domingo, 14 de abril de 2013

3

Cria das ruas. Crescido nelas. Mais exatamente no entroncamento, no sinal. Fechado, aberto. Vermelho, verde. E a vida sempre fechada, no vermelho, atrás de um verde, com os olhos vermelhos.
Rosto negro e nariz abaulado cheio de brancos dos lados. Cresceu. Uma barba surge. Ou será sujeira dos anos?
Atingiu maioridade: o homem do farol. Ou ainda será moleque?
Alguns deixam trocados. A roupa é sempre a mesma, nunca troca. Tipo personagem de desenho animado. Anima-se para trocar o dinheiro por pedras. Nunca brincou de pedrinhas. Latinha de Coca-Cola, vazia. É esse o uso. Não bebe o líquido. Consome. Dilui o sólido. Com fome.
Sem depressão. Tem afazeres todo dia. Toda noite.
Não vê futuro.
No natal não terá presentes. Nunca lhe perguntaram o nome. Será que lembra?
Mais um dia. Mas para ele não foi igual aos outros. Para os outros que o viram naquele dia também não. Encontraram-no estirado na calçada, tostando ao sol. Deram o S.O.S. Chegou o S.A.M.U.
No sinal fechado, de dentro do micro-ônibus, olhares de desdém, indiferença, pena, dó. Igual quando ele estava em pé. O menino tombou. Não aguentou o baque.
Nunca mais fora visto por aquelas bandas. Funerais fúnebres nos fones de ouvido, ou funks do Rio, dos negros seus irmãos de raça. Puxaram o sinal. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário