22: patos imersos em lagos. Quem paga? Já vi muitos pagando uma e logo após saírem gatinhos, miando fininho, filhinhos, correndo para debaixo das patas das suas mamãezinhas. Eu pago patos, mas só pito, solto fumaça pela boca e pelo nariz, louco sentado na linha do trem que é só de carga. Pesada. Não é só série. Pesos são em série. Medidas são descabidas. Descarga de energia quanto o momento é de pênalti, na loteria do "não é preparo, é sorte". Sem baixar a guarda; baixa na empresa individual, baixa nas relações sentimentais; nunca é bom se rebaixar demais querendo alguma atenção. Um pouco até vá lá. Baixeza em nível de alteza. Súplica súdita. Sarjeta. Gorjeta. Se abaixando para dar na mão do outro o que ele pede. Denota altura. Sem mendingar nada que não seja tesouro de realeza inglesa. Pra inglês ver. No fundo uma casa no campo bastaria. No campo, jogo inventado pelos ingleses onde a bola corre na grama. Na lama quando é dia de chuva na não virgem e vigorosa várzea de terra batida, ou abatida. Meses ditam passagem de tempo. Eu, por mim, permaneceria uma vida na estação Milton, em Outubro, escrevendo meu mural.
Meu mural é um muro sem moral, da história, sem as glórias alcançadas por todos que exibem-se, regalam-se, lambem-se, tão sem sal quanto comida para quem tem pressão alta, na panela, a pressão (sôlta), e a reviravolta do Dostoidiota é tão monótona quanto checagem do que chocou da pata choca: nota|: tornar-me poliglota só faria reviravoltas na minha própria língua à procura do que falta, da entonação agiota que rouba com o beiço e com a saliva a boa dicção emprestada (sólta). Larga, diacho, desse alho, desse dente, vá de rétro, deixa eu com minha retórica troglodita, retrô como a calça acima do umbigo do meu avô, vintage com vincos nas engomaduras, jogando palavras à revelia igual quem joga milhos aos pombos em praça pública, — púlpita para quem espera entidade ausente sentado em banco sujo de caca —, sem estouros, ou molhos nas aves transmissoras de doenças. Tchau e bença pra quem pega um vírus tal fatal. O ar rarefeito é feito para que não enxerguemos nada e tateemos em escuro cinza-chumbo, peso do mundo a cada passo, cambaios no balaio do mé que fica doce mel para as formigas na boca do beudo que trupicar e ficar e dormir na rua com os dentes à mostra, (cavalo bão), inconscientemente com o cu que nessa hora é de ninguém na mão. Se me tiram me coloco à disposição, com disposição, menino bom que fica com sangue nos olhos, veias vermelhas saltando, o dente rangendo pra morder a jugular de quem tá de tiração comigo, molecote, fiote, não nasci onti e não vai ser hoje que vou pra casa com essa aporrinhação trespassada na guela. Ramela pra ver o que te acontece... No final é isso: falar um monte não significa estar deixando de ser omisso, mostrar não significa ter, e dizer não significa saber. Signos são significados. Verdades caladas no silêncio e nunca reveladas podem ser grandes sacadas, e volumes e quantidades são medidas que se diferem de qualidade por muitos palmos de distância em direção ao que se busca — não por buscadores de internet —, e as palmas que são recebidas podem ser a mais fria reação de quem quer esquentar a própria mão quando o que está condicionado é gelado, ou pelas costas a lufada é gélida, bélicos recursos de gente são incontáveis, inenarráveis, indubitáveis, e no fim, no fim mesmo, antes do end, a pergunta é: o que é o seu mural?
Meu mural é um jogo de cartas marcadas: Mais um ano passado. Passar pano ninguém passa. E nem deve. Completar mais uma primavera devendo também não é lucro. Trazer a primavera após um inverno quente dos diabos. Depois do inferno astral vem o céu astral ou será necessário ficar um tempo na Terra astral para aprender algo? Querer lucrar com investimentos, fazer o dinheiro “trabalhar para você” e não apenas trabalhar pelo dinheiro é uma questão para passar dos 40 e chegar aos 60 com algum bônus de sobrevida, para ter vida perto da morte. Ou longe. Existe a expectativa de vida média de brasileiros e brasileiras — elas vivendo mais que eles —, e há esperança de vida enquanto se vive (ou deveria existir a meta do existir pleno do que se é ou o alcance de si enquanto a centelha ainda está acesa). É preciso jogar o jogo enquanto o console está ligado, assumir o controle, o joystick, o manete, o manche, ser o timoneiro do próprio barco (se é game de pirata original e não de camelô; do camelo que se monta se o cenário é deserto; colocar água no cantil para encher a barra de energia). Muito tempo no jogo gasta energia pacas, cara, e o bonequinho, o personagem, o totem, também vai ficando cansado porque existe a defasagem das gerações, e os consoles vão se modernizando com o tempo, ganhando novas tecnologias e skills que para os mais antigos são impossíveis devido aos seus projetos de eras outras. Às vezes dá pra acompanhar capengando durante a fase de transição, mas chega uma hora que é game over. Nos fliperamas, onde era preciso fichas e geralmente o dinheiro era quase nulo, perdeu já era, ainda mais se o cara do lado fosse um viciado que apelava nos golpes ou nas jogadas ensaiadas. Coisa da antiga: salões cheios de máquinas de diversão para marmanjos alucinados, e até cinzeiro tinha em alguns, e fumaça de cigarro à vera. Muitos daqueles agora devem ser pais, ou colecionadores de velharias do passado. Aloe vera para a beleza e para a saúde, e tudo quanto for necessário para a velharia que quiser parecer nova no futuro. Depois de um tempo é preciso força pra levantar a bunda da cadeira e movimentar as pernas, fazer o sangue circular, tentar uma nova abordagem corpo-mente, já que o corpo com dor, diferente de um Condor, tende a cair. O tic-tac do ponteiro é a trilha sonora rotineira: sessões de comédia, românticas, suspense, terror, Science-fiction. Cada momento pode ser enquadrado em um estilo. Quando o alarme toca é sinal de que nova hora chegou, e com ela novas possibilidades, e o faz-tudo é roteirista, diretor, ator principal e em alguns instantes até figurante. Tipo filme. De volta aos jogos, diferente dos fliperamas, quando o videogame é de casa, caseiro, particular, pode-se reiniciar o jogo um sem-número de vezes, basta ter tempo e saco para tanto. O single player é rotina quando não está on-line. Estar on-line é rotina em tempos de pandemia. Ralhamos com a rotina. Ralamos nela, mas os ralados da pele são de esbarrões fora da rotina, da falta de atenção com o obstáculo à frente, ou lição para não bater mais, não querendo ser um eterno carro de bate-bate. É aquilo: comemora-se ao passar por uma fase difícil, mas se ainda não deu-se o final haverá outra ainda mais complicada depois, então não dá pra relaxar os músculos e baixar a guarda, no mínimo um respirar mais longo para tomar o ar necessário para o que vem, e o que vem é um ano sem tutorial de como passar, com todas as engrenagens novas que vão se apresentando dia após dia, portanto, pause até novo start.
De pauses em starts apertar botões dos comandos cotidianos com força, até queimar o dedo, até ser automático se queimar no próprio fogo e ser quem se é: O fogo que queima a pele da história. Difícil de digerir. Como carnes de animais pré-históricos antes da invenção do fogo. Querem supor problemas de gestão. Indigestão. Engolir seco. Seca. Quem vive no sul e sudeste é antes de tudo um forte quando toma coragem de ir tomar banho na madrugada congelante, no inverno — no inferno não tem esse problema porque lá é sempre quente, dizem. O Brasil é um inferno para branquelos europeus ou da América do Norte, e até para sulistas —, tem que ter um chuveiro bom, manutenção da energia elétrica, dos cabos e fios, da força que chega, porque se não a resistência queima. No norte do nosso país haja fogo no lombo, na carcaça. É raio UV que sobra e líquido que falta. Jogam água fria em escândalos calorosos e fazem um escarcéu em brasas de fósforos. Pra todo lado. Dois pesos. Pra todo lago dois peixes é par. Objetos não inflamáveis protegidos pelas unções de santos. Calores que veem de baixo e sobem pras ventas fazem seres ficarem despudorados, vermelhos, laranjas, marrons. Bombeiros desgovernados mal conseguem abrir um mero hidrante na rua, à frente da brigada. “Brigada!”, “De nada!”. Isqueiros queimam dedos quando a roldana de metal rugoso se aquece demais. Ademais, temos que regular a temperatura dos nossos corpos para não ficarmos doentes de febre. Delírios tremem. Delirium Tremens. Cachaça além da conta corrói os ossos. Quando ofícios são sofridos difícil mensurar. Ou na falta deles. Sob as ondas turvas do refluxo solar que sobe do chão se tem a impressão de ver um oásis em meio ao caos de palavras bolhas de água que pulam. Areia pode ser balela, mentira, historinha. Deserto é alvo de pesquisadores, historiadores, antropólogos. É preciso valorizar o que se tem; mesmo o mínimo grão que escorre pelas mãos. E renascer das cinzas, como Martinho, da Vila, ou do fogo, como Jean Grey e Ikki, de Fênix ambos.
O que é a vida? A vida é sopro, mas eu toco cordas. Um pentagrama. Notas colocadas nas devidas linhas que lhe cabem por definição pensada ou inspiração surgida. Há sempre um ritornelo, símbolo de volta ao início. O fim do começo ou vice-versa, desde que o solo do primeiro tenor em choro convulsivo ou nem tanto se coaduna à sinfonia dos sons que foram se desenvolvendo e modificando partindo da primeira grande pausa/play, explosão de começo de áudio, de fim de silêncio. O silêncio é preciso para o som, o silêncio é precioso para o som. Uma segunda vinda seria postada e repostada uma, duas, várias vezes? Os seguidores de outras teorias que não aceitam nem a primeira vinda entrariam em timelines alheias para discutir se as trombetas do apocalipse que sopram seriam falsas, surto coletivo, coisa da imaginação, de Hollywood? Fim dos mundos reais. Apolipses-zumbis logados e ligados nas telas. Brilho de cegar o olhar com as vidas boas dos que podem tudo porque tem dinheiro a rodo, sem roubo, com postagens patrocinadas. Engodos. Até o mais bobo nascente já se acha o mais esperto, pois tem toda a sabedoria do mundo nas mãos. E como usa? E como usa! O fim próximo não é próspero e isto aqui é só um prólogo.