O
espinho é a vingança do peixe, tal qual a gordura que dá mais gosto à carne entope as artérias. Não tão tal qual. Quase igual, já que o espinho
fere, não é prazeroso, rasga a garganta do desavisado mastigador, ou mesmo se
camufla em suculento pedaço passando despercebido pelos olhos até do mais hábil
comedor de pescados. A vingança do peixe. O que resta do seu espírito ainda não
totalmente desconexo do corpo, antes de ressuscitar no terceiro dia em novo aquário celeste ou em céu de água.
Há
espinhos tão grandes quase ossos. Há goelas com enorme capacidade de
engoli-los. Guelras que se esgueiram e saem ilesas. Há um todo tal qual quase
igual e nem tanto. O ser do mar pacífico perdoa, tendo sobrevivido a várias
pescas esportivas, fazendo horas extras, cumprido o seu destino.
É
preciso falar de morte em vida — até porque morto não fala, pelo menos não com
toda e qualquer pessoa. Peritos leem sinais no que já se foi. Palitos ajudam a
retirar restos sobressalentes dos dentes.
É preciso falar de vida em vida —
porque enquanto houver um ínfimo pulsar, um íntimo pulsar, haverá um
esperançar. Se a esperança “for dessa pra melhor” será fato consumado, sinal de
que todo e qualquer espinho foi triturado e a ventura será a vingança da paciência.
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