Não
me lembro de um primeiro outubro. Lembro-me do vermelho (o filme), e do rosa (a
causa). Ainda nele, por agora. Não lembrar é lapso de memória relapsa que
seleciona fatos ao bel prazer, ou, não conta até dez antes de rodar a roleta do
que fora guardado, contando apenas até o mês nove, e no fim a bala nunca
alcança o destino no tiro ao alvo do mês posterior (dez), saindo pela culatra.
As placas levantadas pelos seres invisíveis que julgam atingem apenas a média,
sete, dando respaldo para a continuidade da disputa ferrenha dos dias. Desmembrar
de vilipêndios. A pergunta no canto do espelho cantada em fado: “Trinta e trei
e o que cê fei, véi? Ficou mais sábio?”, e a reposta sai em eco que embaça o
vidro: “Nada... Não sei nem assobiar...”. Não, não é conto de fadas. Reafirmada
a afirmação da realidade. Trinta e três. Cristos crucificados não se salvariam.
Demais até para Dimas. 33. E o menino morreu enforcado com 13. Menos 20. Sim,
sei fazer contas simples, mas mesmo assim às vezes as contas não batem. Para
alguns, bater carteira pode ser a única opção. “Credo cruz! Valha-nos nosso senhor
Jesus. Que tenha aqueles que morrem jovenzinhos...”. Não chegou à melhor-idade,
o filho do Pai — e o moleque, como muitos pelas ruas —, talvez porque alcançara
o seu ápice, e após, todo o resto seria declínio. Sabia de antemão, então
foi ser o braço direito do criador de todos no céu fabuloso. Fábula se difere
de mitologia. Os mitos de hoje em dia deixam muito a desejar se comparados aos
de outrora. Outro ponto de vista, vistas dos pontos, Casuarina. Como se pergunta
alguém em Star Trek Beyond quando começa a tocar rock'n roll para interferir
na frequência das naves que se agrupam como enxame: “Estão tocando música
clássica?”. Num possível futuro em uma das linhas bifurcadas do multiverso o
rock será clássico. Enquanto isso abóboras são usadas de enfeite na América de
lá. Aqui fazemos gastronomia. Valorizamos as caçarolas de nossos antepassados de
peles vermelhas, marrons. Comemos até o talo. Sem desperdício. “Será?”. Houve na USP, em
São Paulo, uma mostra de cinema indígena com filmes produzidos pelos nativos de
cá. Todos têm capacidade de lidar com o novo, mas é preciso preservar as
tradições. Se me disserem que “é a crise”, que “a bruxa está solta” taco fogo
no meu cabelo e saio correndo pro outro lado com meus pés ao contrário. Monto
na primeira mula sem cabeça que topar. O afro-tupiniquim do linguajar
assimilado e incorporado na normativa do português-brasileiro é um tapa na cara
da high society. Como cantou Duck Jam e a Nação Hip-Hop: “Burguesia, nobreza, elite, alta-classe, são assim que são chamados, não é verdade?”. Sociedade que ainda insiste em não liberar um
tapinha 4:20 ou em qualquer outro horário. Sistema carcerário precário que
prende em sua maioria afro-tupiniquins. Muitos homens brancos não têm mais o branco
dos olhos branco. Enquanto isso, o sorriso amarelo dos bancários vai se embranquecendo
com o lucro que obtêm. Bem. João Antônio deu mostras da honestidade do jogo do
bicho em Ô, Copacabana! Uma instituição genuinamente brasileira que por mais
que esteja na alcunha da clandestinidade, da contravenção, tem idoneidade
perante seus pares. É a identificação mútua de quem vê seu semelhante do outro
lado da rua (ou do outro lado da tela) e se identifica, cumprimenta, saúda,
amigavelmente. Não é uma calçada de Copacabana cheia de gringos vindos para o
fim do ano exibindo a sua vermelhidão de pele tostada, sua linguagem quadrada,
sem graça, gostando da graça das meninas daqui, fazendo turismo... Com elas.
Nem todos. Nem todas. Nada é absoluto. Abóbora é todo aquele que fica com cara
de tacho diante de qualquer despacho. Oferendas a Nanã, e que ela não recuse. “Doce
ou travessura?”. As fãs dirão que a voz do Rodriguinho (ex-Travessos) é doce... Melhor é doce de banana retirada diretamente do bananal, mais doce do que o doce de batata doce. Antes fosse... E me rendo. Até novembro...