Outubro.
As cigarras cantam. Cigarra, um nome feminino. Outubro é o mês rosa. Feministas
não fazem distinção de cor. O rosa pode ser uma variação do vermelho como sinal
de atenção, a atenção que todas as mulheres devem ter às mamas. As cigarras
cantam. Dizem que não é a hora, mas elas sabem quando é. Na verdade ninguém
sabe qual é a hora, devido aos diferentes fusos horários e também em razão do
horário de verão que recentemente voltou a vigorar em alguns lugares, se mantendo
ativo desde o seu início de fato no Brasil, na década de 1930, como cantou Noel em 'Por Causa da Hora'. O Noel de vestes vermelhas, barbas brancas que incentiva os
pais a comprarem tudo que as vitrines expõem está chegando com suas renas
caricatas, de araque e sem arranque, seus anões salva-programas-de-humor-ruins,
aquele sino que é sina para muitos, badalando ao lado do saco de bala. Está
próximo. O ritmo é sabido. Da pra ouvir a música até tampando os ouvidos. As
cigarras não pensam em ritmo. Fazem um aquecimento, como se batessem um brinquedo de bate palmas plástico, como se já prenunciassem o sucesso de crítica e público de antemão. O canto que emitem é apenas em um tom, fixo,
rígido do começo até o fim da emissão, mas podendo oitavar, ‘semitonar’, ‘sustenir’
ou ‘bemolisar’ de uma performance solo para outra - poderia se supor
erroneamente que isso é música atonal, - e mesmo sem conhecimento de compassos é
possível perceber um certo andamento no som que emitem. Época de cópula. “Êxtase
no ato da cópula. É isso! Essa é a verdadeira essência e cerne de tudo, a meta
e a finalidade de toda a existência”, aforismo de Schopenhauer. O macho depois
que copula morre, e a fêmea depois que põe os ovos, idem. Filosofias levadas a sério. O barulho
e o silêncio que emitem (silêncio também é música), servem para gracejar com seus pares, como também são indicadores de chuva (e não de tempestade). No Sul do país cai o mundo sem precisar de
qualquer inseto ou animal para anunciar, apenas com privilégio para os que
nadam, já que mares são formados onde dantes não os havia. E o líquido que cai
das árvores quando a sinfonia é emitida não é de prazer pelo canto ou pela relação
firmada, é apenas um conforto íntimo sem conotações - se é que isso possa
existir. Famílias acostumas à força das águas teimam em resistir, esse é o
instinto mais primário de qualquer animal. Buscam energia no simbolismo que
existe além das nuvens, no Ser que comanda o Universo, ou, inverso, nas pessoas que
se desdobram em ajudar os próximos como a si próprios, e quem
vê de fora esses atos bota fé na humanidade, a despeito de qualquer fim de mundo
que qualquer criador possa planejar para suas crias. A descoberta de água em
Marte pode ser o indício de que sempre vai existir um recomeço, mesmo na
pior das hipóteses. Destruir florestas a esmo é um mal, antônimo de bem. A madeira gera instrumentos utilizáveis em vários âmbitos, isso é bom, antônimo de mau. Instrumentos
musicais amenizam a vida, é o ‘Nó na Madeira’, né, João Nogueira?!: "A cigarra quando canta morre, e a madeira quando morre canta...". A caixa acústica de um instrumento de madeira pode simbolizar um caixão. Um cigarro para não pensar nisso não... Ou sim.
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