Estava prostrado. Era um doente terminal.
Padecia, era certo, mas isso não o impediu de ter bons momentos. Coisas simples
que ficariam para a eternidade.
Para onde ele iria era um mistério, só que
não desapareceria por completo enquanto estivesse na mente de muitos. Memórias
são falhas. Misto de sonhos verdadeiros e dia a dia fantasioso.
Não teve nada de especial em relação aos que
o sucederam. O que marca são os significados dados a momentos específicos. No
fundo, o ciclo continuou como sempre. Idas e vindas. Coisas boas e ruins. Não
era melhor nem pior. Era. Ainda é. Logo, seria, ‘já era’. Por ora rebobinava a
sua fita: “talvez eu devesse ter dado um grau naquela fita...”; “já havia
passado a hora de ter guarida...”.
Seu rosto estava abatido. Alvo cansaço. Má
circulação do sangue. Não parou um dia se quer no último ano. Seu único ano.
Primeiro e último.
O lençol branco combinava com seu tom de
pele. Era típico daquele momento que vinha em seguida à comemoração do
nascimento de um famoso menino que viveu até os 33 de idade.
O ano da sua morte terminava com o número 3.
Prenúncio? Destino? Acaso? Não sabia. De coincidências em coincidências as suas
horas corriam rumo ao derradeiro fim. Faltava pouco, ou quase nada.
Dando-lhe as mãos, uma das enfermeiras do
hospital faz a pergunta que não queria calar: “O que deseja para os que vêm
depois de você?”.
“Desejo que sejam melhores que eu. Que
aprendam com os meus erros e aperfeiçoem meus acertos...”, e nesse momento, sua
voz embarga e o batimento cardíaco começa a aumentar em conjunto com a profusão
de fogos que brilha e faz barulho lá fora...
... A máquina mostra em uma linha verde o
seu ritmo, que depois de ir ao pico de bateria de escola de samba vai
diminuindo, diminuindo, di-mi-nu-in-do..., di..., mi..., nu..., in..., do...
Indo.