Último
dia do mês. Primeiro dia de carnaval (oficialmente).
Fiquei
até esse exato momento em que começo a escrever essas linhas pensando sobre o
que falar e buscando inspiração para colocar no papel (na tela) algo sobre essa
festa popular (do povo?).
Busquei
os meus antigos carnavais na mente. Já fui quando era na Av. Francisco Glicério
– a principal via do centro de Campinas. Fui também ao sambódromo armado na
saída do túnel Joá Penteado. Desses, não me lembro de nenhum acontecimento
extraordinário que valha ser contado. Não fiz nenhum filho. Talvez tenha me
aliviado das cervejas bebidas em alguma árvore, tendo assim contribuído para o
crescimento da mesma. Quase o mesmo que plantar. Não escrevi um livro
carnavalesco. Da tríade máxima do ditério que vale pra vida (plantar uma
árvore, escrever um livro e ter um filho, o que Wandi Doratiotto colocou muito bem em música), nessa vida à parte chamada carnaval, fiz um ponto.
Fiquei
pra trás. Como sempre ficava em relação à multidão de pessoas que corriam atrás
dos trios elétricos. Por querer mesmo. Praticava uma contemplação de voyeur ou exercia
aspectos masoquistas, por muitas vezes estar em determinado local no
tempo-espaço por força das circunstâncias que uns julgam destino outros acaso.
Obtinha prazer pelo prazer alheio, e ao mesmo tempo doía.
Haverá
outros carnavais para chegar ao nível de ‘exaltação da vida’ dos outros. Esse
ano mesmo, o lugar se difere. A festa ocorrerá na estrada dos Amarais, próxima
ao famoso cemitério. Ao que parece os serviços do segundo vão ser suspensos em benefício
do primeiro. Saramago se reviraria do túmulo (se não tivesse sido cremado) para
dizer: “Eu avisei! São as intermitências da morte.”.
E
a alegria pede passagem. Ela, essa entidade imaterial que pode sempre aumentar
com a obtenção de bens materiais – já que se o dinheiro não traz felicidade, manda
comprar -, suborna a tristeza nesse ínterim onde só ela deve reinar.
Reinem
reis Momos e rainhas de baterias. Que os que tem o rei na barriga façam suas
necessidades fisiológicas e se juntem às pessoas comuns. Quem for de extravasar,
extravase. Pra quem vai ficar na toca, desligue a TV. Pelo menos os canais
abertos. As ruas e almas estão abertas.
Depois
tem cinzas. Depois quaresma. Depois Copa do Mundo. Depois eleições. E logo
menos, outro carnaval.