terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013

   Estava prostrado. Era um doente terminal. Padecia, era certo, mas isso não o impediu de ter bons momentos. Coisas simples que ficariam para a eternidade.
  Para onde ele iria era um mistério, só que não desapareceria por completo enquanto estivesse na mente de muitos. Memórias são falhas. Misto de sonhos verdadeiros e dia a dia fantasioso.
   Não teve nada de especial em relação aos que o sucederam. O que marca são os significados dados a momentos específicos. No fundo, o ciclo continuou como sempre. Idas e vindas. Coisas boas e ruins. Não era melhor nem pior. Era. Ainda é. Logo, seria, ‘já era’. Por ora rebobinava a sua fita: “talvez eu devesse ter dado um grau naquela fita...”; “já havia passado a hora de ter guarida...”.
   Seu rosto estava abatido. Alvo cansaço. Má circulação do sangue. Não parou um dia se quer no último ano. Seu único ano. Primeiro e último. 
  O lençol branco combinava com seu tom de pele. Era típico daquele momento que vinha em seguida à comemoração do nascimento de um famoso menino que viveu até os 33 de idade.
  O ano da sua morte terminava com o número 3. Prenúncio? Destino? Acaso? Não sabia. De coincidências em coincidências as suas horas corriam rumo ao derradeiro fim. Faltava pouco, ou quase nada.
   Dando-lhe as mãos, uma das enfermeiras do hospital faz a pergunta que não queria calar: “O que deseja para os que vêm depois de você?”.
   “Desejo que sejam melhores que eu. Que aprendam com os meus erros e aperfeiçoem meus acertos...”, e nesse momento, sua voz embarga e o batimento cardíaco começa a aumentar em conjunto com a profusão de fogos que brilha e faz barulho lá fora...
   ... A máquina mostra em uma linha verde o seu ritmo, que depois de ir ao pico de bateria de escola de samba vai diminuindo, diminuindo, di-mi-nu-in-do..., di..., mi..., nu..., in..., do...
   Indo.

sábado, 30 de novembro de 2013

"Ô, fio, cê tá bem?"

A realidade pode parecer surreal. Ideias sem pé nem cabeça que tomam corpo. Conexões que uns veem, outros não. Naquelas horas onde sem o ‘e se’ ‘aquilo’ não ocorreria. Reveladas relevâncias de acontecimentos. Seres humanos muito atentos que tropeçam no meio-fio. E caem: “Ô, fio, cê tá bem?”, pergunta alguém. “Estou!”. Estava noutro lugar. Pensamentos tinham subido ao céu. A mente, mundo que é seu. Mentiras d’outros mundos compartilhadas. Escadas de paradoxos. Origens. Destinos. Lugares de partidas e de chegadas.  Caminhos. Linhas de mãos. Riscos no couro cabeludo. Lãs que sós não são lá grande coisa, mas que juntas são algo mais. Deslizes de português. Pães da padaria. Água. Curar ressacas. Mágoas. Bate-estacas. Cardíaco abatimento. De um obscuro acontecimento podem lampejar lights repentinas. Que darão insights. Percebe-se a aparição do verde, que jaz esperançoso por uma sequência de oásis. Que se juntou ao amarelo num patriotismo virtuoso. Prenúncio de amadurecimento. Ou fruto que cai na terra e é encoberto com cimento.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Pregando peças

Existem muitos quebra-cabeças. A imagem vista a esmo lembra a de um bicho de sete cabeças. A montagem é feita pouco a pouco. Com calma. Vislumbra-se o todo, colocam-se as partes, tentando o encaixe.  Talvez não se ache de cara. São tentativas e erros. São xingos de raiva quando não, e berros de alegria quando sim. Ou então mugidos e grunhidos. Vai depender. Sempre. E se seres inexistentes são irreais, como achar a concepção da imagem final que se quer montar, se ela é algo ainda não visto? São muitos 'ses'. Pode existir uma resposta: Pela imaginação! E ela é subjetiva e pautada pela intuição, pelas sensações, pelo repetitivo engolir de sapos que se altera com visões de pássaros verdes. E das relações formadas por umas coisas e outras. Isso vem da denominação, da definição, e não só da coisificação. Em dado momento são jogados os dados, e a sorte ou o azar são inexistentes. Variam conforme as lentes que enxergam. Lentamente olhos correm e varrem todo o perímetro, tentando achar as repetições e conjunções que dão ordem àquele troço. Trocadilhos às vezes não são bem-vindos. Trocas sem lucro de uma das partes nunca são. Os complexos léis revirados são partículas do mesmo deus. Que não acode sempre. Ai seria fácil! Mas as dificuldades são em níveis. Faixas etárias, situações sociais, capacidades cognitivas. Variáveis da função x. Mantendo o ritmo constante para não topar com um buraco negro e ter a centelha extinta, consegue-se vislumbrar uma luz. Que pode ser nave. Que pode ser never. Que pode ser apenas um vaga-lume na escuridão. Se houver o sentido na próxima investida de peça, a cabeça não se quebrará.

sábado, 31 de agosto de 2013

Semanário 6

JOVEM ESTUDANTE DE SÃO CARLOS SE INSPIRA NOS ESTUDANTES ESTADUNIDENSES E ATIRA EM EX-COLEGAS. O fato ocorreu na USP. Pelo que foi relatado, o rapaz havia sofrido um trote violento ao ingressar na faculdade.  Houve uma tentativa de abuso sexual por parte dos veteranos. O abusado inconformado se rebelou e voltou ao recinto de ensino superior desferindo tiros com arma de fogo. Ninguém ficou ferido. Quem mais se prejudicou foi a própria vítima, psicologicamente. Segundo uma testemunha, o atirador estava tranquilo e calmo antes de executar o seu plano. Após o ocorrido concedeu entrevista onde explicou os seus motivos,  e alegou descaso das autoridades responsáveis do campus com o caso. Estava usando remédios que já não surtiam efeito. Em sua fala, aparentava clareza de pensamento e um nível vocabular elevado.  Não à toa estava em uma universidade estadual. O estudante veio de família humilde, estudou em escolas públicas, se esforçou para chegar aonde chegou. Ao passo, o caso mostra que o acaso das más situações pode ocorrer a qualquer hora, em qualquer lugar. Uma possível repulsa dos jovens de posses vindos de escolas particulares que tiveram preparo e incentivo? Medo da concorrência? Restou a ocorrência!

O CORPO MÉDICO QUE VEIO DE CUBA NÃO ESTAVA EM FUGA. VEIO PARA COBRIR A LACUNA DO QUE DAQUI REFUGA. E deu o que falar a vinda de médicos cubanos para atuar nos lugares mais longínquos do Brasil onde há defasagem no atendimento. Os que aqui se formam não querem ir para essas regiões por serem distantes dos grandes centros. O preconceito - normalmente velado -, veio à tona: chamaram médicas de ‘empregadas’, estranharam a negritude da maioria. Alguns ainda tentaram defender a atitude de quem acusava o governo brasileiro. Foi uma solução paliativa. Já que ninguém daqui queria ir aos lugares onde eram necessários, convidaram os de lá. Alguns questionaram a questão do regime de trabalho dos cubanos. Segundo estes, seria um regime escravo. Os acordos foram feitos conforme as resoluções vigentes em contratos de atuação mútua entre países, através da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), mesmo assim gera controvérsias (vide matéria e comentários). E o Brasil não é o primeiro lugar em que médicos cubanos vêm. Vieram dar uma mão. E das muitas manifestações vistas, aquela onde se diz que em ‘Terra Brasilis’ além de saúde também nos falta educação foi uma das mais enfáticas. Falta-nos mais. A constituição nos dá vários direitos. Os advogados tendo estudado Direito sabem como achar brechas em leis. Em Cuba Fidel é a lei. É difícil entender as coisas aos ‘léis’. É preciso juntar as partes (ouvir os dois lados, analisar as divergentes opiniões), para compreender o todo.

MUITOS CASAIS SERÃO DESFEITOS NO MUNDO AO MESMO TEMPO. Corre-se o risco. A Pont des Arts, em Paris, onde são colocados cadeados para dar simbologia à união dos apaixonados corre o risco de cair. Pelo acúmulo de peças de ferro, as laterais da passagem foram sendo fechadas por completo. O concreto começa a dar sinais de desgaste. A estrutura arquitetônica não foi projetada para comportar tantos relacionamentos. Cadeados em sua maioria são fortes, resistentes, mas é um fardo pesado até para uma ponte, um ser-objeto inanimado. Cabe ao responsável pela manutenção da cidade decidir pela vida a dois de muitos. Corre-se o risco de a maioria daqueles casais que depositaram as suas esperanças nesse símbolo do amor já terem sido desfeitos. Hoje tudo é mais rápido. Uma ponte é mais importante. É o fluxo dos cidadãos que após cada separação seguem o caminho para o próximo encontro.

SHEIKS TINHAM HARÉNS DE MULHERES E HOJE BEIJAM HOMENS. São novos tempos, é o novo mundo. Cada um tem o direito de fazer o que bem entender, dentro da legalidade – às vezes até fora dela. O meio futebolístico sempre foi machista. É uma diretriz que mudou pouco ao longo dos tempos. O beijo que o jogador Sheik deu em um amigo depois de um jogo gerou grande alvoroço. Primeiro por ser um beijo entre amigos, o que foi afirmado pelo próprio jogador. Segundo porque a torcida do time em que o jogador atua não gostou. Fez até protesto para expressar a sua indignação. Diziam não ser homofóbicos, mas que não era possível aceitar esse tipo de coisa. Essa própria torcida sempre usou de alcunhas de cunho homossexual para zombar de torcidas adversárias. Na internet – onde a repercussão é rápida e todos querem dar pitaco -, muitos(as) começaram a defender o jogador que deu o selinho no amigo como se ele fosse um estandarte da bandeira contra o preconceito. Não era. Não é. É um jogador que gosta de polêmicas. Tanto que foi se desculpar com a sua torcida e teria afirmado ser brincadeira o ato cometido, até porque não era torcedor de outro time paulista que recebe esse tipo de desígnio, e que certa época até teve um jogador com todo o cacoete de ser gay, mas que nunca se assumiu como tal. Que Sheik continue beijando quem quiser, homem, mulher, macaca (que ele tem de estimação). Agora os mesmos que usavam de preconceito na hora de falar de futebol - o que desvia a conversa do assunto em questão -, para se defender usam o argumento que repudiavam a seu favor. Das duas uma: ou a pessoa mudou de opinião – e tem todo o direto -, ou não sabe bem o que quer, e poderá mudar de time, ou quem sabe até de sexo.  

DEPENDENDO DO CASO, ENTRAR NA USP É AZAR. MÉDICOS NÃO SE FORMARÃO LÁ POIS NÃO HÁ O CURSO, SÓ NA CAPITAL, E, SE CASAIS TRADICIONAIS VÃO SENDO DESFEITOS, OUTRAS UNIÕES VÃO SURGINDO, E BEIJOS SERÃO SEMPRE SINAIS DE AFETO.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Fascínio e repulsa

Ao mesmo tempo em que repulsava, intrigava, fascinava, desgovernava aquele coração bobamente tolo. Naquele frigir, naquela fricção de egos, poderia existir um elo, como o de peças que se encaixam de tanto forçar. Pela experiência, pelo empirismo, era sabido que forjas extremas são rechaçadas rapidamente. Ou nem isso: apenas não colam. Não grudam. Não dá liga. Liga? Mas ele queria pelo menos parcos momentos de carícias em pêlo, partilhando a comunidade de animais da espécie humana, simples e básico como num instinto de macho que cheira os feromônios da fêmea no cio. “Xiu!”. Nem um pio. A cisão era inevitável. Pois antes da desdenha há a compra. Pode até ser compulsória. Daquela que muitas vezes joga olhares ao léu e sai com vários peixes pacus na sua rede de ostentação, pegadora. Muitos de quatro patas que se mantiveram agachados para venerar a musa que aprendeu a andar ereta saem com o rabo entre as pernas. E mesmo aquele que viu, ouviu, sentiu, deixa de lado todos os seus sentidos para insistir em um mesmo erro. Não é nem burrice. É uma força maior! Como se aquela pessoa fosse um imã de atrair gente. E aqueles contrários, com auras de gambás, que repulsam por osmose, quando atraídos se entregam sem mensura. E dai surge a principal divergência logo de cara. E vira diversão de parque. Carrinho de bate-bate. Rato de laboratório preso num labirinto para testes de novas drogas. Encontrará a saída? Talvez, um dia. No enquanto isso não acontece, alternam-se dias de sol e chuva, guardando mindinhos dentro da luva, ou ostentando dedos médios ao deus dará.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A espera difícil por Racionais e Max de Castro


Quem virá primeiro: Racionais MC's ou Max de Castro? 

Pela ordem cronológica seria a sequência lógica. O grupo de rap lançou seu último CD (um álbum duplo) em 2002, o 'Nada Como um Dia Após o Outro Dia'. Já o cantor, compositor, produtor, arranjador e multi-instrumentista trouxe ao mundo o seu último trabalho em 2006, o dançante  'Balanço das Horas'. De lá pra cá, alguns sinais. 

O Racionais vem pincelando faixas novas, lançando clipes dessas músicas, mas o tão aguardado álbum, nada. Edi Rock já lançou o seu segundo solo. Será que Mano Brown também quer seguir o mesmo caminho antes do derradeiro novo lançamento em grupo? 

Max começou a fazer boletins pelas redes sociais, onde mostra um pouco da sua nova investida em disco. A data de lançamento, nada. Os fãs esperam. É só o que podem fazer. 

Poderia haver mais consideração. Tudo bem não quererem seguir a ordem mercadológica que morre pouco a pouco com a Indústria Fonográfica tradicional, onde deve-se lançar algo novo todo ano, só que conquistar um público cativo e deixá-lo sem saber das novidades é de certa forma cruel.

Sem desculpas. Só basta presentear quem tanto aguarda com álbuns quentes recém-saídos do forno da Sonopress da Amazônia, ou de onde quer que seja (já que as novas tecnologias diversificaram as formas de produção).

Que a resposta da pergunta feita no início não seja sem fim como a da velha questão do ovo e da galinha.   

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Hiato

Hiato. Tempo. Entre. Hífen. Arrego. Não existe obrigatoriedade em escrever. Existe necessidade. Fisiológica. Merdas. Qualquer um pode dar opinião sobre qualquer assunto. Na base do acho. Onde não há encaixe há desmanche. Pautados pelo quê? Saber de tudo? Acrescenta algo em todo arremate? Conte-me mais. Cante-me histórias inventadas mais saborosas do que o mais do mesmo que todos insistem em contar. Churumelas são chorume. Arco-íris de uma só cor. Divergências à parte. Partes que só são lados separados de um mesmo corpo inteiro. Só corroboram para o mesmo fim. Antes do fim, algo mais tem que soar além de um singelo sino de igreja que demarca horários de Policarpos Quaresmas. As regras e normas mantêm a continuidade. Mas o tempo é contínuo de qualquer maneira. Nunca se está onde foi o começo e nunca se chegou ao limite. Os que chegam não voltam pra contar. Ou voltam. Depende da crença. ‘Bença’. É o que se pede na saída e na chegada. No ínterim, acontece tudo que se busca. Sempre é o momento. Sem sombras de vento. Que se desmilinguam as dúvidas. Muitas. Como um sol para cada cabeça em território de verão extremo. Também pode dar tremedeira. Tremeliques. Palpite infeliz? Nunca ter razão. No meio-fio, na borda, na orla, o tropeço não trará chão: Trará céu! Trará voo. Basta acreditar. Nem todo avô sabe de tudo. Nem toda ascensão é uma subida. Ascensores sobem e descem mil vezes por dia e isso não faz nenhuma diferença para eles. Às vezes, sinais vem à esmo, como semáforos desgovernados. Ciclistas esbaforidos apostam na saúde. Transeuntes do dia a dia se revoltam com as conduções compartilhadas. Carros são caros. Contas pra vida. Conchas pro ouvido soam paradas. Respiros. Ares. Um passo calmo em meio ao caos.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

4

O cobrador ria, ria, ria. Parecia feliz. No corredor do ônibus, lotação demasiada de caras fechadas. Ele não: ria. Eles não riam. Também, pudera. Horário de pico, depois de um dia inteiro aturando as picuinhas de patrões e/ou clientes. Uma massa uniforme de suor, baforadas de enfado, muxoxos onomatopeicos. 
Vidros embaçados. É embaçado! 
Ele não. Desembaraçado tentando entreter os outros. Afinal, conseguiu o que queria: não enfrentar lotações; não ser amassado nas curvas do itinerário. O trabalho que escolheu. A vida que escolheu. 
“O troco...”.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Se pá, PI²

Ele estava pisando em cacos de vidro com a couraça da sola dos pés. Né? Memo! Procurando o Nemo interior que se perdeu. Em meio ao mar que se arrebatou. Sôfrego. Trôpego. Pelego. Passível de erros como toda máquina humana, e também às repetições, assumindo características de um sistema operacional padrão. Símio. Ciborgue. Alguém que bufa, suspira, blefa. 'Cêis' pira? Muxoxo. Dão de ombros em desdém. Dão amém sem fé. Joelhos sujos de promessas. Outros suculentos nas panelas. Oferendas. Prendas. Moedas necessárias para a compra de moelas na venda. Quenga também é ofício. Difícil. Ou fácil. Dependência do que ou de quem se quer edificar. Se é que algo há. Revertérios não seguem critérios. Fogem aos hábitos. Não se forjam em álibis. Consciência limpa dos quarenta ladrões: faziam o que sabiam de melhor. Por que fritar os miolos quando há batatas? Moreno pulmão. Loiro rim. Pode rir, mas... Mais! Abuso de símbolos. Sinais que abrem a percepção: fechados. Guardadas as proporções, todo herói retorna da luta diária com algum tipo de poção que potencialize seu mundo bom, ou que amenize o ruim. Sim! Necessidade de otimismo. Chegando ao limiar, no tropeço, na descida íngreme, ainda pode gritar “Vou cair em pé!”, ou “Isso é uma ilusão, não estou suspenso no ar, entregue à força da gravidade”. Só em sonhos, onde o limite não é o céu, é o chão, no tombo. Ele tudo podia. Enquanto pudesse confiar na sua mente. Se pá. PI².

sexta-feira, 19 de abril de 2013

São Paulo atende às preces dos crentes torcedores

Fé. Era o que os torcedores tinham. Milagre. Era o que esperavam. E o santo que dá nome ao time deve ter atuado nessa intermediação entre o que se pede e o que é concedido, pois, afinal, o São Paulo venceu o Atlético-MG por 2 a 0, e contou com a vitória do Arsenal (AR) sobre o The Strongest (BO) por 2 a 1. Com isso, os dois times foram eliminados da Taça Libertadores 2013, e o Tricolor paulista se classificou em último lugar. Assim, vai jogar nas oitavas de final contra o primeiro. Ou seja, o confronto de quarta-feira passada vai se repetir.

Ronaldinho Gaúcho afirmou que o jogo contra o São Paulo ‘era brincadeira’, treino para a próxima fase. Rogério Ceni, que fez o primeiro gol, de pênalti, e abriu o caminho para a continuação do time paulista no torneio, rebateu dizendo que ‘espera que ele jogue sério no próximo embate'.

Polêmicas à parte, o jovem Ademilson entrou com a camisa número onze e marcou o segundo gol, ‘abrindo o caixão’ do time que todos acreditavam que já estava morto. Renasceu, o Jason.

Atletas convertidos muitas vezes creditam a vitória aos céus, como se a força de um ser superior pudesse influenciar em disputas esportivas do mundo, torcendo para um lado ou para outro. Não. A força vem da torcida, da união de um montante de pessoas com o pensamento em um mesmo ideal (sem contar os que ‘secam’), o que, quando existe o limite da ponderação e do respeito, ainda faz o espetáculo valer a pena, sem barbaridades, torcendo com a alma.

O torcedor sempre será o que move o time, muito além da força do dinheiro que financia o meio futebolístico. Ele não veste a camisa:  traz a insignia do clube em seu coração.

É possível mudar de religião, mas mudar de time é pecado. Amém, a quem faz por merecer as bençãos no gramado, e os louvores nas arquibancadas.

domingo, 14 de abril de 2013

3

Cria das ruas. Crescido nelas. Mais exatamente no entroncamento, no sinal. Fechado, aberto. Vermelho, verde. E a vida sempre fechada, no vermelho, atrás de um verde, com os olhos vermelhos.
Rosto negro e nariz abaulado cheio de brancos dos lados. Cresceu. Uma barba surge. Ou será sujeira dos anos?
Atingiu maioridade: o homem do farol. Ou ainda será moleque?
Alguns deixam trocados. A roupa é sempre a mesma, nunca troca. Tipo personagem de desenho animado. Anima-se para trocar o dinheiro por pedras. Nunca brincou de pedrinhas. Latinha de Coca-Cola, vazia. É esse o uso. Não bebe o líquido. Consome. Dilui o sólido. Com fome.
Sem depressão. Tem afazeres todo dia. Toda noite.
Não vê futuro.
No natal não terá presentes. Nunca lhe perguntaram o nome. Será que lembra?
Mais um dia. Mas para ele não foi igual aos outros. Para os outros que o viram naquele dia também não. Encontraram-no estirado na calçada, tostando ao sol. Deram o S.O.S. Chegou o S.A.M.U.
No sinal fechado, de dentro do micro-ônibus, olhares de desdém, indiferença, pena, dó. Igual quando ele estava em pé. O menino tombou. Não aguentou o baque.
Nunca mais fora visto por aquelas bandas. Funerais fúnebres nos fones de ouvido, ou funks do Rio, dos negros seus irmãos de raça. Puxaram o sinal. 

quinta-feira, 28 de março de 2013

Pros próximos

Sabatinada de tiros. Aves em voo raso. Arre. Vixe. Asas. Plumas. Líquido vermelho escorregadio que cai do ventre, de entranhas, como furo no tanque. Berro. Estouro. Penas. Caem. Pena. Pisam. Almoço. Janta. Junta tudo na panela. Joga fora na guela. Alimento. O cimento não deu conta. Só do mé. Tanto pó que subiu: só pô pó! A lei do mais fraco que tem o dedo mais duro. Não dedura. Atira. Não é tira. Tira vidas. A lei do mais forte que foi mais bem alimentado. Barriga saliente de bem-aventurança. Prosperidade. Dita destinos de outros com o lábio. Assina o texto do ghost writer com a caneta de marca gringa. Nada agrega, além de herança para as suas próprias gerações futuras. É como se fosse uma raça desassociada da humanidade. Super-Humanos. Supra-Humanos. Manos sabem disso. Por isso metem o dedo. Não pra justificar: um livreto de biologia que descreve a vida dos mamíferos nas cidades grandes. A evolução após as mãos conseguirem dominar as ferramentas. Balas de menta escondem cheiros que veem de dentro. Rostos e corpos perfeitos. Ninguém vê além da casca. Um toc-toc-toc bastaria para decretar algo oco. Um tic-tic-tic denuncia algum TOC. O tic-tac não para enquanto armas fazem pei-pou-pá. A percepção do que se ouve pode ser diferenciada de tímpano pra tímpano. Como retinas podem ser enganadas com cartazes de leitura dinâmica. Infinitas palavras por minuto. É como tosse. Como cuspe. Sem serventia. E um berro faz pá na cara dum cara. Ele cai. Janta de abutres. Urubus. Berros da família. Voltará ao pó. Por enquanto, no cimento. Sem fome. Nem nada. Deixa tudo pros próximos, dele mesmo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Brumas

As brumas se embromam e o sentido se esvai pouco a pouco. Não há refúgio em Brahmas, nem em um embrenhar em matas. O mato está seco. Até Vanessa veio de lá para cá. E aqui, todos mais cá, que lá. Caídos. Caindo. Como frutas verdes de árvores. Como pássaros acertados por estilingues. Brincadeiras de moleque. Ele não teve. Não tiveram. Não tinham tempo. Tapados que não assistiram Topo Gigio, mas sim águas correndo pelas ruas, na tela onde a imagem exibida era a do local onde moravam; como um filme da vida real, como um vídeotape com os melhores momentos dentre os piores. Aglomerados. Conglomerados. Lotações. Loções após barba que não são usadas. Barbas por fazer maquiam faces marcadas pelos anos, pelos sóis. Há fios de suor que escorrem. Pêlos queimados: quase matagais em chamas. Um mulato que fica negro por vários cânceres do meio-dia. Ultravioletas. Raios que partem. Outros povos de mundos similares ou mais avançados assistem. Insistem em rir com as insistências dos erros consistentes. Binóculos de tecnologia avançada. Enxergam buracos negros. Os que são observados usam óculos de lente preta, comprados no camelô. Camelos pastam na areia movediça. Nos pântanos de concreto. Caquéticos meninos novos não sabem de outros planetas. Nem de estados. Nem de países. E ele pula a poça para entrar na carroça hi-tech. Corrimões por onde passaram mil mãos. Bactérias. O reino Fungi é forte. O carro forte é fraco, pois está sendo guiado por bípedes falhos. Fulos. Só carregam os pacotes. Sentem o cheiro, lambem o beiço, mas o gosto é subjetivo. Deve parecer isso ou aquilo. Só sabe quem tem a chance. A vez. A voz dele tosse. A gripe é do ar-condicionado. Condicionado a tomar remédios. Os anticorpos já morreram. Ante um corpo morto, muitos são indiferentes. Ele não. É um corpo-morto no tempo-espaço. Vive.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Semanário 5

BENTO XVI CANSOU DO CALO APERTANDO O SAPATO E QUER VIVER COMO UM CHICO BENTO. A notícia da renúncia do papa causou impacto no mundo todo. Num átimo, o pontífice tomou a decisão que achou mais propícia ao seu momento pessoal. O representante do Céu na Terra – segundo os preceitos Católicos -, foi muito recriminado pela sociedade em geral por defender a prática do ato sexual como sendo possível apenas sem preservativos, posição explicável pela visão do sexo só após o casamento, mas, abominável por estarmos em pleno séc. XXI, onde a liberdade carnal predomina. E justamente na época da ‘festa da carne’, Joseph fez seu anúncio, deixando muitos ‘Josés’ ao deus dará. 

CORÉIA DO NORTE FAZ TESTES COM BOMBA NUCLEAR. O raio que caiu na basílica de São Pedro momentos após o pronunciamento do Papa pode tanto ter sido um sinal do outro mundo, quanto um efeito colateral dos testes feitos pelo outro lado do mundo. Os Estados Unidos – sumos defensores de todos os mundos (inclusive contra os ataques extraterrestres do cinema e de um possível ataque alienígena real) - foram chamados para tomar uma atitude que freie o impulso bélico de destruição em massa, ainda mais quando um anúncio de conclamação à guerra foi feito por TV estatal da Coréia. O clima está tenso! Por ora, que fogos de carnaval alegrem as vidas e que as cinzas só sejam da quarta-feira. Que ainda não venha a 3ª Guerra Mundial, nem a 4ª, e que possa ser lançado o próximo álbum de Erykah Badu

‘A MOCIDADE ESTÁ MAIS ALEGRE DO QUE NUNCA’. Foi assim que Sandra Annenberg fez a chamada da matéria que falava sobre o bicampeonato da escola de samba Mocidade Alegre, no carnaval de São Paulo. Um jogo de palavras interessante para Jornalistas tão habituados ao comodismo. Talvez, justamente pela descontração inerente a essa festa, foi possível ‘brincar’ com as palavras, como os foliões e folionas - designação estranha para as mulheres que curtem folia, quando estamos mais acostumados a ver ‘foliã’-, brincam pelas ruas, parques e avenidas. Pelo que vi e ouvi, muitos estagiários das redações saíram para cobrir os desfiles e blocos, como um teste para as futuras matérias sérias, enquanto os mais experientes descansavam, ou cansavam de tanto pular, cair e levantar. 

A MANCHA-VERDE FOI REBAIXADA, COMO UM ESCORREGÃO NUMA MANCHA QUE FAZ CAIR. Para o torcedor Palmeirense não está nada fácil. O time já havia sido rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, e agora a escola de samba da torcida também cai. Um teste para corações e nervos do qual os mais antigos ‘verdes’ já estão acostumados, sabendo que toda agremiação que participa de qualquer tipo de disputa está fadada a glórias e/ou fracassos; fases ruins e boas; tempos de plantar e de colher – como está em Eclesiastes. Para os mais novos, é uma prova para saber se conseguem aguentar um período não tão bom, para depois terem a bonança. A fé de Jó. Em jogos, sempre envolvida. Como se santos torcessem. 

PARA JOGOS, CARNAVAIS E GUERRAS, ATÉ PODE-SE QUERER CONTAR COM A FÉ, MAS O QUE VALE É O PREPARO. E ALGUMA SORTE.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Danças do tempo

Dançavam conforme a música dos pingos d’água que caiam incessantemente sobre os corpos. O calor de brasa fazia com que as gotas se evaporassem rapidamente. Presentes compartilhados. Passados superados. Futuros almejados. Espíritos calejados. Estados sólidos da matéria que poderiam se permitir ficar gasosos e voar com o vento ou, dependendo do caso, serem maleáveis como o líquido. Passo a passo, mão com mão, para não haver queda. Pulando as poças. Emergindo de fossas. Ir para a roça seria um refúgio e não uma figura de linguagem para alguma perda. Não havia peso e medida para saber o que significava. A balança não pendia, por precaução dos instintos ponderados. Tudo nos pontos de vista: como os grãos que um astronauta vê na Terra, olhando de cima; como a beleza relativa de um filho para a mãe; como o valor de vidas que não podem ser mensuradas e que mesmo assim se vão aos montes todos os dias em todos os cantos. Também surgem outras. E o choro é canto que encanta como uma música boa para os ouvidos por trazer a novidade de timbres e melodias novas, como pode enfastiar ao longo de madrugadas fatigadas sem sono, na balada do bebê bonito (na maior parte das vezes eles sempre são). E são o pai reveza, para que o filho permaneça a salvo. E irá ensinar os passos das músicas que todos dançam, irá ajudar a levantar, irá incentivar nos bailes. Se for balé, que seja. O que vale é a felicidade. O resto é balela. E ela é subjetiva. Encontra-se nos subsolos. Onde todos ouvem os seus sons prediletos nos periféricos externos e todos os seus sons internos mutuamente, até os preteridos. E isso vem das danças. Dos que dançaram – literalmente ou figurativamente. Mas nessas horas estão todos parados, sentados ou em pé, nas viagens do dia a dia, entre um local e outro, nos intervalos da emoção, ou se emocionando com simples sinais do tempo, como o sol, o vento, a chuva.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Caso fosse caso de casos

Os desencontros o deixavam tonto. E cada vez mais vinha à tona o desencanto. Talvez estivesse mesmo sofrendo por carma, e não tinha calma. Diria que era injustiça, caso fosse caso de casos de outras vivências em eras passadas, como intencionavam algumas crenças, mas não: sabia dos erros que cometeu nessa, e justificava o penar nas penas de escrituras que sangravam sagradas pelo mal cometido ontem, antiontem, in the last year. In the new, rebobinava a fita porque a ação não andava. Foi por aquilo, deixou aquela brecha no rastro, lascou-se, pisou em madeira quebradiça e depois quis juntar os galhos com cuspe. Olhou na íris dela, a sua amada do momento; viu o medo de um futuro conjugal que emanava do espelho de su’alma. Deu-lhe flores, e ela riu, pois eram de plástico, e nada duraria para sempre, que ele ficasse só, com as suas penitências. Ele achava que podia compartilhar, mas, para ela era muito chororô. O chamou de moça. Virou corno manso. E ela se foi, como chuva passageira de verão. Deixou estragos: Um homem com boca de bueiro que só palestrava aos seus pares com palavras fétidas. Logo esbarrou em outra, em outra, em outra, e já não sabia de que forma proceder. Flores de verdade murcharam na sua mão, aguardando o momento da entrega que nunca chegou a acontecer; pétalas caíram ao chão, com o alvoroço do vento que o lembrava do seu não merecimento. Não era mérito: era sorte. Não pronunciava a palavra contrária para não chamar maus agouros. O passar do tempo que rangia como porta velha todo fim de ano lembrava que por mais que não dissesse, ele estava lá: o azar. Ou pra ter um pouco de esperança, a falta de sorte. Essa poderia acabar. Não. Sim. Positivamente. E continuava a esbarrar, daqui, de lá, achando que uma topada de ombro poderia mudar todo o percurso. O inverso, murros na cara serviriam para pagar as suas aberrações de burrice borrifadas barbaramente, o deixando tonto, desencarnando o desencanto, ficando menos suscetível aos desencontros. Se é que era possível. Se é que tudo é possível.