3 de janeiro – domingo – 10h30 Horário bom de acordar. Fui dormir às 2h00 da madrugada e meu organismo reage melhor. Hoje entro às 13h00, ai consigo fazer um pouco o meu ritmo natural. Há tempos não dormia oito horas de sono (nas últimas três semanas entre natal e ano novo trabalhei sem nenhuma folga e aos domingos o shopping estava abrindo em horário de semana), mas o time do sono já esta regulado para acordar mais cedo e não deixa que a noite seja ininterrupta then, surgem alguns acordares no meio do sono. Tomo café tranqüilo, coloco um queijo no pão, tenho como esmigalhá-lo melhor no meu método de comer com ferro nos dentes. Bebo 500ml de café. Saio para a rua sob um sol a pino do inferno, encontrando logo uma sombra para esperar o ônibus que não tarda. Sempre durmo tarde e só quando acordo mais tarde que fico um pouco menos pior – em relação ao sono – e esse dia é domingo (no esquema normal não fim de ano) ou quando estou de folga (algum dia da semana quando trabalho domingo). Ai, coloco um livro na algibeira e vou dentro da condução tentando aprender com os mestres “in-loco”. A bola da vez é o livro de Contos Vol. I de Hernest Hemingway . O meu auto-presente de natal. Do autor, só li Paris é uma festa, achei interessante, só não despertou maiores sensações. Estava entre O Velho e O mar e esse mas, como no gênero conto pode-se discorrer sobre um assunto ou situação em menos espaço, optei por esse. Li até agora um conto: Interessante. Eu quero trabalhar forma e conteúdo escrevendo, e contos por serem menores são mais apropriados para tal tarefa, escrevê-los ou lê-los, se formando um escritor ou se firmando o caráter de uma pessoa. Fiz um ano e meio do curso de Letras e o que me desgostou foram as muitas matérias e temáticas voltadas para a educação quando o que eu queria/quero, era/é escrever... Entre a possibilidade de pegar umas aulas como professor eventual e ser levado pelo barco sem um mínimo de dom pro ensino ou sobreviver no agora, resolvi ficar só no trabalho que não é a coisa que eu quero fazer até a morte, mas me dá fragmentos de vida.
Quando passo em frente às bancas no centro, olho os títulos e conheço quase todos, os que não tem na “minha banca” já vi em outra quando comprava algo, ou só folheava quando não entrava dinheiro no cofre – vide debaixo da cama.
12h30 Chego meia hora mais cedo. Quero ler a matéria do Mano Brown que saiu na Rolling Stone Brasil mas não dá tempo. Separar as revistas pelos seus setores: casa, moda, variedades (fofocas), variedades (variedades), carros, informática, decoração, receitas, importadas, e.t.c..., e tocar fazer as notas, que são muitas, pois no final de ano o sistema ficou uma semana em manutenção, e elas se acumularam.
Sento no computador que faz parte do quadro dos caixas, o número 1, que tem a placa de preferencial, e muitas vezes sou interrompido no meio dos afazeres. Sentam outros dois operadores nas máquinas ao meu lado e cumprem a defasagem que a placa me faz fazer. É tipo uma banca de jornal dentro da livraria, onde o responsável pelos periódicos é quem trabalha nos periódicos (abaixo do gerente, que foi promovido recentemente; é mais novo e mais antenado; é corinthiano, mas apesar disso é gente boa, então não preciso cantar todo dia “Bebete Vambora” como Jorge Ben Jor. O anterior era como um símbolo da loja, já está na rede a mais de trinta anos. Foi transferido, menos por vontade, mais por ocasião, e assim segue), a loja, a banca. Dar entrada, dar saída, fazer as notas, funções agregadas que são intrínsecas a periódicos. Num domingo tumultuado onde vendedores atendem vários clientes ao mesmo tempo, ao me verem sentado fazendo as notas, se perguntam (e me perguntam) o que eu estou fazendo ali?: Uma coisa que sou pago pra fazer e ninguém irá fazer por mim! Nesse caso, muitas acumuladas desgastam. De repente penso como Lázaro Ramos em “O Homem que copiava”, que o meu trabalho qualquer pessoa faz, e pra dar porque ao relato, sigo a ideia de um diretor de cinema que não lembro o nome, que toda vida filmada por um dia inteiro é matéria para um filme. Sigo.
Nos domingos trabalho sete horas com meia hora de almoço. Na semana são seis horas com quinze minutos de pausa. Entrei às 13h saio às 20h e, como a fila está mais sossegada, compro o CD de Arnaldo Antunes “Nome” e a revista “Conhecimento Prático: Literatura”. Arte esta sempre em pauta, mas falta tempo.