Inveja de quem se acha
e de quem se perde; inveja de quem acha alguém e também de quem não consegue
segurar esse alguém, ou seja, inferno astral, um puta dum pecado capital
praticado diuturnamente. Ruim com, pior sem - ou o contrário. Parece que a
vontade é sempre atravessar o rio e ver o que tem lá. E chegando lá, o desejo
de voltar, e de lá, ele inveja os que ficaram cá (que para ele é lá visto de
onde está), os que se encontraram (tanto uns e outros quanto outros com seus
‘eus’). Ele corria atrás dele mesmo, como se o vulto que virasse o beco fosse
um seu alter-ego. E era. Mesmo o velho cheio de chagas e bolhas nas mãos que
pedem esmola. Parecia que ele se perdia quando olhava nos olhos de quem quer
que fosse. Enxergava o fosso daquela alma que no fundo era um pouco sua, como
era, errante, e nisso via que até os que se acertavam tinham um pouco disso
(dele): Erravam! Na verdade não havia o certo. Era momento. Timbre de sopro de
vento. Choro de rebento arrebentando tímpanos intactos. Cores monocromáticas deixavam
o futuro cinza. E mesmo o cão que uivava ao longe tinha um pouco da sua
loucura. Melhor não olhar pra lua e na rua olhar pro chão, cabisbaixo como quem
procura migalha de pão, bilhete premiado ou um mínimo vintém. Alvitres. Algumas
vezes vinte primaveras. Idades de quimeras. Lumes de diamantes falsos.
Cadafalsos. Percalços nos calos firmes. Moleza na carcaça que já foi dura. Mas
continuava a caçar ele mesmo, no ele que já tinha sido, no que diziam que foi e
era, naquele que corria em direção a dias claros. Se caçava. Mexia-se, pois o
que via em seus dias ainda não era o que queria. Revirava os bolsos a procura
de pistas, qualquer troço ou cacareco, objeto colocado ali por algum ele do
além - do futuro ou do passado - que o quisesse ajudar. Só encontrava o mesmo
de sempre. Mocorongo, seguia rumo ao próximo tombo e posterior levantar. Nunca
levantara taça nem fora rei Momo. Quase um mongo olhando as estrelas mortas sem
saber que eram. Perguntava: Eu sou você? Se perguntavam: Ele é você? Ele
respondia: Eu sou você! Eu sou nós e todos os nós da minha vida estão
emaranhados nas suas. Como um fone de ouvido guardado às pressas onde se
embromavam o left e o right. All right! Tinha uma sabedoria popular. Fazia chás
com as plantas que furtava em propriedades privadas. Procurava nunca se privar
da luz do sol, mesmo sem proteção condizente com o tom de sua pele. Confere?
Nenhum comentário:
Postar um comentário