Ao mesmo tempo em que tenho a necessidade de dizer algo (escrevendo), percebo que tudo já foi dito (escrito), e de maneira bem melhor ou mais completa, mais cheia de êxito no desmembrar da complexidade, com mais fúria no desossar da costela de pensamentos das sinapses vagas. Latidos.
Me pasmo: refletir sobre isso já é a maior amostragem de que não conseguirei fugir de quem me persegue como também pode posterga-se, e — oxalá queira Deus —, tardará mas não falhará a plenitude do ser que se saiba íntegro, montante de grãos e cacos amontoados ao largo da pista oval ou do circuito de rua, que num fim ferro-velho ao léu da máquina que compacta a dispersão será um ser único, uno, que dará conselhos pelo carburador enferrujado onde soprará reminiscências do cachimbo, paz de cabelos brancos e carcaça enrugada. O parar de dar voltas atrás do próprio rabo.
Bem. Digo. Bem ou mal. Bom ou mau. O bom que se desdiz pode incorrer em maldade (nunca com “u”). “Uhhh” de vaias para aquele que culpado é solto pela frouxidão dos jugos. “Ahhh” de complacência quando é feita justiça e punido o mal que foi feito a alguém que só merecia bem. “E tenho dito”.
O cego cão encarniçado antes do seu sufrágio enxergava ruim, em preto e branco, tapado um olho com a pálpebra da penúria, papagaio sem dono de quem ninguém tinha pena. Sem este isto, apurou os sentidos, o olfato farejador de mentiras, o tímpano caçador de intempéries nos vãos ocos que saem das bocas de lobos acima dos pescoços de muitos passantes. Ele ouve também trombetas de anjos, solfejos de alegrias pela vida, pelo dia; cheira traseiros com olor de lírios, perfumados como almofadas de casas celestiais. Na sua cuca, tenta dar sentido. A sua língua animalesca está cheia de baba. Em balançar de focinho lança aos quatro ventos estes perdigotos.
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