Terça e sexta, dias que rimam (em português). Terça, depois de uma segunda braba, reflexão sobre o que se passou no finde. Sexta, a quase alforria do tempo que se tem pra si, para quem não trabalha em shoppings da vida. Dar a luz a novas ideias nestes dias. Um anseio de agora, que tem o aval do feriado prolongado. Manter as postagens seguindo essa premissa, como livreto virtual de uma missa pagã. Palavras vãs.
O LUTADOR "Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça". (...) (Carlos Drummond de Andrade)
O
próximo texto vai botar a boca no trombone do beijo, então, para não perder o
ensejo e finalizar a festa, ainda é dia de vestir máscaras: “Vou beijar-te
agora não me leva a mal, pois é carnaval...”.
O
pouco que tenho é isso: arco-íris cinza em terrasde chuvas multicoloridas.
Brindes com taças quebradas onde só sobrou um pouco de vidro além do lugar em
que se segura com dedos melindrosos, e o mais grosso lábio em encostar fino
dará hemoglobina às uvas que em vidas passadas foram pisadas em sacrílego
sacerdócio do ofício.
As
lajes encharcadas das casas apinhadas em planícies irregulares não impedirão
que ninguém desça para a rua plana, plenos, e nem deveriam. Sugar e aspergir-se
para o regozijo, lavar-se a alma em auto-benzimento, como um ritual de preparo
para os próximos pulos. Buzinas, caixas acústicas e vozes em altos decibéis
trarão zumbido ao dormir no dia claro — recostando a cabeça em travesseiro de
nuvens —, depois de várias noites ‘zumbizando’, empertigados com substâncias que
dão sobrevida à vida que quer pulsar o seu máximo no agora. Ora, ora. Durma-se
com um barulho desses!
Lança-perfumes
agregados a suores pastosos. Milho, arroz e malte em metamorfose de genéticas
fortes. Antes de tudo, sagrados. Águas bentas forjadas nas pedras.
Arraigaram-se. Seres que se inexistem sós. A expressão pela comunhão. O ato
cívico de participação. A união das partes no todo. “Bobo, besta”, é quem não coaduna
nesta fresta. Há quem ouça gritos vindos das vísceras, quem saia no vácuo de qualquer
solicitação, quem converse consigo no cerebelo e quem gaste voz de si para si.
Outros se comunicam com a quantia de sentenças possíveis encaixadas na máquina
dura dos vocábulos, com ou sem a precaução de engraxar roscas e parafusos da
sintaxe. Gritos ocos se tornam ecos invisíveis a olhos vestidos e corpos nus.
Terceiro
olho que não vê. Cu. O chacra de todo xucro. “Se chapa não tem dono”, diz a
lenda. Danger a altos teores. Teoremas abolidos. Chapas são xarás. Parças de
uniforme do Barça. Fantasias à revelia. “Sorria e não mije na fachada, pois
está sendo filmada a sua malcriação!”. Quantas bocas beijadas? Um sem-número...
Dias
de folia, horas de soltar a mão do acabrunhado pouco que se tem num regresso ao
bonde que segue em frente, na consagração de um céu embebido em cores. Sal,
sol, temperados com sorrisos insossos, banguelas.
O
pouco que se tem em fevereiro é o pouco que se dá. Mês de poucos dias, sempre.
Carnais avais. Lambujas. Uma força. Não devemos nos abdicar de nossos poderes,
mas utilizá-los com parcimônia, com sobriedade, para não exagerarmos a dose de
influência nos atinos que escorreram pelos espaços entre paralelepípedos. A
rosa do âmago desabrochará girassol, e vencerá intempéries até se encharcada
por caldo que escorregue de regador de plástico firme, rígido, militar.
Intermitências, malemolências e preguiças.
"Carnaval, desengano... Deixei a dor em casa me esperando...".
De
cara nova, na cara dura, de novo. Desde 2009 — o ano em que finquei o pé em uma
página da parede virtual sem muros —, foram quatro faces de um destino: a
primeira, básica, marrom, sem firulas; a segunda assumiu o azul como cor de
identidade, marca d'água para letras desvanecerem, ora simples, outrora em
negrito; na terceira, aboli as imagens e deixei só os textos, preteri e preferi;
isto durou, a ênfase; agora, 2017, sem confete, ainda seguirá a simplicidade
como base, mas tentando dar ao visual algo de chamativo, de apreciável, sem
muito mais, tentando fazer do menos um norte, da fonte um ponto forte.
Não
direi que “é pau no gato” para não cair em especismo. “Mãos à obra?”. Pode ser.
Continuar a construção da linguagem, direta ao ponto, na lógica da concisão jornalística,
rodeando com dribles na expansão de sentidos literários. “Alhos e bugalhos”.
Assim,
o blog continua igual, mas diferente. Iria mudar o nome. Não vou mais, por hora.
Mudarei a periodicidade? Talvez. Um esclarecimento “pro cêis”, pros seis ou múltiplos
de seis que por aqui chegam. O carnaval está chegando e com ele virá um texto
que irá fazer pular. Ou não.