Era certeza que o estavam tirando. Ou ele que não sabia se colocar. Obviamente duvidavam de sua masculinidade. Bastava se portar como homem, como se soubesse... Sentia que os olhares que lhe destinavam eram débeis. Vai ver estava debilitado de boas faculdades mentais. Ó. Ká. Era preciso se encontrar. Mas chegara até ali por bifurcações que não deixavam rastros, como se o mundo tal qual conhecia fosse aniquilando-se a si mesmo a cada novo passo dado. Os dardos jogados no próximo alvo iam a esmo. O círculo central mudava toda hora de lugar. Como se estivesse vivo. Um objeto animado. Um animal racional desanimado por não compreender à sua volta. A floresta ainda era bela. A princesa continuava presa. Só precisava transpor aqueles obstáculos para salvá-la. Mas será que ela o salvaria? Será que ela saberia colar os cacos do seu mundo que foram ficando para trás? Ou fariam um novo mundo com a sua prole? Tudo que queria era enxergar um palmo adiante do próprio nariz. Só enxergava o próprio. Um vesgo forjado pela circunstância. Estrábico que não fixava um ponto fixo. Se ao menos tivesse o prefixo de um SAC para ligar, ouviria as opções e escolheria falar com um dos atendentes, que rangendo os dentes não lhe explicaria nada. Provavelmente a opção nove, que cairia nove vezes e, se houvesse insistência pela décima, ouviria o que já sabia: Pouco. Ou fariam os procedimentos de praxe que na prática só solucionavam o problema até a ligação ter um fim. “Mais alguma coisa? Agradecemos a ligação e uma boa vida até a morte!”. Protocolos não serviam de nada. Deveriam ser quebrados pela sensibilidade dos corações. Era tudo questão de tempo, de clima: chuva pra pensar nas faltas e sol pra ver as presenças dos outros. Mais uma igual primavera e ficaria louco. Por enquanto, olhava por cima quem o olhava de lado, retendo o máximo de tempo a pálpebra firme, imóvel, enfática, fecundando ideias para obter o êxito, tirando da frente tudo o que o impedia de prosseguir, colocando todos os pingos de gente grãos de areia em seus devidos lugares, mostrando que os gêneros não se definem só pelo sexo, vide os ratos e leões transfigurados em homens, e ratazanas e tigresas mulheres, existindo até simbiose de masculinos-femininas, e vive-versa. Ele estava ciente, paciente, consciente.
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