sábado, 31 de maio de 2014

O mendigo do fone de ouvido sem fio

Quem já viu o mendigo do fone de ouvido sem fio?

Tava frio.

Vai ver era pra proteger a orelha. Eu já vi mendigo com cobertor de orelha.

É a centelha. Paixão que surge parelha.

O título do álbum do Criolo é 'Nó na Orelha'. A maioria dos mendigos são criolos.

Talvez esse seja um tipo high tech, que fuma um béque e depois masca chiclete.

Ainda por cima (ou por baixo), utiliza 'wi-fis' que não precisam de senha.

Pra viver não é preciso senha. Ao passo, ninguém 'vive' sem ter uma conta no Banco, que exige senhas, e documentos em ordem.

O mendigo não tem conta, nem senha, tão pouco documentos. Vive ao relento, dormindo na fachada do Banco.

Descolou um cobertor branco que com o tempo ficará preto. Um negro passa acelerando o seu carro de luxo último modelo.

Ele aumenta o som dos fones azuis. Ou apenas fecha os olhos e os ouvidos para dar um tempo da sanha da vida. 

sábado, 10 de maio de 2014

De todo modo, sou bacharel em jornalismo

Hoje fui buscar o meu diploma de jornalista. “Mas jornalista precisa de diploma?”. Isso não vem ao caso. A questão é complexa e depois de aprovada a PEC do diploma ainda é aguardada formação de Comissão Especial, e só depois o Plenário da Câmara irá decidir em uma votação de dois turnos. Mas existem muitas coisas técnicas e éticas próprias da profissão que só são aprendidas na graduação.

Um bom jornalista não pode ser inocente e não saber nada. Também não pode ser um expert em determinado assunto, se não, pra que entrevistas? Deve saber um pouco de tudo e um tudo de nada. Um ‘tiquinho’ de cada coisa. É claro que existem as especializações. Isso não livra o jornalista de ser antes de tudo um generalista, antes de especialista, ou um dos dois, ou ambos ao mesmo tempo.

Foi uma peleja árdua. Transitei entre diversos corredores e salas diferentes durante os quatro anos de curso em meio a professores que já haviam exercido a profissão – e por isso tinham propriedade pra falar do assunto, além de suas formações acadêmicas de mestres e doutores -, e alunos que desde o primeiro ano já trabalhavam na área. Não lembro quantos. Lembro que o coordenador disse logo de cara que daquela classe inicial de cinqüenta, sessenta alunos, uns cinco, seis iriam seguir a trajetória e se encaixar no mercado pós-curso.

Ao longo dos anos muitos foram ficando pelo caminho. Descobriram outra vocação e ingressaram em outros cursos, ou por motivos diversos tiveram que parar, não quiseram continuar. Como uma garota que dizia aos quatro ventos que não gostava de ler. Ficou no primeiro semestre.

Dos aproximadamente trinta que persistiram até o final, não tenho certeza de quantos estão atuando. Provavelmente aqueles (as) que já atuavam continuam. Aqueles (as) que tinham dúvidas firmaram suas certezas.

No meu caso ainda falta o MTB (registro de trabalho peculiar aos jornalistas); falta um começo, um primeiro passo no mercado de trabalho, que é concorrido e cheio de nuances próprias. Não falta vontade. Esse é um requisito básico pra tudo que se for fazer.

As grandes empresas são fechadas e têm a sua filosofia própria. Entrar em uma requer a concatenação com a visão de mercado e de mundo que seja a vigente para cada qual. A internet abre leques de possibilidades para novas alçadas no campo comunicacional.

Falo pouco. Às vezes escrevo além do que é necessário. A linguagem jornalística me ajudou a ser mais conciso na escrita. De todo modo, sou bacharel em jornalismo.

Bora trabalhar o texto. 


P.s: Esse texto foi escrito em 24 de abril. Foi quando peguei o meu diploma. Fiquei na dúvida entre postar ou não. Um tempo depois, ouvindo duas estudantes de Psicologia comentarem sobre o futuro da profissão, e de como o mercado de trabalho era concorrido justamente por existirem muitos profissionais se formando, consequentemente existindo uma remuneração baixa, a frase que uma disse pra outra me clareou uma verdade: “É, como diz a minha mãe, essa é uma faculdade para vida e não para ganhar a vida”. E se no fim, ‘nothing’ surgir na área, fica esse consolo, ou esse conhecimento eterno enquanto se vive. Uma maneira de ver o mundo, analisando todos os lados, escutando as diversas partes envolvidas no todo.