domingo, 27 de junho de 2010

Animais

Uma mulher me salvou de não morrer.

Estávamos em um agrupamento de seis bichos, três homens e três mulheres, não obstante, a perspectiva de que era uma fêmea para cada macho não se enquadrava na verdade. No caso havia apenas um casal formado, os outros estavam dispersos no quesito afetuoso. A nossa sociedade cada vez mais se assemelha a uma selva e como toda fauna que se preze, tem diversos tipos particulares – gêneros de animais – mas em suma a espécie é a mesma.

Seguíamos nosso caminho rumo aos respectivos destinos quando abruptamente um bando de aproximadamente vinte carnívoros sedentos de sangue nos interpela de forma ruidosa e nociva. Quando noto que vão grunhindo na direção das fêmeas, por instinto de animal que quer delinear a área de domínio, verbalizo alto com rugidos estridentes na direção do bando. Na atualidade dos bichos ninguém sabe quem é quem e talvez por isso, houve uma pausa ceifadora.

Minutos depois, um dos vinte mais alterado ou mais sedento de morte – que para ele significa mais vida – avançou na minha retaguarda e me atacou. O ímpeto falou mais alto e me fez inconscientemente ir ter com esse animal covarde (que por sinal se escondera atrás dos outros), deixando-me a mim mesmo esquecido que o nosso bando era minoria, e, achando inocentemente (como um filhote que acaba de nascer), que a briga ia ser um contra um. Logo, todos os outros rodearam e começaram o ataque: patadas, coices e gestos de intimidação. Eu tentava me manter em pé; os outros da minha trupe ficaram atônitos, principalmente as do gênero feminino. Certa hora cai e estava sumindo no meio da aglomeração de pés e mãos sobre mim.

Por sorte uma das que conosco estava conhecia um dos outros (covardes) do grupo maior e tentava neutralizar o combate, enquanto eles tentavam finalizar-me. Naquele dia ela estava num estágio de pelagem (roupa) que deixava as mamas (seios) voluptuosas e isso foi o fator decisivo no cessar fogo. O vislumbre pelo olhar dos vinte e a hipnose pelo olfato decorrente dos feromônios que essa soltou, fez aqueles dispersarem e minha vida de animal racional (que às vezes deixa de raciocinar, como nessa) foi poupada.

Espero ser salvo também por alguém com algo mais do que o simples magnetismo do órgão em pêlo, pelo qual a vida surge... Me salve de não viver!

sábado, 19 de junho de 2010

O resultado:

E o resultado foi 2 x 1. Ela e o outro venceram, e ele não teve chances nem de tentar ser um outro, outro.

Colocou o time em campo de banho tomado, diferente dos franceses – como diria Maradona e os outros – e nem usou das mãos pra bulir no jogo – como diriam os franceses de Maradona, antes da última eliminatória.

Haverá outras partidas, mas o resultado adverso o leva a querer jogar com outros adversários diversos. Também, já estavam entrosados, ela e o outro. Parece que mais de dois anos entre a primeira convocação, eliminatórias e copa. Chegaram bem, trocando passes com o olhar, e ele quis cruzar no meio da área. Uma bola que não entrou. Talvez trave? É o que ele quer acreditar, pois sabe que por mais que enfrente outros times à altura, ela será sempre aquele a ser batido, conquistada. Se tornará a maior rivalidade, um clássico, sabendo que muita raiva pode significar amor.

Tem amor à camisa, ao passo (ou trote, arrancada), sendo necessário, se repatria, se naturaliza, para vestir o mesmo manto que ela. Beijará o escudo – o próprio e com gosto o dela – sem pestanejar; cantará o hino–seresta, alçará o bandeira no mais alto mastro, o dedo; a flâmula, o anel.
Mesmo não sendo muito afeito a treinos e concentrações, fará uma pré-temporada com ela num lugar longe de todos os outros, não havendo mais nenhum a não ser, ele.

domingo, 13 de junho de 2010

Época de Copa

Época de copa, jogado pra escanteio. Na mesa de bar, na happy hour, lhe dão as costas, como se tivesse sido escolhido por último para compor o time, por ter sobrado. Quando se dirigem a ele é para falarem – entre eles – qual o motivo de ele não falar nada. Não emite opinião alguma sobre o mundial. Pode até ser que tenha, mas guarda, como segredo de treinamento a portas fechadas.

Em verdade a sua atenção está toda voltada para a moça do outro lado da mesa: morena, alta, sorriso cativante, e entende do assunto bola. Até tem time, e defende o mesmo, como todos torcedores mais fanáticos defendem, mesmo quando a fase não é das melhores. Agora todos estão do mesmo lado, é copa, é a Pátria, e ele não liga. Queria sim ligar pra ela, mas, com os outros como zagueiros ferrenhos, não consegue nem lhe dirigir palavra. E pensa, e se eu conseguisse driblá-los, o assunto chave seria futebol, pentas, verdes e amarelos, o contrário do conselho do pai de um amigo para o filho, jamais fale de futebol com uma garota.

Mira a moça com o olhar, tentando alcançar a meta, o ângulo, o coração. Ela, como uma coruja em cima do travessão, está direcionada para o lado dele só que a cabeça está para o outro.

A estréia do time será na terça-feira. É o prazo que ele estipulou pra tomar coragem. Talvez seja o último do grupo e nem se classifique para as eliminatórias dela.

Como técnico de si mesmo bota fé nos seus atributos, jogadores. Sente estar menos preparado que outros, conta com a sorte, e por que não a fé?

Um lançamento nas costas da marcação e todos ficarão surpreendidos com o arremate certeiro e, na próxima escalação para a mesa de bar, estará fazendo tabela com ela.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Dilema:

Maus Agouros de Marlboro
Um dilema: Red ou Crema?

E no bolso é um estouro
Uma pena sem algema

Bons agoras sem marlboro
Respirar um ar mais puro

Vida dura ou sepultura?
Com ou sem se tem agruras...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Espera

Ele esperava algo que iria acontecer de qualquer forma a qualquer momento, pro seu bem.
Perdido em pensamentos inconstantes lembrava a discussão acalorada que teve com a namorada no dia anterior até altas horas: a relação. Tudo por ser inconstante.
Na verdade só ouviu, nunca foi muito de falar, e mesmo assim, entrou por um e saiu por outro.
Diferente quando um mendigo disse, Marcos, você está marcado para deixar sua marca. Embasbacado ficou por saber o seu nome por boca de desconhecido, e com o teor do recado tipo profecia. Quem era aquele homem? O que ele quis dizer? Frases que ficaram só no pensamento já que antes da réplica – necessária e não de impulso – aquele ser se foi, e Marcos ficou, com sua mochila e os apetrechos usuais dentro, imaginando qual ferramenta (arma) usaria para cumprir o seu destino; pelo menos daquele dia em diante não seria tudo igual.
Sempre quis ser mais. Em criança, adolescente; em adolescente, adulto; em adulto, rico, mas afinal não são desejos comuns a todos? Talvez, mas ele não era todos nem nenhum, era alguém, e tinha que se fazer acontecer, e aguardava o sinal para que tudo começasse. Hoje é diferente, não está de carro nem a pé, a mochila menos cheia, só o necessário: marmita. Iria trabalhar, se fixar em algo, e algo que tanto esperava estava para chegar...
Ele esperava o ônibus.