domingo, 14 de novembro de 2010

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. 5

6 de janeiro – quarta - mais um dia. Citando Bide e Marçal – na versão original: “o bonde São Januário leva mais um sócio otário, sou eu quem vou trabalhar...”.
Adiantei 3min dos relógios que supostamente estavam adiantados 5min e não perdi a hora. Primeira pontualidade do ano (nem a passagem é pontual, cada um vive uma 00h00).
Lembrei da minha época como operador de caixa, quando me mirando estava a capa de um tomo com a foto de Machado de Assis, tipo me intimando: “E ai, não vai escrever? E consegue fazer algum tão bom quanto eu fiz?”; Pior é que ele acordava cedo e escrevia de madrugada, antes de ir para o trabalho. Será que se eu fizer isso consigo ser prolífico? Uma grande aspiração. Uma grande inspiração. E outro gênio (a meu ver), Graciliano Ramos, mantinha o mesmo esquema de produção. Tenho que ter o meu processo. E um tio da loja, sabendo que eu me meto a tentar rabiscar palavras, todo dia pergunta: “E os textos?” preciso de inspiração que vem de vez em quando, e de ócio, que vem de vez em nunca.
Fico numa sinuca de bico entre música e literatura. Taco em todas as bolas e até agora só deu branca. Gravei um CD que achei ser o demo, divulguei e não obtive retorno. Fiz tudo em processo caseiro e obtive um resultado amador, sempre na intenção de divulgar as composições. Escrevendo, participei de alguns concursos mas não recebi nem menção de menção, também, nunca me achei deverás merecedor. Sou tipo um Caim sem a marca na testa, depois que li Saramago me veio essa suposição. Por agora estou mais propenso a escrita, como cita Chico Buarque em Budapeste “... é a única das artes que não precisa se expor...”; esse expor no sentido de desprendimento, porque toda arte é uma forma de dar-se ao mundo. Mas para ser músico é necessário saber música, partitura, divisão de tempos, duração e localização das notas no pentagrama. Eu sou mais intuitivo. Já na outra ponta, pode-se estudar de uma forma autônoma, lendo os grandes mestres, escrevendo e reescrevendo, pesquisando, vivendo.
O operacional visita a loja. 14hs passo por ele que me cumprimenta e pergunta como foram as festas. Respondo que bem e nem pergunto como foram as dele. Nos dias em que ele vem há todo um alvoroço; segue esquadrinhando centímetro por centímetro para ver se está tudo correto. O pessoal fica num burburinho geral. Eu até pouco tempo falava com ele só o básico, basicamente, respondia às perguntas. Acho que já nos acostumamos em nos topar por ali e buscamos uma melhor convivência (mesmo que inconscientemente). Aparenta ser bem sisudo no mais, sendo São-Paulino, deve ser gente boa.
Lá pelas 14hs e alguma coisa na volta da pausa/wafer de morango vejo um carinha que fez entrevista comigo na livraria “x” há um ano atrás, na mesma época em que fiz entrevista aqui. Esse, cabeludo, acima do peso, usa o uniforme azul-esverdeado de uma companhia de celulares. Citou – na entrevista – a obra da vida dele algo que não me lembro. Eu citei Max de Castro na Orchestra Klaxon, álbum que me fez querer voltar pra música novamente (porque do final de 2001 ao começo de 2003 deixei de lado o violão por desilusão, queria ser sociólogo, “tempo que o vento levou”), mas gaguejando, suando frio, perto de outros que tinham a Eneida de Virgílio como livro de cabeceira, formados em filosofia com tese de conclusão sobre Proust sendo concluída, um estudante de direito que num debate entre um grupo que defendia o direito ao aborto e outro que abortava essa ideia citou o “fato social” de Durkheim para embasar sua tese, sai de fininho. Não passei nos testes. Acho que foi melhor.
16h30, chegando em casa, fui direto para o computador saber a resposta da redação sobre o diário: Nada. Afoito, mandei outros e-mails por todas as vias possíveis. Passados alguns minutos – enquanto ripava uns CD’s para colocar no m.p.3 de fundo musical para a viagem de amanhã – alguém da equipe da revista me respondeu. Explanou como era o processo de escolha, e que haviam perfis a serem julgados: menos literários; pessoas que nunca escreveram diário antes; linguagem mais informal. Pediu pra que eu escrevesse mais sobre mim. Falei um pouco (não querendo me expor muito), dei o link de algumas de minhas páginas na internet: http://twitter.com/gi0lima http://www.myspace.com/giolima. Acho que ela entendeu isso como botar banca. Retornou dizendo que o meu perfil não era bem o que procuravam mas que se eu quisesse, mandasse mesmo assim e que tudo dependeria da apuração e aprovação dos bam-bam-bans e que haveria uma resposta (se positiva em trinta dias) caso contrário, nem confiança. Acho que trinta dias mesmo se por sorte aprovado não entro na edição de fevereiro. Vou mandar mesmo assim. Amanhã (antes de arrumar a mochila com o bote inflável dentro e partir pra S.P), começo a digitar o texto, e na sexta, de folga, espero adiantar a maior parte, só faltando o sábado para fechar o ciclo da semana.

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