Quando se anda pelas ruas fumando é normal pedirem cigarros. Quase sempre os pedintes são mendigos, meninos ou homens, esfarrapados ou vestidos casualmente.
No começo é estranho. Parece que até quando não se solta fumaça pela boca, com o maço guardado no bolso, o percebem como um fumante e, ao vir o pedido, se a resposta for negativa, esquadrinham todos os compartimentos de sua roupa procurando um volume, não acreditando no não.
Dias atrás, quando neguei um pra um – inclusive uma tragada, já que tinha acabado de acender -, o dito cujo me agourou a morte pela ingestão das substâncias.
Primeiro: não tem como oferecer uma tragada e pegar de novo sem saber por onde passa/passou a boca e os dedos alheios, sendo esse fator possivelmente mais passível de morte. Segundo: Já tive dores de consciência pelo vício, e nesses casos, sempre depois de fumar meio maço, deixava o restante com os moradores das calçadas, acreditando que como já não tinham muita perspectiva de futuro, e não conseguiriam sanar a fome tão rapidamente se não passassem os bons samaritanos da madrugada distribuindo sopa e pão, podiam ao menos ter esse prazer ínfimo, e matar quem estava matando por momentos. Já fui caridoso.
Já vislumbrei brutos, machões de galocha, investindo contra o que nega, depois da negativa, revirando as vestimentas, as mochilas; achando o maço (ou os maços) e espancando, ou mesmo acendendo um por um e queimando com brasas a pele do migué.
Para quem está parando, boa desculpa é dizer “é o último”, no fundo não se martirizando por mentir, sabendo que logo mais tragará outro.
O governo cobra um IPI alto sobre o produto. Poderia haver contrapartida. Ao invés de jogar fora todos os carregamentos do Paraguai, distribuir aos mais necessitados. Mas depois, não há tratamento a contento nos postos de saúde, nem pra quem adoeceu, nem pra quem quer parar. Ou há?
Para muitos, direitos e cigarros são só exercidos no ‘semedão’.