sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Carta

Intermitente como as mortes de José Saramago. Intenso. Tenso. Como se cada último sopro de vida assumisse a simbologia de um show ao vivo, não se enquadrando na era da reprodutibilidade técnica, na Indústria Cultural. Cru como o álbum de Seu Jorge ou como ele comia na época das vacas magras e moradia nas vias públicas, se é que houve o fato. Cultuando os deuses como se fosse o descobrimento de índios despidos e as crenças deles fossem assimiladas pelos colonizadores. Estação de pernilongos que querem zumbir nos ouvidos baboseiras em línguas desconhecidas dos caramurus, indígenas que assistem e leem jornais, pesquisam na internet, teem perfis nas redes como se fossem almas. Cultuam. As picadas antigamente eram mais doidas! Ou nem tanto! A pele era mais rija. Hoje, a borracha que reveste os ossos das populações é de má qualidade, cultivada e curtida com bolachas e bebidas lácteas. Aedes bebem o sangue de plebeus ou de figurões sem discriminação. Existe uma intenção de extrair o melhor ou o pior de cada qual, sangue bom ou sangue ruim, respectivamente. O respeito é nulo. O voto é nulo. Inaladores quebrados têm sua função anulada. Enquanto Pero Vaz escrevia a carta, os habitantes naturais da terra acariciavam as suas prendas. Está na genética delas desde as suas ‘Isas’ vós: preterir o romântico e ficar com quem tem a pegada, os brutos, que amam, indo direto ao ponto sem rodeios. A pele que hábito é uma carne trêmula. Dois de Almodóvar. Dez para ele. Doze doses de tequila com sal e limão para prorrogar o efeito da cachaça. Muitos rechaçam o cerne da filosofia humana. Emanará dos póros suor destilado. Axilas desodorizadas parecerão novos drinques. A não ser que o produto em questão não contenha álcool. Mas depois de um dia de sol a pino, que coloca em combustão os pinos de Frankesteins tropicais, quem resistirá a uma geladeira com loiras molhadas? Só se faltar um parafuso ou o eterno embate entre sagrado e profano fizer o peão querer a água, no fundo querendo que um milagre a transforme novamente em vinho para que a espera pela terra nova não seja tão enfadonha. Se há problemas técnicos o organismo não aceita. O rim chora ao dar de cara com bebidas não propícias a passarinhos. Vai ver é herança dos antepassados, genes de água de coco e chás naturais. As mortes não param. As vidas só param quando há morte. Saramago não acreditava em céu. Seu Jorge e Almaz fizeram uma releitura de “my life, my life, mý life...”.

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