terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Premissa de uma missa pagã

Imagem: Arquivo pessoal

Terça e sexta, dias que rimam (em português). Terça, depois de uma segunda braba, reflexão sobre o que se passou no finde. Sexta, a quase alforria do tempo que se tem pra si, para quem não trabalha em shoppings da vida. Dar a luz a novas ideias nestes dias. Um anseio de agora, que tem o aval do feriado prolongado. Manter as postagens seguindo essa premissa, como livreto virtual de uma missa pagã. Palavras vãs.

O LUTADOR

"Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça".
(...)
(Carlos Drummond de Andrade)

O próximo texto vai botar a boca no trombone do beijo, então, para não perder o ensejo e finalizar a festa, ainda é dia de vestir máscaras: “Vou beijar-te agora não me leva a mal, pois é carnaval...”.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Intermitências, malemolências e preguiças


Imagem: Projetado pelo Freepik

O pouco que tenho é isso: arco-íris cinza em terras de chuvas multicoloridas. Brindes com taças quebradas onde só sobrou um pouco de vidro além do lugar em que se segura com dedos melindrosos, e o mais grosso lábio em encostar fino dará hemoglobina às uvas que em vidas passadas foram pisadas em sacrílego sacerdócio do ofício.

As lajes encharcadas das casas apinhadas em planícies irregulares não impedirão que ninguém desça para a rua plana, plenos, e nem deveriam. Sugar e aspergir-se para o regozijo, lavar-se a alma em auto-benzimento, como um ritual de preparo para os próximos pulos. Buzinas, caixas acústicas e vozes em altos decibéis trarão zumbido ao dormir no dia claro — recostando a cabeça em travesseiro de nuvens —, depois de várias noites ‘zumbizando’, empertigados com substâncias que dão sobrevida à vida que quer pulsar o seu máximo no agora. Ora, ora. Durma-se com um barulho desses!

Lança-perfumes agregados a suores pastosos. Milho, arroz e malte em metamorfose de genéticas fortes. Antes de tudo, sagrados. Águas bentas forjadas nas pedras. Arraigaram-se. Seres que se inexistem sós. A expressão pela comunhão. O ato cívico de participação. A união das partes no todo. “Bobo, besta”, é quem não coaduna nesta fresta. Há quem ouça gritos vindos das vísceras, quem saia no vácuo de qualquer solicitação, quem converse consigo no cerebelo e quem gaste voz de si para si. Outros se comunicam com a quantia de sentenças possíveis encaixadas na máquina dura dos vocábulos, com ou sem a precaução de engraxar roscas e parafusos da sintaxe. Gritos ocos se tornam ecos invisíveis a olhos vestidos e corpos nus.

Terceiro olho que não vê. Cu. O chacra de todo xucro. “Se chapa não tem dono”, diz a lenda. Danger a altos teores. Teoremas abolidos. Chapas são xarás. Parças de uniforme do Barça. Fantasias à revelia. “Sorria e não mije na fachada, pois está sendo filmada a sua malcriação!”. Quantas bocas beijadas? Um sem-número...

Dias de folia, horas de soltar a mão do acabrunhado pouco que se tem num regresso ao bonde que segue em frente, na consagração de um céu embebido em cores. Sal, sol, temperados com sorrisos insossos, banguelas.

O pouco que se tem em fevereiro é o pouco que se dá. Mês de poucos dias, sempre. Carnais avais. Lambujas. Uma força. Não devemos nos abdicar de nossos poderes, mas utilizá-los com parcimônia, com sobriedade, para não exagerarmos a dose de influência nos atinos que escorreram pelos espaços entre paralelepípedos. A rosa do âmago desabrochará girassol, e vencerá intempéries até se encharcada por caldo que escorregue de regador de plástico firme, rígido, militar. Intermitências, malemolências e preguiças.

"Carnaval, desengano... Deixei a dor em casa me esperando...".

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Igual mas diferente



De cara nova, na cara dura, de novo. Desde 2009 — o ano em que finquei o pé em uma página da parede virtual sem muros —, foram quatro faces de um destino: a primeira, básica, marrom, sem firulas; a segunda assumiu o azul como cor de identidade, marca d'água para letras desvanecerem, ora simples, outrora em negrito; na terceira, aboli as imagens e deixei só os textos, preteri e preferi; isto durou, a ênfase; agora, 2017, sem confete, ainda seguirá a simplicidade como base, mas tentando dar ao visual algo de chamativo, de apreciável, sem muito mais, tentando fazer do menos um norte, da fonte um ponto forte.

Não direi que “é pau no gato” para não cair em especismo. “Mãos à obra?”. Pode ser. Continuar a construção da linguagem, direta ao ponto, na lógica da concisão jornalística, rodeando com dribles na expansão de sentidos literários. “Alhos e bugalhos”.

Assim, o blog continua igual, mas diferente. Iria mudar o nome. Não vou mais, por hora. Mudarei a periodicidade? Talvez. Um esclarecimento “pro cêis”, pros seis ou múltiplos de seis que por aqui chegam. O carnaval está chegando e com ele virá um texto que irá fazer pular. Ou não.