Saber se vai chover é uma arte. Além dos mais velhos, que pelos
poros, ou pela simples análise do vento ou do tempo — ou dos dois, conseguem
obter tamanha informação privilegiada, a página ‘WikiHow’, que é um site que
ensina o jeito certo de fazer certas coisas, mostra “como?”. Nela, ter a previsão afirmativa de que o Cantareira
receberá algum alento se enquadra na categoria arte. A dança da chuva como
exemplo reafirma esse enquadramento. Muitos constroem cisternas para aproveitar
aquela que cai de pé e corre deitada. Como o dom necessário ao fazer artístico (questionável),
nem sempre se segue uma sequência lógica. E assim, foram as águas de verão
abrindo março... Ao contrário, fora de tom, de Tom, deles, Elis. Destoando as
cores, azul não tão azul na zona sul. Ele escrevia em muros. Muros são espaços
públicos. A internet é um muro. Publicadas muitas coisas que deveriam ficar
guardadas, privadas. Quem decide? O Deus bom-senso, que às vezes falta por
estar tratando de coisas mais importantes de quem só vive a vida dura fora da
Matrix. Posto, postado, escrito, transmitido algo lá, o dono da casa (domínio,
página) pode reclamar, chiar, mas os autores usarão a mesma justificativa dos
grafiteiros conscientes: A rua é pública! O que ficar escancarado a tantos
olhos perde autoria e ganha autonomia, cada qual tendo pra si o que bem
entende. E as vidas continuam até serem interrompidas por paulatino ou abrupto
fim. Fim. Quebrar um pensamento é cortar caminho por beco escuro, correndo
o perigo ou a ventura de encontrar almas desse mundo ou do outro — caso
existam. Quem não sabe pra onde vai perde o fio da meada na quina da calçada.
Quem tem muita certeza perde o perfil da paisagem esculpido por deuses e
homens. Ele via tudo isso quando pichava com a lata fazendo "pxiii" e
ele tentando arrumar um modo de dizer pra ela "chiii". Nos silêncios
se encontravam. Não era preciso nem um pio. A sós, ele (animado, espirituoso) e
ela (objeto inanimado, sem alma, mas que com ele parecia interagir, assumir
uma). Após, o trabalho feito, contemplavam o redor, natural e artificial,
acreditando nas misturas, aceitando o verão friorento, o vento quente, tentando
cravar tranquilidade nas contrariedades. Hidratar com a bendita água
sagrada da torneira depois de desidratação com aquela que passarinho não bebe é
praxe. Práxis: Espírito da puberdade de quem prática e se descobre.
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