O mundo está por um triz. É a raspa do chifre do bode. Falta soja, sobra soda. A palavra que poderia seguir rimaria, mas não deve ser dita nesse horário. Poderá haver crianças na sala. E que tenha. Mas afinal, que horas são?
- Mamãe, o mundo é soda?
- Não é bem isso, meu filho. É que a outra palavra você não pode aprender ainda. Mas você já tem idade pra saber que devemos preservar o mundo! Bebe seu suco!
O mundo é soja!
A criança fica dispersa. É hora de comer, mas tem a televisão. Para ele o mundo está por um triz: a porta da rua. E a definição de mundo é pequena, não chega muito além da esquina do quarteirão, onde fica o mercadinho, onde são vendidas diversas leguminosas. A mãe sabe que ele não irá comer esse tipo de coisa. Não custa insistir. Está com cinco anos, não sabe bem o que quer.
Fica difícil exigir de seres humanos tão pequenos esse peso nas costas. O peso do mundo. E o mundo será deles, no futuro, tão logo.
Bodes não passam na rua sua. Um cavalo puxa o carrinho, às vezes o próprio homem puxa.
- Poxa!
São os dois que por ali diariamente transitam, em meio aos caminhões, ônibus, tubos que soltam fumaças pretas e pessoas que jogam embalagens pelos vidros.
- Filho, pega o que você jogou...
- Mas todo mundo joga mãe...
- Todo mundo não tem educação, você tem!
- Depois o cara do cavalo pega mãe...
- Não senhor! Ele já tem muito trabalho. Trabalha por mim, pelo seu pai, por você, pelos seus amiguinhos...
Valha-os Nossa Senhora.
O menino não sabe o que é ozônio.
- Mamãe, vaca solta pum?
A pergunta fica no ar, como o gás que sobe para as alturas das nuvens.
Não pode brincar na chuva. A mãe tem medo de gripe:
- Deixa ele, benhê, antes que a chuva fique ácida!
O pai tem um humor negro. Por enquanto, quando cai o temporal, enchentes fazem propaganda quando estampam várias marcas de produtos diversos nas águas que correm enlameadas.
A vida está por um triz. As mães precisam ensinar para os que chegam como preservá-la, pois se não, do mesmo jeito que animais ficam sem pastos no dia a dia, pessoas ficarão ilhadas em seus currais.
É *oda.
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