terça-feira, 9 de novembro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 4

5 de janeiro – terça – (idem segunda e sábado) O relógio desperta com sempre e dessa vez pulo da cama no horário. Saio pensando que tô apavorando e que vou ser pontual mas, ao chegar no ponto constato: Estou atrasado. Tá osso é pouco! Seria necessária uma metralhadora de muxoxos para expressar a indignação pelo malogro. Também, tenho três fusos horários, e nesse ano até agora não me acertei em nenhum deles. O relógio do P.C está na hora de Brasília, horário brasileiro de verão. O do C.E.L. está 5min adiantado, juntamente com a da S.A.L.A; já o do A.L, 10min a frente, e ainda atrasado: P.Q.P.
Estou entre jornalismo e publicidade em razão maior de escrever. Na livraria muitos são formados pela academia, outros não, e comprovei/e comprovo que a principal diferença (em vantagem nossa) para os vendedores da concorrente é a humanidade. Aqui somos mais humanos, mais abertos e dispostos a ajudar, temos mais ímpeto. Lá são mais robotizados, padronizados, tipo reis da cocada e, se não estou enganado, eles próprios frizam cultivar essa animosidade, como diz o Brown: “O que ele quisé nóis qué, vem que tem; O que? Eu não pago pau pra ninguém...”; lembro das vezes em que os jornais ou revistas foram entregues invertidos e algum deles teve que vir buscar, mesmo (em uma das vezes), sendo bastante coisa e pesada, não queria a caixa com logotipo. Era para facilitar. No fim levou. Vai saber qual mandinga fizeram...
Indo ao ralo, duas tias conversam no micro-ônibus. Tia 1: “Até que enfim ponharo ônibus grande aqui”. Tia 2: “Ééé”. Tia 1: “As coisa tá miorano”. O itinerário é de bairros chiques e muitas tiazinhas e tiazonas fazem trabalhos para os patrões/amos. Linguajar típico não deixando de ser sabedoria popular. Realmente as vãs estavam super-empanturradas, mas o problema é o excesso de pessoas, e conduções maiores não resolvem muito.
Mesmo horário de ontem.
Uma correria lascada. Terminar de arrumar a bagunça, fazer um encalhe, fazer o outro e só depois começar a conferir o que chegou. Só quando vem Contigo, Caras, Quem, Istoé Gente já confiro essas logo de cara, ou quando algum cliente indaga se já chegou tal título. E justamente agora vem alguém nesse ensejo. Pego o pacote fechado com dez e sirvo diante da pessoa que diz: “Ainda tá quentinha!”, mas não: eu mesmo já cometi esse erro. Sabe-se lá quanto tempo se passou desde a saída do forno... Só jornais têm essa informação.
... Tem quem passe olhando uma por uma como quem esperasse um sinal divino que indicasse a capa certa, a salvadora. Acho que a maioria desses não paga o dízimo, lê no sofá e deixa lá para recolhermos. Inveja de quem bate ponto, tanto dos que vão passear quanto dos trabalhadores de outras lojas. Ficam olhando o pedreiro fazer a massa, averiguando, dando pitaco com o olho, todo o santo dia. Eles – os clientes – vão ali por lazer, enquanto nós empregados obtemos o pão.

Um comentário:

  1. Retribuindo a visita! E também para dar eco aos seus comentários! Eu sempre confiro as atualizações por aqui e sempre saio feliz! A melhor face da internet é nos propiciar saber que ainda há "Vidas pensantes"! Abraço.

    ResponderExcluir