Pergunta:
quanto tempo vive uma tartaruga? Resposta: Dependendo da espécie, mais de 100
anos. E um Jabuti? Já houve registro de Jabutis que viveram até 150 anos.
Os
dois são parentes na escala evolutiva. A primeira pode viver em água doce ou
salgada, já o segundo não gosta do molhado, então vive só em terra firme. Ambos
pertencem à ordem dos quelônios, como também o outro parente próximo, o cágado.
Um pouco de biologia.
E
o ser humano, o topo da cadeia, qual seria a idade ideal para a morte?
É
certo que a expectativa de vida tem aumentado com o passar dos anos, apesar de
todos os pesares. Mas, em quanto tempo cada um consegue realizar tudo o que
deseja na vida, colocar em prática todos os planos, "tornar-te quem tu
és"?
Na
semana passada filosofávamos sobre isso no boteco. Essa semana, com a morte do
escritor João Gilberto Noll, no dia 29, aos 70 anos, a pauta retornou. "E
o que tem a ver o cu com as carça?", indaga o mais expressivo dos leitores.
Explico.
Noll, em seus 70 anos vividos, ganhou 5 Prêmios Jabutis — uma das maiores honrarias
literárias para quem escreve, com o adendo do montante em dinheiro que vem
junto. Ou seja, no papel de escritor, cumpriu com o seu dever, alcançou o
cume do monte, o auge da carapuça que serviu ao trabalho moroso de juntar
letras e frases. Ornou seu casco.
Eu,
na conversa sobre o tema na mesa de botequim, afirmei que para mim 70 era um
bom prazo para conseguir o que se almeja e que depois só viria declínio. Bem.
Estou praticamente na metade desse prazo.
No
caso, espero ser salvo pelo acaso? Não. Tento ter ações que me levem a cumprir
meu destino, realista como um octogenário, sonhador como um menino, me vendo
por vezes cara a cara com o fim, me surpreendendo achando-me em outros momentos
quase eterno. Tipo um 'tiozão' que saindo todo dia para a luta diária da rua
chora como se fosse o primeiro dia na escola. E é.
O
criativo pega as frutas das ideias no ar, nos non-senses, ouve claramente o que
para outros só são noises (ruídos), é tachado como nóia. Sou mais Noll.
Conheci
o escritor gaúcho por um conto do livro 'Essa história está diferente: Dez contos para canções de Chico Buarque', no qual vários autores fazem releituras
de músicas de Chico em contos. A linguagem me cativou, a propriedade em lidar
com as palavras. Depois, adquiri 'Bandoleiros' e li com voracidade. Foi a
confirmação da primeira impressão. 'Harmada' é o próximo da lista. Não sou um
expert em J.G. Noll, mas do que li basta no contexto em que venho homenageá-lo
aqui pela justa medida entre o viver e o fazer.
Por
falar nisso, ou nele, o outro mestre das letras completou 70 em 2014. Tá mais
vivo do que nunca, novo álbum no forno,
outro livro depois... Eternizado e continua a produzir. De Hollanda, Um Artista Brasileiro. Um mito vivo. Igual era Noll.
Ficam
os exemplos. A comparação com os mais fortes pode levar à paralisação ou a
movimento para chegar ao nível. Sem pressa, com foco.
RIP
Noll. "É nóis", Noll.
Que
hajam sóis para iluminar outros compositores, escritores, tendo já alcançado
seus brilhos quando senhores. E que balas perdidas não matem nem Jabutis.
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