Ele voltava
do trabalho para casa na condução. Nos fones de ouvido, Capoeira de Besouro, de
Paulo César Pinheiro. Pensava nos ancestrais, forçados a sair de suas casas,
apertados nas naus, como quem hoje se aperta em busos. Nos dois casos, indo
trabalhar em terras longínquas.
Banzos. Cantarolares de beiços entreabertos. "Será que valeu? Será que os descendentes fazem valer?" Quando pensa no
preconceito que se vela, mas não acaba, não valeu. Fazem suas festas: Pagodes, Sambas, Raps, Funks do Rio nas periferias do Brasil. Bate-estacas nos bancos
apertados dos transportes públicos em som ensurdecedor até para quem está
perto. Tum-tá-tá, tum-tum-tá.
Tá certo... Difícil exigir purismo. Nem raça
pura. Somos mistura. Miscelânea. Feijoada. "Mas é bom dar uma abaixada no volume,
pois os cantos hoje em dia não são mais entoados em uníssono", diz ele em pensamento para um seu vizinho de assento, e roguemos que o outro o ouça para que não precisem os dois travar uma capoeiragem cheia de jogos de pernas no meio do corredor.
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