Existe dignidade na pele enrugada. É a pele de quem sobreviveu. De quem aguentou a vida por todos esses anos. De quem viveu. Mesmo mais ou menos. Mais, ou menos. E como quando era criança, faz birra, agora pela vontade de ir e ficar lá, e não o contrário do começo. A sua creche são os transportes públicos em horário de pico, aonde vai por querer para compartilhar da convivência humana, demasiadas cheias que andam as conduções nessas ocasiões. E só. Foi mais firme que o cônjuge. A força da gravidade fez a pele cair, mas não o corpo tombar por completo. Calos que só serviram para sapatos mais largos. Não calaram uma voz frouxa e rouca. De cigarro ou de gasto. A gastura é a solidão. Agora com todo tempo do mundo pra dormir mais, não dorme. Existe menos necessidade. Quando havia sono, existiam os afazeres. O tempo livre parece prender. Dorme com as galinhas e acorda com os galos. E a cada ano, com a chegada de uma nova primavera, a mudança de idade parece um placar de futebol de campo de várzea, onde os números são mudados manualmente, ciclicamente o da direita, e a cada década o da esquerda, podendo chegar a três dígitos, renomeando a modalidade para basquete, se o trocador não cansar ou o jogo não acabar. Uma ambivalência de relógio de parede. Quando se ouve o eco de mais uma hora completada, provavelmente tudo estará em suspensão, como quando há mais um tento. O tempo-espaço de tentativas e erros. Um sábio de conteúdo empírico: a experiência! Expectativa de mais. Pra morrer só basta estar vivo. Pra viver também.
Gostei, mas não sei o que nele me fez gostar...
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