segunda-feira, 7 de março de 2016

Praxes da práxis

Saber se vai chover é uma arte. Além dos mais velhos, que pelos poros, ou pela simples análise do vento ou do tempo — ou dos dois, conseguem obter tamanha informação privilegiada, a página ‘WikiHow’, que é um site que ensina o jeito certo de fazer certas coisas, mostra “como?”. Nela, ter a previsão afirmativa de que o Cantareira receberá algum alento se enquadra na categoria arte. A dança da chuva como exemplo reafirma esse enquadramento. Muitos constroem cisternas para aproveitar aquela que cai de pé e corre deitada. Como o dom necessário ao fazer artístico (questionável), nem sempre se segue uma sequência lógica. E assim, foram as águas de verão abrindo março... Ao contrário, fora de tom, de Tom, deles, Elis. Destoando as cores, azul não tão azul na zona sul. Ele escrevia em muros. Muros são espaços públicos. A internet é um muro. Publicadas muitas coisas que deveriam ficar guardadas, privadas. Quem decide? O Deus bom-senso, que às vezes falta por estar tratando de coisas mais importantes de quem só vive a vida dura fora da Matrix. Posto, postado, escrito, transmitido algo lá, o dono da casa (domínio, página) pode reclamar, chiar, mas os autores usarão a mesma justificativa dos grafiteiros conscientes: A rua é pública! O que ficar escancarado a tantos olhos perde autoria e ganha autonomia, cada qual tendo pra si o que bem entende. E as vidas continuam até serem interrompidas por paulatino ou abrupto fim. Fim. Quebrar um pensamento é cortar caminho por beco escuro, correndo o perigo ou a ventura de encontrar almas desse mundo ou do outro — caso existam. Quem não sabe pra onde vai perde o fio da meada na quina da calçada. Quem tem muita certeza perde o perfil da paisagem esculpido por deuses e homens. Ele via tudo isso quando pichava com a lata fazendo "pxiii" e ele tentando arrumar um modo de dizer pra ela "chiii". Nos silêncios se encontravam. Não era preciso nem um pio. A sós, ele (animado, espirituoso) e ela (objeto inanimado, sem alma, mas que com ele parecia interagir, assumir uma). Após, o trabalho feito, contemplavam o redor, natural e artificial, acreditando nas misturas, aceitando o verão friorento, o vento quente, tentando cravar tranquilidade nas contrariedades. Hidratar com a bendita água sagrada da torneira depois de desidratação com aquela que passarinho não bebe é praxe. Práxis: Espírito da puberdade de quem prática e se descobre.

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