo que plantar. Não escrevi um livro carnavalesco. Da tríade máxima do ditério que vale pra vida (plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho, o que Wandi Doratiotto colocou muito bem em música), nessa vida à parte chamada carnaval, fiz um ponto.

Fiquei pra trás. Como sempre ficava em relação à multidão de pessoas que corriam atrás dos trios elétricos. Por querer mesmo. Praticava uma contemplação de voyeur ou exercia aspectos masoquistas, por muitas vezes estar em determinado local no tempo-espaço por força das circunstâncias que uns julgam destino outros acaso. Obtinha prazer pelo prazer alheio, e ao mesmo tempo doía.

Haverá outros carnavais para chegar ao nível de ‘exaltação da vida’ dos outros. Esse ano mesmo, o lugar se difere. A festa ocorrerá na estrada dos Amarais, próxima ao famoso cemitério. Ao que parece os serviços do segundo vão ser suspensos em benefício do primeiro. Saramago se reviraria do túmulo (se não tivesse sido cremado) para dizer: “Eu avisei! São as intermitências da morte.”.

E a alegria pede passagem. Ela, essa entidade imaterial que pode sempre aumentar com a obtenção de bens materiais – já que se o dinheiro não traz felicidade, manda comprar -, suborna a tristeza nesse ínterim onde só ela deve reinar.

Reinem reis Momos e rainhas de baterias. Que os que tem o rei na barriga façam suas necessidades fisiológicas e se juntem às pessoas comuns. Quem for de extravasar, extravase. Pra quem vai ficar na toca, desligue a TV. Pelo menos os canais abertos. As ruas e almas estão abertas. 

Depois tem cinzas. Depois quaresma. Depois Copa do Mundo. Depois eleições. E logo menos, outro carnaval.