Andava por terra mesma. Lesma. Arrastava-se. Escorria-se palmo a palmo. Com mucosas nos pés e nas palmas. Ria. Percorria as linhas férreas. Desejava ler Ferréz. Desejava ter lido aqueles livros queimados junto aos entulhos. Desejava queimar seus próprios livros, com receio que se viessem a conhecê-los, o seu filme estaria queimado. Havia todo um psico. Como o de um serial-killer. Mas como poderia ser ele um, com aquele seu ‘mei-quilo’ de gente? Era preciso psicografar. Errava a grafia do seu nome. Sonhava com graffitis nos muros que escondiam o sol. As tardes nunca eram visíveis a olho nu. As noites nunca eram tão escuras quanto pareciam. Obscuras. Nos oblíquos espaços. Nos planos confabulados com os morcegos, com as corujas. Pessoas lhe viravam a cara. Ouvia coros seculares. Sócrates era um filósofo, era um doutor, e poderia ser aquele cara do outro lado da rua. Nome que sua mãe lhe deu. Vida que lhe pariu. Para saber que nada sabe. Procurava matar as horas, uma a uma, com a seriedade de quem faz comédia. Com a ressalva de não ofender os outros. Com o resquício das mágoas cultivadas. Recebia beijos na boca seca por onde muito já salivara. Uivava como cachorro louco, molhado como um vira-lata em dia de tempestade. Os vagões apitavam nos trilhos noturnos. O desespero fazia corpos serem lombadas no caminho. Os maquinistas davam sinal. Já haviam maquinado tudo aquilo de antemão. Sem sinais divinos, sem marcas de nascença, se sentiam impelidos a tombar. Sinal de fogo. Cachaça. Alguns julgavam ser obra do cão. Só sobravam mangas chupadas. Nunca colocariam os lábios em nada semelhante àquilo. Então pra quê? Crianças nascem nos barracos enfileirados. Ao redor. São como placas sem anunciantes nos dias de jogos. Todos. Mulheres dão barraco no SUS. Homens buscam o sustento na labuta diária, acordando com a claridade, dormindo com a escuridão. Seres solares. Ou apenas solas de sapato. Pisantes. Há bichos no curral. Rotina de fazenda, na cidade grande. Haveria infinitas possibilidades! Era a esperança no êxodo rural. Não atinavam com as capitanias. Os capitães lançavam subordinados ao mar sem dó. Culpa da situação econômica. Ele sabia que era preciso economizar. Quanto menos respiração, melhor. Quantos menos respirarem idem. Nessa jogada havia um julgo. Quem ficasse, aguardaria o julgamento final, nas terras de um dono só. Ele parou num bar. Tomou um ar e uma. Em ambos os lados, os púlpitos se multiplicavam, discriminatórios.
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