quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Entrevista/Ovo Rachado


Nunca gostei de entrevistas, alguém, em um posto soberano, tentando achar as rachaduras de outro, essas que podem muito bem terem sido causadas por diversas definições de galinha. Nisso consiste a brincadeira: saber se a pessoa está apta a participar do círculo do ovo choco sem entornar o caldo. O de ouro é conhecimento de causa. Não vá para a rinha sem saber com quem vai lutar, como foi treinado o oponente, e o que pretende com o combate. Isso dá gosto para o tratador. Sem isso, o máximo que se consegue é a prata, e o segundo vencedor é o primeiro perdedor. Mais do mesmo. Mantras, como canja da já citada ave não fazem mal a ninguém. E o bico, como fica? Aberto, mas só se souber cacarejar, se não, fechado pra não entrar mosca nem sair percevejo que impregnará o ar. Sabe como é: pé de fêmea de galo é ao chão durante toda a vida, e na cara aos que envelhecem.

É possível conseguir ter um terreiro firme, onde possa pisar; é preciso sair, ir além; no meio do caminho sempre existem várias pedras, e é necessário mudar o passo e dançar conforme o batuque do outro, pois lá, com o seu, parentes que voam não farão verão, os de lá, saberão que você não é um deles e te sacarão com bicadas dizendo que não está no lugar certo.

A crista. Há crista no meio. Um olhar te esquadrinha de cima a baixo e o outro os seus gestos. É preciso ser peso-pena-ligeiro para dominar quem te domina.

Casca, clara, gema, quando não é mais um inflado para ir para a panela no futuro. Essa é a composição de todos, é o fim de todos, quando as rachaduras várias não levam a nocaute antes, sem dar o mínimo prazer de ser frito para outro, ou justamente por não ter tido nem mesmo a capacidade de se dar assim, não tendo nem o regozijo de ver outro feliz, cai, quebra, esfarela-se. Menos um oval no mundo redondo. Que gira. Que pomba. Apenas, penas.
      

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