terça-feira, 25 de março de 2014

Certeza?

Ele desejava sumir. Desejava estar naquele avião que sumiu. Sabia que teria a sua Ilha de Lost na pós-vida. E estava perdido. O mundo era o seu mar. Estava preso no aeroporto como Tom Hanks, e desejava ficar sozinho na ilha, como o mesmo Tom. Um tom diferente o invadia. Não tinha o ouvido puro mas sabia identificar uma música pelas seis primeiras notas que eram tocadas, como aquele clássico toque de celular de Beethoven. Já tinha se deparado demais com o caminhão de gás. Tinha se esvaído. Melhor se tivesse ido. Pensamento recorrente. Mas sempre haveria o yin-yang, o positivo e o negativo, o macho e a fêmea. Não que uma coisa estivesse relacionada com outra. Não havia uma ordem direta, a não ser a do nascer e do morrer. Não se pode inverter. Algumas religiões fazem isso, quando mesmo depois da morte se vive, ou quando a morte é um banco de reservas para jogar outra vida em outro time, com outras cores e mantos. Bantos cantaram muitos banzos nos navios. Será que tiveram outras chances? Perguntas sem respostas levam a reflexões. Gritos de torcedores dependendo do ângulo de audição podem se assemelhar aos dos sofredores. Os dois podem ser um. Igual àquele time inteiro que morreu em um voo, o sumiço de pessoas em um mesmo momento pode significar que tinham alguma relação ambivalente. Vital? Lançava-se na vida com uma única certeza.

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