quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Cinzas, negras, brancas

Imagem: Projetado pelo Freepik

A quarta-feira de cinzas amanheceu cinza, o tempo condizendo com o dia. Isso viu quem acordou cedo, antes do sol nascer. Olhando por esse lado, a quarta-feira de cinzas amanheceu negra, antes de o sol nascer, como todas as quartas-feiras do ano, nada de diferente nisso. Um tom de cinza, cinza, é algo raro hoje em dia, já que quase tudo que é natural se perde nas nuvens da superficialidade. Um tom de negro, negro, cada vez mais é valorizado, vide o desfile da campeã moral do carnaval do Rio de Janeiro, a Paraíso do Tuiuti, mas, ao mesmo tempo, é preciso desvelar com velas a todos os santos, aquilo que continua incrustado, velado na população branca, branca, (como a Húngara mulher de José Costa, em Budapeste, de Chico Buarque).

Desaforos vindos de crustáceos do mar molambento. Mambembe. Cigano. Quem pulou, pulou, esperneou-se com gosto, como pode, vestindo a fantasia dos sonhos ou a fantasia do seu eu verdadeiro (ou a fantasia que deu pra ter na crise): "mas é carnaval, não me diga mais quem é você, amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar...". Só não vale ter crise de identidade na volta à rotina.

Quando se vem de um fim de semana onde o carnaval caiu na terça e o feriado foi prolongado — sem ser possível na quarta de cinzas o expediente começar às 12h, pegando no batente em horário comercial —, a impressão que se tem é a de uma segunda-feira ao quadrado. Assim sendo, mesmo os mais quadrados, — aqueles que não saíram para blocos, bailes, desfiles, não vestiram abadas, roupas coloridas, ou se despiram o mais que puderam —, sentem o baque.

Natural. Como o sol. Como a sequência de dias e de meses. E assim segue o ano. 2018, depois de Cristo. Um colonizador português caricato diria: “Ai, Jesus...”. Fevereiro terminando numa quarta, cinza, enegrecendo ao cair da noite. As permissões dos cinquenta tons correram soltas. “Sem... Or...”. E que venha o parça março. De percalço em percalço, sobressalto em sobressalto, continuamos; com a cabeça em riste, olhando para o alto, buscando a luz, mesmo em dias acinzentados.

Um comentário:

  1. quifase... relaxe! março vem certamente com percalços, mas doce como abraço! (ão, ão, ão meu forte é a rima! rs) :*

    ResponderExcluir