sábado, 31 de dezembro de 2011

Cores de fim de ano

O sinal está aberto, está verde! As renas passaram. Foi dada a largada. 

Muitos vão fechar o ano no vermelho, depois dos amigos secretos que se mostram, das compras natalinas na rua Treze de Maio em Campinas, na 25 de março em São Paulo, ou em outros centros de compras afins espalhados por toda a extensão territorial do país. 

Dentro da América do Sul, abaixo da linha do Equador, a brincadeira será com bolinhas de barro, numa representação de neve marrom, e não branca como comumente se vê. A original, por sua vez, só cai às vezes, ao sul desse país da América do Sul, sendo muito curtida, quando não causa desgraça, e isso não é raro. A desgraça é dos pés amarelados que amassam a terra batida laranja, abatidos com as chuvas de verão que vêm ciclicamente pós-fins de ano, mas com esperança no sol amarelo e laranja que há de brilhar de novo e de novo e de novo, e secar as solas, as lágrimas incolores das famílias majoritariamente negras que saíram das senzalas e se acomodaram mal nas favelas. 

Comunidade de comuns. Bonés vermelhos sobre os cabelos raspados. Barbas ralas. Pretas. Bigodes de Robin Hood’s, ou de ‘Beirarmares’. O saco de papais é de juntar latinhas. 

Toda a preocupação é pra depois. Por ora, vamos pensar só nos fogos pirotécnicos multicolores e na prata dos espumantes e bolinhas d’água das garrafas de cerveja. 

Bebamos. 

Comemoremos o anil da bandeira com doses de licores, lentilhas de cor musgo, pernis avermelhados. 

A esperança é verde, e amadurece a cada novo ano.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Carta

Intermitente como as mortes de José Saramago. Intenso. Tenso. Como se cada último sopro de vida assumisse a simbologia de um show ao vivo, não se enquadrando na era da reprodutibilidade técnica, na Indústria Cultural. Cru como o álbum de Seu Jorge ou como ele comia na época das vacas magras e moradia nas vias públicas, se é que houve o fato. Cultuando os deuses como se fosse o descobrimento de índios despidos e as crenças deles fossem assimiladas pelos colonizadores. Estação de pernilongos que querem zumbir nos ouvidos baboseiras em línguas desconhecidas dos caramurus, indígenas que assistem e leem jornais, pesquisam na internet, teem perfis nas redes como se fossem almas. Cultuam. As picadas antigamente eram mais doidas! Ou nem tanto! A pele era mais rija. Hoje, a borracha que reveste os ossos das populações é de má qualidade, cultivada e curtida com bolachas e bebidas lácteas. Aedes bebem o sangue de plebeus ou de figurões sem discriminação. Existe uma intenção de extrair o melhor ou o pior de cada qual, sangue bom ou sangue ruim, respectivamente. O respeito é nulo. O voto é nulo. Inaladores quebrados têm sua função anulada. Enquanto Pero Vaz escrevia a carta, os habitantes naturais da terra acariciavam as suas prendas. Está na genética delas desde as suas ‘Isas’ vós: preterir o romântico e ficar com quem tem a pegada, os brutos, que amam, indo direto ao ponto sem rodeios. A pele que hábito é uma carne trêmula. Dois de Almodóvar. Dez para ele. Doze doses de tequila com sal e limão para prorrogar o efeito da cachaça. Muitos rechaçam o cerne da filosofia humana. Emanará dos póros suor destilado. Axilas desodorizadas parecerão novos drinques. A não ser que o produto em questão não contenha álcool. Mas depois de um dia de sol a pino, que coloca em combustão os pinos de Frankesteins tropicais, quem resistirá a uma geladeira com loiras molhadas? Só se faltar um parafuso ou o eterno embate entre sagrado e profano fizer o peão querer a água, no fundo querendo que um milagre a transforme novamente em vinho para que a espera pela terra nova não seja tão enfadonha. Se há problemas técnicos o organismo não aceita. O rim chora ao dar de cara com bebidas não propícias a passarinhos. Vai ver é herança dos antepassados, genes de água de coco e chás naturais. As mortes não param. As vidas só param quando há morte. Saramago não acreditava em céu. Seu Jorge e Almaz fizeram uma releitura de “my life, my life, mý life...”.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Semanário 2

O MAIOR SÍMBOLO DO NATAL NÃO É MAIS O BOM VELHINHO, SÃO OS SHOPPINGS. A cada dia surge um novo. O de Hortolândia exaltava em comercial de TV o momento histórico de participar do primeiro natal da vida dele – já que foi inaugurado recentemente, sendo 2011 um ano especial de estréia natalina – para quem por lá passar. O shopping de Valinhos em sua propaganda televisiva colocou uma touca de papai Noel em cima da sua logomarca. É uma fusão. Nos corredores do maior shopping da América Latina, o Parque D. Pedro, ouvi um senhor acima do peso e bonachão, de barba branca e roupa vermelha reclamando do tempo que levava para chegar ao lugar, por morar muito longe do local. Não sei se fazia uma brincadeira com sua fictícia residência no pólo norte e à morosidade de suas preciosas renas, seu meio de transporte, ou uma alusão real a sua modesta casa lá para os lados dos DICs. Fica a dica: há uma fusão. Papais passam pelos shoppings para presentear na noite em que se comemora o dia do nascimento do filho eterno. É ou não “El”?

ALGUNS SANTISTAS PENSARAM QUE O BARCELONA ERA O BARCELUSA. Se fosse o caso, ao menos teriam alguma chance. Os mais realistas, é claro, se contiveram, a espera de um milagre, que não aconteceu. Ninguém mandou o São Paulo ter feito “Pep” Guardiola guardar mágoa de times brasileiros, ganhando do Barça do hoje técnico na época jogador, em 1993, na decisão do mundial de clubes. Descontou devidamente com uma goleada histórica em 2011, os seus comandados comprando a briga e guardando quatro gols na meta adversária, fazendo a rede balançar como pescadores que pegam peixes na rede, a rodo. Não deu para o alvinegro praiano. Nadou, nadou e nada. Morreu na praia. O único TRI mundial é o TRIcolor paulista. Só esperamos que torcedores não se afogem no mar. Durma-se com um barulho de água desses borbulhando nos ouvidos.

‘A PRIVATARIA TUCANA’ É O NOVO FENÕMENO DE VENDAS NAS LIVRARIAS. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. lançou um livro com a intenção de contar os podres das privatizações no governo de Fernando Henrique Cardoso. O.K. Todo mundo já sabia que no meio disso havia falcatrua, como tudo, ou ‘quase’ tudo referente à política. Mas espera aí: compraram todos os livros da Cultura e da Saraiva, em uma delas sendo adquirido todo o carregamento antes mesmo da chegada nas lojas. Não atino em qual das duas isso aconteceu. Na verdade o que tenho são informações de fontes seguras, leitores, que na ânsia de saber do que se trata esse ‘maldito’ ou ‘bendito’ livro, foram na captura dele e não o encontraram. Vários relataram isso. Na Fnac, loja que agrega além de livros, aparelhos eletrônicos, música e afins, segundo consta, tudo o que chegou foi vendido, e para um público variado, cada pessoa levando um ou no máximo dois, muitos reservando de antemão para não ficar sem o seu exemplar. Foram vendidas 400 unidades em um dia pelo site. Nas outras – naquela em que ‘o livro’ chegou -, aconteceram compras por ‘bacia’, como se diz no comércio popular, provavelmente por parte de correligionários do partido em questão, na ânsia de manter a imagem pública dos seus integrantes. Na página oficial na internet, o presidente nacional disse que os documentos presentes no livro são infundados e que o jornalista é inclusive indiciado por falsificação e outras coisas mais. É lógico que mesmo conseguindo atestar que as provas não são verdadeiras a imagem ficará manchada. Mas tem como manchar mais? E se não devem, pra que tanto temor e estardalhaço? Só faz aumentar a popularidade do autor e de sua obra, que, como ele mesmo cita em entrevistas, é fruto de doze anos de trabalho, num jornalismo investigativo intenso. Os atacados irão tomar as medidas cabíveis contra o atacante. Goleiros usam luvas pra defender os chutes.

MAIS DE CEM POR CENTO DE AUMENTO. Frase que é rima de uma epopéia trágica. Com certeza um dos vereadores desse enredo tenebroso mora no seu bairro. Sendo assim, por que não os achincalhar? Podem até ser objeto de bullying, por que não? Bulinaram com nosso dinheiro. Riram da nossa cara. A maior prova de reprovação é não darmos mais nossos votos para eles. Muitos foram à câmara no dia da votação temerária para se expressar: Narizes de palhaço, cartolinas com dizeres de efeito, gritos de torcida contra, mas, na surdina, rápidos no gatilho, votaram o que queriam e nos pegaram sem colete. Cacete! Grito cacoete. Nada bastou. E o muito que ganhavam achavam pouco. Elevaram. Só decréscimo de suas imagens. As cadeiras lotadas, gente em pé, repórteres e fotógrafos de diversas emissoras. Até o CQC foi lá. PQP. Nada adiantou. Em 2013 os eméritos senhores ganharão algo em torno de R$ 15 mil reais. Irreal para um país de famintos. Haja fome zero. Com certeza coçam a pança enquanto relés mortais continuam matando cachorro a grito, vendendo o almoço para comprar a janta, que quase sempre é um hot-dog.

domingo, 27 de novembro de 2011

Planos Confabulados

Andava por terra mesma. Lesma. Arrastava-se. Escorria-se palmo a palmo. Com mucosas nos pés e nas palmas. Ria. Percorria as linhas férreas. Desejava ler Ferréz. Desejava ter lido aqueles livros queimados junto aos entulhos. Desejava queimar seus próprios livros, com receio que se viessem a conhecê-los, o seu filme estaria queimado. Havia todo um psico. Como o de um serial-killer. Mas como poderia ser ele um, com aquele seu ‘mei-quilo’ de gente? Era preciso psicografar. Errava a grafia do seu nome. Sonhava com graffitis nos muros que escondiam o sol. As tardes nunca eram visíveis a olho nu. As noites nunca eram tão escuras quanto pareciam. Obscuras. Nos oblíquos espaços. Nos planos confabulados com os morcegos, com as corujas. Pessoas lhe viravam a cara. Ouvia coros seculares. Sócrates era um filósofo, era um doutor, e poderia ser aquele cara do outro lado da rua. Nome que sua mãe lhe deu. Vida que lhe pariu. Para saber que nada sabe. Procurava matar as horas, uma a uma, com a seriedade de quem faz comédia. Com a ressalva de não ofender os outros. Com o resquício das mágoas cultivadas. Recebia beijos na boca seca por onde muito já salivara. Uivava como cachorro louco, molhado como um vira-lata em dia de tempestade. Os vagões apitavam nos trilhos noturnos. O desespero fazia corpos serem lombadas no caminho. Os maquinistas davam sinal. Já haviam maquinado tudo aquilo de antemão. Sem sinais divinos, sem marcas de nascença, se sentiam impelidos a tombar. Sinal de fogo. Cachaça. Alguns julgavam ser obra do cão. Só sobravam mangas chupadas. Nunca colocariam os lábios em nada semelhante àquilo. Então pra quê? Crianças nascem nos barracos enfileirados. Ao redor. São como placas sem anunciantes nos dias de jogos. Todos. Mulheres dão barraco no SUS. Homens buscam o sustento na labuta diária, acordando com a claridade, dormindo com a escuridão. Seres solares. Ou apenas solas de sapato. Pisantes. Há bichos no curral. Rotina de fazenda, na cidade grande. Haveria infinitas possibilidades! Era a esperança no êxodo rural. Não atinavam com as capitanias. Os capitães lançavam subordinados ao mar sem dó. Culpa da situação econômica. Ele sabia que era preciso economizar. Quanto menos respiração, melhor. Quantos menos respirarem idem. Nessa jogada havia um julgo. Quem ficasse, aguardaria o julgamento final, nas terras de um dono só. Ele parou num bar. Tomou um ar e uma. Em ambos os lados, os púlpitos se multiplicavam, discriminatórios.

domingo, 6 de novembro de 2011

Semanário 1

7 BILHÕES DE HABITANTES no planeta. Em 1999 eram 6 bilhões. Aonde vamos? Até explodir? Não faltam mulheres. Segundo algumas pesquisas até sobram, sete para cada homem, que faltam, caracteres a menos, caráter. Sete bi. Bi hoje em dia é moda, na praça marco zero de Campinas, às sextas-feiras à noite. O Santos ainda é só bi. Para ser tri como o São Paulo terá que vencer o Barça. E no meio homofóbico do futebol zoam o tricolor, como se todos os frequentadores da dita praça e de outras do gênero torcessem pra esse time. Moleques querem ser Messi. Ó messa! Como cantou Arnaldo Antunes: “Tudo se mistura na massa!”: http://migre.me/65aON

NEYMAR DISSE: “JÁ NASCI JOGANDO ASSIM”, em http://migre.me/659hH. No Brasil toda criança nasce com um time pré-determinado e tendo como primeira visão de mundo uma bola. Já antes, sem luvas, pais brincam de goleiro acariciando as barrigas das mães. Messi fez seu gol de número 202 pelo Barcelona. É do tamanho de uma criança, mas joga como gente grande. Lutou contra a pequenez, sofrendo bullying, sendo chamado de cucaracha, barata; depois de ser pisado, agora esmaga adversários. No final do ano haverá a disputa do Mundial de Clubes. Se os times passarem das fases classificatórias, será Barça x Santos, Messi x Neymar. O brasileiro é antes de tudo uma criança descalça com cabelo moicano.

A DUPLA SE DESFEZ. ERA A NOTÍCIA. Todos exibiam: sites, blogs, jornais, revistas, canais de televisão. Ninguém entendeu bem. Rumores surgem sobre o caso. Os dois estavam meio sumidos, o Zezé e o Luciano. Já têm seu público cativo, é lógico. Foi uma jogada de marketing? Refizeram a dupla – logo depois de anunciarem o fim dela. O principal afirmou que foi apenas um desentendimento com o irmão mais novo. O “Zé” continuaria carreira solo com o mesmo público de antes. O “Lu” continuaria a carreira? O irmão mais velho quis continuar com o outro nas vistas, pra evitar eventuais desafinadas nas ações. Com dinheiro e tempo livre, os dois comporiam o que quisessem. Mas só um é compositor. O outro o que é, marketeiro? Pelo menos canta mais que o Marrone – ou compromete menos.

USP PEDIRÁ REINTEGRAÇÃO DE POSSE das terras onde os alunos de Filosofia se fincaram nos matos verdes, no prédio da Reitoria, de onde não arredam pé. Segundo o site da revista Galileu http://migre.me/65a2a, até 2015 será produzido sangue artificial. Enquanto uns curtem o natural – que não é tão natural assim dependendo do fornecedor -, vampiros se corromperão totalmente, indo comprar seu suprimento num supermercado. Dilma esteve em Cannes na reunião do G20, organizada por Sarkozy. Fica a dúvida se governantes se preocupam mais com as causas pessoais do que com as da sociedade. Pedem ajuda ao Brasil. Lula começa o tratamento contra o câncer. A presidenta também teve. A sociedade tem vários, e não adianta tentar seguir uma dieta rígida. Há muitos naturalismos artificiais ou naturalistas forjados.

PASSA-SE O POSTO DE PREFEITO. LIGUE PARA O PALÁCIO DOS JEQUITIBÁS. E continua o carrossel na prefeitura de Campinas. Depois de obrigarem o doutor a tirar o seu jaleco e sair da clínica, assumiu o vice, Demétrio – cujo sobrenome pode ser confundido com genérico de remédio de pílula azul -, que, pelas substâncias apresentadas em sua bula de carreira pública, fora afastado, assumindo o Presidente da Câmara, Pedro Serafim, querendo botar banca nos projetos, sem alusão aos camelôs. Vilagra conseguiu se reerguer, provando momentaneamente que surte efeito. O circo armado no Taquaral foi impedido e liberado. Em ambos os casos, continua a ambiguidade cíclica do globo da morte. Toninho deve estar se revirando no túmulo.

O MÉDICO DE MICHAEL JACKSON pode cumprir pena em sua própria casa, se for condenado pela morte do astro. Há quem defenda a tese de que o cantor-compositor-produtor, multi-artista se drogaria por conta, ou de ser ele mesmo o pedinte das doses cavalares de remédios. Havia uma turnê agendada na Inglaterra. Ou ele estava muito ansioso com isso ou sabe-se lá. A meu ver, o advogado de defesa não passou muita credibilidade pela sua vestimenta de variantes cores de calça e terno. Talvez tenha retórica e persuasão consistentes. Fãs cogitam a hipótese de uma morte de fachada. Nesse caso, o Rei do Pop pode muito bem estar nalgum lugar do mundo, ao lado do Rei do Rock; enquanto um curte as balas, os doces e afins, o outro curte as crianças (sem más intenções aí, até porque acredito na inocência de Mr. Michael Joseph); e se foi inocente nesse assunto, foi também na ingestão de remédios, acreditando piamente em seu médico. Dependendo do desfecho, também se revirará no túmulo, ou perderá a concentração nos jogos de bolinha de gude, na ‘NeverLostLand’.

domingo, 23 de outubro de 2011

Isso é uma ficção

Selecionou palavras do mesmo modo que algumas mulheres escolhem roupas. Ficou nu. Sentiu o anseio de correr a esmo. Discorrer. Quase sempre as necessidades se sobrepõem aos desejos. É bom quase nunca dizer nunca. Havia fissura pela próxima hora como se ela fosse satisfazer todas as vontades físicas e psíquicas, como uma droga. Se desdizendo, só o sono supriria essas ânsias que lhe traziam as causas perdidas. Esse osso era rude. Doíam as marteladas pelo corpo, desferidas por uma tribo de neandertais torcedores de outro time. O contrário. Dissuadi-lo ao máximo. Essa a meta deles. E eram muitos, por todo canto. Um bando de John’s Malkovich’s querendo assumir o seu papel, ou por se suporem menos, ou por conhecerem a fundo a sua cartilha, querendo mudar cláusulas pétreas da sua constituição de mundo. Estava cercado de moscas. Chicletes mascados o prendiam ao chão, às paredes. Sem paradeiro a seguir. E só queria outra temporada, novos capítulos, com roteiristas cheios de ideias geniais. Talvez tudo isso fosse motivado por um gênio ruim. Ficava dividido como o narrador do Bandido da Luz Vermelha: Gênio ou besta? Tudo corria em slow motion. Ao se rebobinar, não dava para precisar qual era a fita. “Mano, cê é loco”. Lascas de limão eram menos cítricas do que a água da torneira onde banhava o seu rosto para retocar o sentido de realidade. Todos os critérios são muito subjetivos. Isso é uma ficção. Não basta um apurado sentido de direção quando o cenário desenhado é cela. A única saída é se desprender de si mesmo. Por momentos, comerciais, reclames. O diretor do filme está ausente quando tudo é exibido. Se uma baiana circula pelo pelourinho, é essa a função dela. Não estavam combinados? O capoeirista usou de sua técnica para salvar a mulher que quebrou o salto e iria se estrebuchar na ribanceira. Coincidiram duas rotas. Cometas são sequências de cenas. Assumam as suas marcas! Ele estava vestido. Seu semblante mostrava tudo. Se não chovesse na manhã seguinte o sol lhe daria forças para continuar atuando. Atos. Abriu o livro sagrado. Estava cansado de falar bobagens e de ouvir as silenciosas respostas dos espectadores. Expectador. O gênero era terror. Sentiu-se um spectro.        

sábado, 24 de setembro de 2011

Cantos inaudíveis

Alguns andam pelos cantos. Talvez por morarem na cidade e não conhecerem campos. Talvez por gostarem de antros. Se mancam. Entre calçadas que quebram tamancos, balançam ancas, desbancam bancas. Brancos dentes amarelados. Palmas das mãos amarelas. Amarelos, brancos, como se estivessem doentes. Descrentes, querendo acreditar em algo. Cheios de perguntas. Vazios de respostas. Quase sempre só com amostras, sem frascos rotulados de líquido vital. Vendo a rua pela rótula. Vendo animais andando iguais: eretos! Há seres especiais mesmo dentre os de mesma espécie. Conjunções de astros e estrelas, luas e sóis, relógios, calendários. Precários mamíferos com marcas de nascença e adaptação ao habitat. Hábitos forjados por chuvas e ventos. Moldando as pedras ou as deixando mais moles. De tanta bater. Se baterem. Abaterem. Carnes de outros animais nos pratos. Proteínas. Preservação para um amanhã verde. Comer alface. Rodelas de cenoura nas faces. Tomates. Preocupações tomando o tempo que não retorna às suas bílis. Regurgitando porcas misérias. Bodes. Boldos. ‘Beudos’. Barrigas cheias de lúpulo. Lápides. Caminhos longos ou curtos independem do consumo. Está nas linhas, basta estender dedos com unhas para baixo a uma cigana no centro e ela dirá. Indicação fácil é o próximo dia, antes da eternidade. Caldos como acompanhamento. Antes que uma calda de cometa acabe com caldas de saias. Muito justo. Justamente. Parece faltar pano. Será sorte o planeta cada vez mais quente. Quente sem gelo é cowboy. O sertanejo é antes de tudo um homem com sua mulher e seus filhos, à moda antiga. Há modas novas. E muitos sem modos.   

domingo, 21 de agosto de 2011

Primaveras se vão

Um mês para mais uma primavera. Estações mudam como estado de espírito. Abruptamente. É sinal dos tempos. O atual. O resquício de outrora. Sempre uma nova aurora, no entanto, um ciclo que é por todos igualmente conhecido. Mas, se há ciências, não surpreende! Não é o que se vê. A clarividência da claridade de uma luz de uma vida após uma morte: um acordar depois do sono, ou de uma sesta. Cientistas não dormem no barulho. E a maior prova de humanidade são os sons. O vácuo é inaudível. Buraco negro. O eixo de translação procurado. Num piscar. Perde-se os olhos que viriam a abalar as estruturas do pensamento cético e fazer o transeunte olhar para o céu de novo se surpreendendo. E se, na próxima esquina, no desvão da via térrea, um tropeço fazer pés baterem com pés, de quem porta a íris não vista por fração de cílios semi-serrados, a pré-destinação se fará presente. O destino de um em detrimento de nações? Areia. Ninguém crê. Grão. Na imensidão do universo. Quanto mais prosa se forje para explanar planos futuros, a sensação é que um verso construtivista satisfaria ambos os lados. Desce. Desce. Desce. Esse é o ponto! Outro para ver melhor. Se não se perde. Se passa. Indo para outro nível. Sem querer. Guias. Águias. Rapinas. Rapsódias. Ríspidas. Rupturas. Rangeres. Frigires. Franzinos ombros. Desmedidos pesos. Leveza pra pular de um buzo a outro. Banzé. Blasé. Zé. Abreviações de coisas difíceis de serem ditas em voz alta. Tentativas de facilitar. Não há conformidade. Segue nos conformes. No linho alinhado. Com o pisante no pátio. Lustrado. Ilustre. Mantenedor de tradição. E trabalho. Talagadas no lago do lado pra findar expediente. Experiente. Conselho. Troca-se. Via de mão dupla. A quatro palmas. Em abraço. Causas. Cabedais de disparates. Apesar de. Cachorros parecem se entender quando latem. Pega. Pega. Amarelinhas que não voltam nunca mais. Em um dia, intensa variação de graus. Frios e calores. Cada corpo interage ao seu modo. Como podem escolher ou o azul ou o vermelho. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Papagaios

Como? Se não achou. Seu lugar no mundo. Num segundo, sujismundo. No lusco-fusco. Fosco. Como se apenas passar por uma porta aberta fosse saída. Como se os giros dos redemoinhos, ciclones, tufões viessem a balançar o bastante tudo, e após reorganizar numa arrumada bagunça sobre a superfície. Todo o supérfluo. Sobe. Cai. Uma mistura que não serve de nada. Impura. Corrompida. Uma junção de genes que gera aberração. Mútuos. Modorrentos. Motos-contínuos. Modus-vivendi. Ai é mancuso, sinônimo livre pra mancada. Custos, cuspes. Cáspita: Nem clones seriam reprovados em habilitação por bater em mesmos cones. Casulos, casmurros, não causam. São a causa de suas próprias castas. Não casem. Cansem. De bater testas em mesmos muros. Criem galos. Rinhas. Riam disso. Daquilo. Daqueles. Mostras não convencionais inconvenientes. Até olhos cegos brilham. Claridade, clareza, são subjeções. Objetos são abjetos. Por aqueles abduzidos em balbúrdia, blasfêmias. Machos. Fêmeas. Rostos rijos quando o oculto se revela. Em finais de anos. Começos. Celebrações de morte do filho do Pai. Nascimentos. Poxa. Puxa. Seguro. Nunca saberá a próxima bifurcação. Precaver. Do precário. Do contrário. Mesmo contrariado. Patativas. Patavinas. Nenhuma de Assaré. Assou. Achou. Assaz. Dubiedade de nomes assexuados. Tantos. Fizeram. Fazem. Sangues songos. Mangues mongos. Motes. Botes. De álcool ou água. Na gíria ou normativa. Bangs que são casos rarefeitos. Sem poeira desértica. Sem tiros. Tiras. Nem por. Desenho de contorno de corpo ao chão ou sátira no matutino? Vai o enfoque, o foco, o fico, pela necessidade primária. Pictórica. Herança das cavernas. Quando se quer ir. Irá, sem ira, Irã. Iranildos seguem seguindo. Sem climas temporais ou sentimentais. Denominando pau e pedra sem conotação. Sem imaginação. Apenas imagem. Apenas palavras. Que representam algo. Alguém. Alguma coisa. Coisa: O modo mais subjetivo de se referir à quase tudo. E pior: Coisa não tem referência e por isso uma nunca será outra. Desentendimentos. Guerras. A não ser que os referentes a estejam olhando. E mesmo assim vem a vivência da coisa. Nunca a mesma para díspares. Nem para gêmeos. Gametas. Cometas. Languidamente. Louvadamente. Pode se supor que até a mente minta para a própria mente. Aos montes. Mantas que escondem. Sempre há sobras. De sogras, de sobrinhas, de sombras, enfim, de um tudo quanto imaginável e possível de menção. Até o impossível é. Até quem não é, é. E como. E como? Na volatilidade do que é vão? Bater o martelo sem que o cabo suma? Assuma: Essa bola em que pisa nos dias contados signamente não está tão plena quanto se pode pensar. Como nunca foi plana como já disseram. Papagaios.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O bobo cortez

Tudo não passou de sonho. Tudo não passou de vida. O cortejador se tornou bobo por utilizar de ferramentas arcaicas e lentas em suas investidas, quando o que se espera é velocidade de banda larga na modernidade on-line.

Foi preciso tempo. Preparar um terreno, traçar um plano, chegar ao objetivo, objeto, motivo de escárnio numa terra onde dedos de palma tocam em palmtops certeiros como torpedos, e réplicas, tréplicas e infinitas saudações são curtidas, deglutidas, aglutinadas por faces não rubras.

A resposta do público (ou do alvo) demorou a chegar. Enfim, veio. Junto com ela, o estupor de uma imagem que anunciava o fim dos sonhos com a princesa, por ela – a moça -, ter encontrado o seu par, equiparados em número e grau, não em gênero. Uma, um. O casal real estava feliz e todos os súditos também, então não havia erro. O jeito era ir embora montado nos burros que já tinham dado n’água. De novo e de novo.

No fim, nunca iria deixar de cortejar. Estava em seu sangue plebeu. Ao mesmo tempo – e por isso mesmo -, nunca iria deixar de ser bobo, por todas as tabernas, reinos, círculos e redes sociais que passasse.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um período.

Perco-me nas periodicidades dos escritos. O que era pra ser semanal começa a ficar fragmentado e trazido à tona só quando a emoção julga ser algo irreprimível. As revistas mensais só são lidas no mês seguinte ao da compra, ou por faltar tempo, ou por faltar vontade, ou pelos acontecimentos – que não acontecem -, e que levam as linhas retas com datas fixas a se perderem tortas só quando não dá pra segurar. E isso tem acontecido muito ultimamente. Pode ser proveitoso por só surgirem, espaçadamente, coisas que vêm do coração. Pode. Ou não. Tenho dito muito ‘não’, talvez pelos ‘nãos’ que me são concedidos.  

sábado, 11 de junho de 2011

Elucidações reverberantes sobre castelos de cera - 1

Fiz castelos de cera. Esvaíram no fogo da vida. Deixaram crostas na pele, e não deveria ser diferente. Aquilo foi queimando, queimando, até chegar o momento de a brasa encontrar o chão e morrer. Parecia uma sessão sadomasoquista, querer sentir cada vez mais dor. Mas não foi premeditado. Provavelmente não havia ainda cicatrizes suficientes na superfície do corpo, e da cara, sendo necessárias essas agressividades de mim para comigo; o organismo - sabendo da necessidade dessas experiências -, lançou comando subconsciente para que os atos acontecessem. Na maior parte das vezes só no pensamento, que se julgava um pré-acontecimento, e que se mostrou fraco, imaginativo e fugidio.

Seria momento propicio à oração. Mas não. O que surge é indignação com o zumbir dos ares. Tantos nortes a cortar e cortando logo onde sempre cortou continuadamente. Espaço-tempo de mazelas frias. Como se abrigar de fronte da tempestade de intempéries? Tudo vem liquidificado. Parece que do outro lado alguém espia, e mexe os bonecos como títeres ‘Malkovichs’. Tantas convivências e conivências simuladas que só fazem lembrar o titulo de Fernando Sabino, ‘Os movimentos simulados’. Alguns crêem que há algo ou alguém que rege, e quando a história de um simples fogo se confunde com o de um apurado frio, se interligando por uma vírgula ou travessão, dá para pensar no caso. Ao mesmo tempo, chamas se apagam após só um segundo acesas, ventos batem sempre com demasiada intensidade sobre as mesmas janelas de madeira, e outras mantém a pintura intacta.

Se o pensar positivo é força motriz todos estariam ricos. E ricos blasfemam, valha-os deus, e são menos crentes, afinal o paraíso é em Terra, e não custa a alma, pois quanto custar, pagam. Igualmente, o querer não significa algo absoluto. Tantas rubricas sobre alguém pra no final outro que nunca viu ter nos braços, nos beiços, em laço. Açougueiros. São os apaixonados a moda antiga, saberão o quanto vale. No final, nada. Tanto uns quanto outros; qualquer elemento; o elementar é crestar aos poucos tudo que é sólido, e apesar disso se desmancha, até que os fios se soltem, e nada terá sido dito, em vão ou não. E não tenho.

domingo, 29 de maio de 2011

Quando o voto vira vaia

Sempre há pedras no caminho que machucam dentro do sapato, como calos, ou fisgada no calcanhar. E agora Dr.? É a pergunta que fica no ar da clínica.

Na mesma quantidade dos muitos que madrugam na fila do SUS, acumulam-se aos montes os que querem justiça, pois a ferida ficou aberta; não houve esparadrapo que tapasse o buraco nas botinas.

Os que deram seus votos sentem-se enganados, como a estar com emplastos engasgados, e a exaltação se generaliza pela população, sendo autêntica, não genérica.

A pessoa pública em questão deve estar com dificuldades em curar a dor de cabeça da mulher, e a própria. Muitas pílulas. A sensação alheia é a de “não é ladrão, não sabia, uma pinóia!”.

Nada foi confirmado. A investigação está sendo feita. Os indícios são muitos. Como aqueles que nunca vão ao médico por alegar que não saber da doença evitará os males advindos dela. Nesse caso, inverso. Todos sabem, sabiam. Faltavam provas. Ou estavam lá e ninguém queria expor.

Mesmo o nome não sendo citado, os vereadores já se aninharam em um só grito: impeachment. Alguns que até usaram da fama do ‘homem das curas’ para alcançar o plenário. Plenos de si. Têm que mostrar índole e rechaçar tudo que se pareça com corrupção. O alívio dos populares ao verem a punição sendo feita será melhor do que o de qualquer leito particular, ou droga experimental panacéia. Fica a saciedade dos enfermos, que por hora se apoiarão nessa bengala moral, deixando o caminho livre para outros escorregões de dinheiro a ferir forros de mala.

Sem necessidade de SAMU ou S.O.S. Sempre sob panos e ataduras frias.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Desmilinguido

Desgarrado de glórias
Vou no vácuo da História
A saber, a vitória
É um chove não molha

Sou um eu que é finito
E se expande no grito
Tragicômico, aflito
De ideia em conflito

Uma vaga lembrança
Uma faca, uma lança
Algo para a pujança
Sem alcance, já cansa

O malogro é sabido
Com o choro contido
De ilusão, vou despido
Desmilinguido

domingo, 22 de maio de 2011

Meu mundo quase se acabou (por causa da violência urbana)

Meu mundo por pouco não se acabou. Quase morri. E quem não? Sopros de vida e morte são irmãos univitelinos separados provisoriamente, mas têm uma ligação tão forte que o pensamento de um não sai do outro, e vice, e versa. Se a visão de mundo de cada pessoa se difere pela percepção que se tem dele, não há só um, são vários, isso sem nem cogitar outras galáxias, ficando apenas com o comumente aceito. Assim, o mundo próprio de uma pessoa se esvai quando a chama vital deste sucumbe e, não nos atendo a previsões ‘Nostradamicas’, apocalípticas, vivendo numa sociedade onde regras e conceituações são compartilhadas, pode ocorrer de passarmos o apuro de quase irmos dessa pra melhor, ou pior, por fatalidade da violência urbana, e comigo já quase aconteceu.

No caso recente de Florianópolis, quando um rapaz morreu ao sair do baile, depois de ser espancado por uma corja, por ter se envolvido com uma ex-namorada de um dos meliantes, me vem à mente a cena quase idêntica que aconteceu comigo há algum tempo atrás.

O ano era 2006. Eu fazia o curso pré-vestibular no CEPROCAMP (Centro de educação profissional de Campinas “Antônio da Costa Santos”), instituto de ensino que fica ali onde era a Estação FEPASA. Saímos da aula aproximadamente umas onze horas, e descíamos pela Rua Costa Aguiar, paralela a Treze de maio, rumo a Avenida Francisco Glicério. Vimos que subia um grupo de uns vinte caras, fazendo algazarra, causando. Não mudamos o trajeto. Continuamos. Pouco antes de chegarmos a Senador Saraiva, nos topamos: havia algumas garotas no nosso grupo; éramos três homens e três mulheres, sendo um casal. O bando passou mexendo com as mulheres e eu quis delimitar o domínio do espaço. Hã. Só não aconteceu nada mais grave porque uma garota interveio. Mais detalhes um tanto 'literariamente' descritos aqui:

Enfim, continuei vivendo, umas duas semanas com dores no corpo, com escoriações. Passou. Como tudo. Penso que o meu destino poderia ser o mesmo do outro, ou de tantos - o próprio Toninho, foi assassinado abruptamente, caso que até hoje não foi totalmente esclarecido.

Comigo, ou houve um erro de datas de idas, ou não estava na minha hora. Agora se era pra eu ter ido naquele bonde, e fiquei, tudo que veio depois é extra, e talvez por isso o caminho seja tão esburacado, cheio de capotes, por ter escapado da senhora de capuz que ceifa sem dó, e que a violência urbana anda fazendo trabalhar demais ultimamente, à revelia.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tomé

É difícil só ver
Sem poder ter
Ao mesmo tempo não querer, prender
O desejo de posse é de doer

Ninguém gosta de roer
A unha a coser
Planos de fazer,
É hora do vamos ver:

Só olhar, não dá!
Fechar os olhos pra esquecer
Outro traçado a caminhar
Um Tomé desacredita.

Lidando

Eu hoje escrevo palavras que não dizem nada. Pela vontade, com dedos nas teclas. Aqui.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Azul

Azul. ‘Tudo fica blue’, como cantava Soweto  em ‘Farol das Estrelas’, como é o nome do álbum de Nina Beckerou como aquela “alegria agora, agora e amanhã... azul, é a cor do país...”. 

O mercado fonográfico sentiu o baque. Os piratas democratizaram mais o consumo de ‘cultura’, que chegou a um valor exorbitante por CD, a favor do lucro das gravadoras, ao passo, os artistas perderam em direitos autorais, mas ganharam em liberdade na concepção, com o surgimento de várias gravadoras independentes, ‘home-studios’, tendo retorno financeiro nos shows, divulgando pela internet suas artes. Ficaram as sacolas azuis esverdeadas dos camelôs como marca registrada, qual um copyright.

“... ‘Sambas azuis’, como os tons mais azuis, que um pintor andaluz, sutilmente, muito levemente, u-s-o-u na-que-las te-las...”, comporam Ed Motta e Nei Lopes http://www.radio.uol.com.br/musica/ed-motta/samba-azul/186461?cmpid=clink-rad-ms.  
    
Há também o azul da capa do livro de João Antônio, ‘Malagueta, Perus e Bacanaço’, um tom de Graciliano – que era um dos escritores preferidos dele -, na prosa da caótica vida suburbana dos grandes centros urbanos.

A editora Abril lançou no ano passado uma coleção com reedições dos grandes clássicos da literatura mundial, com capas de cores variadas http://colecoes.abril.com.br/colecoes/classicos-abril-colecoes-536162.shtml. Tenho alguns comigo, como os dois volumes de ‘Ilusões perdidas’ de Honoré de Balzac, que ainda estão lá, na biblioteca pessoal, aguardando para serem lidos. História de ficção que se mistura com a própria invenção do jornalismo. A capa é de um azul-marinho escuro, modelos de calças de uniformes. 

O mais azul dessa coleção – ou no tom de azul que comumente vemos, e que está agora aqui -, é ‘Os sertões’ de Euclides da Cunha, jornalista que cobriu parte do ocorrido, como correspondente d'O Estado, e relatou minuciosamente todo o contexto do embate em Canudos, juntando todos os elementos (céu, terra, água, ar),  ao elemento humano. 

Para cima é desejo de voar. Sem as braçadas certas se morre afogado. O mar reflete o céu. Não são necessárias lentes para enxergar a beleza. Ou pílulas benfazejas para quem precisa.

domingo, 8 de maio de 2011

Quem dança no baile entre mundos

Existem dois mundos: o de quem vive e o de quem não vive. Pode se dizer que quem não vive a vida plenamente já morreu, e é verdade. Os não viventes são como vivos-mortos, mortos-vivos; aqueles que não encontraram a melhor maneira de se locomover pelo solo terrestre e por isso só fazem peso. Gravidade. Ela derruba, ela baqueia, devido a essa força dela, por ínfima que seja a tentativa de formular uma vã filosofia, há de se acrescentar porções de física e de qualquer outro estudo humanístico para compreender o que move cada ser, forjando uma fórmula que poderá ficar completa. Momentaneamente.

Muitos se encontram em certos nichos da sociedade, literalmente e também no ‘modus vivendi’, facetas que dão a sensação de pato feio aceito pela mãe – círculo social, boates, festas -, onde certas ideias e alguns procedimentos são compartilhados, como batata quente que corre de mão em mão. Uma hora estoura. Esse momento é quando os indivíduos e suas particularidades se sobrepõem ou sobressaem à ordem estabelecida pela maioria, mesmo que em suma, seja um tanto caótica.

Sem o mínimo nexo necessário, fica perdido o eixo, o da própria pessoa como o da Terra, progenitora de todos, e para qual todos voltam, porque como um girar de um globo ao piscar de luzes dentro de um quente ambiente na madrugada fria, como um disco que de tão riscado para na mesma faixa, como um estoque de bebida que acaba juntamente com a noite, tudo tem seu fim, e todos; e voltaremos para o seio de quem nos gerou: o mundo.

A roda viva da vida continua a girar. Na continuidade cíclica, talvez muitos cheguem a conclusões parecidas, ou batam cabeça como estilo musical e ideológico, às vezes sem querer, levados pela situação, no meio do salão, dançando. A conclusão é: quem segura hoje a criança é porque outrora já dançou, e quem não dança, nunca vai segurar criança nenhuma, pois quem não dança já dançou, só que de outra forma, figurativamente, perdeu, o passo a passo do seguir. Dois pra lá dois pra cá. É a busca. Quando dois se juntam vão pra qualquer lado fazer qualquer outra coisa, ou ficam ali no meio, em meio, quando o desejo é só bailar.

O mundo exterior é deixado de lado com a altura do batidão. O mundo interior fala mais alto pelo pulsar do coração. Os dois devem ser aliados, para não se ficar perdido entre mundos, sem nem viver uma vida verdadeira, e nem morrer uma morte digna, ao léu, no vento, dançando conforme, sem estar nos conformes.  

domingo, 1 de maio de 2011

Se dar ao trabalho de ver.

Foi uma descoberta. De repente as mãos ficaram frias, o coração palpitante e, mesmo com o árduo gélido ar do dia compactado em panos de lã, o corpo tremia.

Como uma aparição. Algo que a imaginação não atinava existir se tornou referência para enxergar o caminho até o túnel. Luz.

Um tesouro. Sabido era que estava lá, mas a dificuldade em perscrutar os vales de pedras sobrepostas que eram os sentimentos rijos, fez o explorador perder o pique, havia muita dificuldade; dava trabalho, todo dia, a postos, para isso mesmo. Se dar ao trabalho. O esqueleto fraquejou. O pensamento por sua vez não quis deixar a ideia fixa fugir, e como um martelo a estraçalhar os maus agouros da desesperança, foi quebrando a armadura, vendo que o interior não era oco. Pérolas. O inverso de Thor – príncipe decaído de um mundo superior que se apaixona por uma humana comum -, o mistério desvendado dava àquele plebeu um status nobre, transcendental.

Era ela, humana como ele, que o transformava em algo mais, nada tão místico assim; apenas mais força para lutar contra as intempéries do dia-a-dia. O que dá trabalho, repetitivo e sem empolgação na maior parte, mas quando o coração é tocado, tenta repassar o que sente, formando um círculo vicioso de descobertas que tirarão as vendas dos olhos daqueles que já não se surpreendem com pequenas coisas, que estão acobertadas pelas futilidades. 

domingo, 24 de abril de 2011

Passagens

Pela segunda vez paguei R$ 2,85 pela passagem de ônibus, mas não passei pela roleta. Dei uma nota de dez e o cobrador me devolveu o troco e solicitou que eu sentasse na frente e descesse por ali mesmo, dando um toque no motorista. O dinheiro do café, ou da pinga, foi para o caixa, e pela segunda vez fico na dúvida se estou agindo da forma certa ou não.

Primeiro que é um absurdo o preço exorbitante da condução. Dependendo da distância que se irá percorrer, até compensa sair um pouco antes, ou chegar um pouco depois pra economizar, e não ser roubado, porque na rua você corre o risco do assalto, já no ônibus é certeza.

Um segundo ponto – sem placas dos itinerários -, é que os trabalhadores, os que guiam os ‘carros’ como eles próprios dizem, e os que cobram o pedágio frente às roletas, não têm lucro em cima das passagens. Peões que só se diferenciam por não estarem em pé, debaixo do sol. Alguém pagando e não passando, e o dinheiro indo para o bolso falso da camisa azul (que poderia ser de porteiro), é uma forma de burlar o sistema!?

Fica o peso dos olhares dos outros passageiros, os pensamentos nos olhos fuzilantes “hum..., vocês estão dando um jeitinho... depois não vão querer reclamar de Sarneys, Tiriricas, Bolsonaros da vida...”.

Não cabe briga só para ter o gosto de passar pro lado de lá. São as conivências de aceitar o que nos dizem sem indagar, tanto depois de votar, quanto na hora de passar. ‘Por favor, pode abrir a da frente pra mim?’. Eu desço aqui. 

sábado, 16 de abril de 2011

Crônica de um presente anunciado

Tinha tudo a ver – se é que ela já não tivesse visto, e ouvido – com sua volta da Itália.

Quando vi na banca de jornal o último volume dos vinte da coleção do Chico Buarque ‘Chico Buarque e Ennio Morricone, sucessos do compositor brasileiro cantados em italiano, com arranjos do maestro’, pensei que era na mosca: um gosto da língua de lá com as vivências das músicas daqui.

Se não me engano ela já até tinha me mostrado alguma coisa do tipo. Na época não levei muito em consideração. Nós, consideramos muito o autor de ‘Construção’, ‘Roda Viva’, como todos das Terras de Vera Cruz. Inclusive até já apresentamos espetáculos músico-teatrais do mesmo. E não tem jeito: é unanimidade que ele sabe falar da mulher e para mulher como nenhum outro consegue. A apresentação inspirada no sexo feminino que nunca foi frágil, era pautada em diretrizes quais esboços de novas canções do mestre. Tinha poesia, tinha melodia, tinha sentimento. Tem. Eu até ousei compor algo que mostrasse a minha visão sobre o assunto (vulgo lado oposto, mas que sempre tem que estar junto, do lado e não atrás de um grande...); com certeza não cheguei nem perto.

Chico – para os íntimos e muitas íntimas suponho – cresceu rodeado de mulheres. Claramente isso foi um fator determinante. Não só. A sensibilidade também conta. Canta.

Ela foi pra Europa, pro país quatro vezes campeão mundial, a terra da pizza como é conhecida popularmente. Lá, teve vivências artísticas e pessoais que nunca teria por cá, país da pizza, piada pronta.

O tempo e o espaço geográfico separaram um pouco nossos ensejos. Quando soube da volta dela, e vi o encarte robusto, cheio de informações pertinentes e fotos, resolvi comprar para presentear. Na verdade, um pouco depois, e, se tratando de coleção, os vorazes consumidores já haviam retirado todo o estoque das ruas. Encomendei.

Ela pisou em solo tupiniquim novamente. A encomenda não veio. Por coincidência, um tempo depois já era data de seu aniversário dela. Pronto: Vai ser o presente! Não foi. Não veio.

Agora, passados alguns meses, chegou, e entrego para ela, você, esperando que venha em boa hora, relembrando as venturas passadas no exterior, fixando nosso relacionamento interior, de amizade que muitos só vêm, e a gente também escuta. 

domingo, 3 de abril de 2011

Desconstruindo o descrever de uma parede

Essa parede não é somente uma parede. Pode significar muito mais, dependendo do modo que a percebem.

Uma parede é uma separação de territórios. Também pode significar o desejo de alguém se isolar por querer; ou a vontade de quebrar essa divisão, por aquele que é confinado por opção, imposta por tijolos, areia, pedras, cimento, e ir ter com outros seres de carne e osso. Agora, vendo por esse lado – da parede – me pergunto se um muro é uma parede, tal qual o muro de Berlim, muralha da China, exemplos de paredes que representam muitas coisas além do material rijo: um sentimento maleável formado ao longo dos anos por motivos variáveis.

Um super-homem pode enxergar através delas. Ultrapassar o limite do estabelecido, do possível e do impossível, pode ser a intenção de quem se concentra, olhando fixo, meditando, tentando forjar fissuras na massa espessa, quando ainda consegue delimitar realidade e sonho. Quando não, inconscientemente se propôs um patamar inalcançável, sendo o trato consigo mesmo só sair da clausura ao atingir o que havia estabelecido como meta, e não conseguindo, o seu novo mundo, onde pode delimitar as situações das matérias humanas como em tubo de ensaio de química, serão as paredes do quadrado em que reside.

Entre quatro paredes é que homens e mulheres realmente se conhecem, a si próprios e aos parceiros, quando o desejo é se doar ao máximo e compartilhar dessa vivência nessa esfera particular.

A escrita surge individualmente. Um agregado de múltiplos é base para que se construa algo, como plantas de arquitetos, trilhas de palavras.

Não é só colocar um tijolo após o outro. É sentir neles suas particularidades. Para chegarem até a construção, por mais que estivessem juntos no monte, vários caminhos foram seguidos. As marcas ficam. Devem ser levadas em conta na hora de desconstruir o descrever de uma parede.

domingo, 27 de março de 2011

Construindo o descrever de uma parede

Essa é uma parede. Ela é feita de tijolos, cimento, areia e pedras. Alguém ou alguns a construíram. Não importa comprimento ou altura. É uma parede.

Se um carro bater forte vai rachar, se a chuva cair brava vai trincar, se a casa aumentar, derrubar, e depois em outro lugar, construir uma parede.

Não importa a cor que se pinte, o tipo da construção, continuará sendo uma parede, porque para ser uma – que todos reconhecerão como tal – segue alguns preceitos básicos, que vêm de tempos antigos, podendo um bebê que nasce já ter em seu inconsciente o que seja. E é: uma parede.

Pode ser pichada ou grafitada. Pode ter textura. É dura, rígida, sem alma nem ser, nem coisa. Apenas o que é.

Muitas escritas se tornam assim: íngremes, seguindo a fria e mecânica engrenagem braçal, de se colocar tijolo após tijolo, como descrever uma parede.

domingo, 20 de março de 2011

Script de escrita

Não estou sabendo escrever. Até tenho o que dizer. Não sei bem como. A questão crucial é: tudo acontece no onde, quando não se tem como tomar notas, e na hora de passar a limpo o que foi, pode se esquecer de alguns aspectos que poderiam ter sido e não foram notados.

Antes de concretizar é bom o planejamento. Assim como, escrever antes é forma de tentar tornar a possibilidade de que aconteça posteriormente mais provável. Também, essa tentativa traz consigo a premonição, e, quando nem aparelhos eletrônicos conseguem ter precisão em prever catástrofes e intensidades de acontecimentos, muito menos alguém, a não ser que tenha o dom, mas caso o tenha, não se preocupará tanto, pois saberá se preparar pra o que virá, podendo de antemão contar, noticiar, postar. Quem não, vale tentar, e caso não ocorra o esperado – pra bem – se frustrar.

Comentei com alguém que quando me aventuro em ficção tento me abstrair e não colocar tantas coisas pessoais; vejo que quando escrevo coisas pessoais, algumas parecem ficções, de tão absurdamente improváveis, de tão mediunicamente prognósticos se cumprirem; ou por defasagem minha, no posterior relato sobre o acontecido, deixar lacunas incompreensíveis, como estórias extraordinárias.

Assim, escrevo sobre escrever. Um amigo me questionou dos motivos da falta de escritos quando no exato momento agora tenha mais tempo disponível para a produção deles. Eu respondi que os faço manuscritos, mas não os passo a limpo no cursor que pisca a espera das próximas letras. Esse texto mesmo sai de supetão, na abstração de não conseguir aglutinar tudo - que vem ou não acontecendo – e querendo esperar, apurar os fatos, consultar as fontes, pra não dar bola fora. Poderia tentar fazer Literatura. O momento é de não-ficção. Ou algo que una as duas faces da moeda. E pensar que essas palavras aqui postas nunca irão para o papel. Serão sim, moeda de troca entre o eu que quer contribuir de maneira impar para alguns pares (dez seguidores), e me retratar com quem eu disse não escrever algo verdadeiro do interior do cerne de dentro, dando um tudo que sai no momento, sem pragmáticas, sem estimativas, sem métodos.

Quero acabar com os hiatos. Quero não ter que me retratar postando notas quando ficar muito tempo sem postar nada. Quero. O querer é só querer. Escrever começa do desejo. Desejo que se concretiza, deixando eufórico o bem-aventurado e também – e muito mais – dos não acontecimentos que precisam ser exorcizados.

Estou escrevendo scripts de futuras conversas que vou ter. Delas, das respostas obtidas, muda-se o ciclo de tudo. Sempre. E poderão ser feitos pré-textos a quatro mãos, lidos a duas vozes, escutados a quatro ouvidos. Daí um avanço: Serão ouvidos antes de serem lidos. Antes de tudo isso, serão escritos, com mais certeza para escrevê-los, tendo o que escrever, e sabendo como.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Duas brasas

Cigarro ao chão é fim inevitável
Mas os fósforos iguais não são
Aritmética, sistemática, implacável
De um sistema análogo à eleição

Os segundos, preservados, riscos-mortos
O primeiro é descartado, brasa em vida
O queimante na sarjeta em viés torto
Os queimados com seus pares suicidas

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Horas

Mais uma hora. Menos um dia. Ontem. Hoje.

Alguns aproveitam pra dormir mais, outros pra ficar mais tempo conectados; ainda há quem prefira a balada que pode ser adiantada ou atrasada. Agora o corpo tem que entrar no novo ritmo, ir ao encontro do sol ou da lua em outro fuso que foi forçado à natureza, que apenas continua o seu ciclo, horários à parte. É um ritmo. Uma fruição. Um contínuo ir e vir que não se abala com diferenças de ponteiro. Sísmicos abalos acontecem constantemente, independe de ações separadas por dado continente ou região, e suas variações de relógios, mas o humano consegue em 24 horas fazer diversos estragos. O balanço da crosta é como uma bufada depois do trago, e a fumaça é tabaco queimado. Um câncer. Uns cansam de tanto falar e tentar modificar atitudes de outros, enquanto quem faz o contrário, e gera o posterior revés tem melhor preparo físico. O ambiente é físico. O quanto de tudo também não é físico? É difícil quantificar as almas!

A claridade natural até mais tarde gera economia na utilização da luz artificial, e os recursos são preservados, quando se tem essa consciência. A ciência evolui, e quanto mais isso ocorre, há o desejo de ser mais do que historicamente até hoje se fez ser, sem marcar o despertar, deixando acontecer.

Um despertador. Hora de levantar. Antes que não haja mais chão, mais cedo ou mais tarde.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Culto semanal

“Uma semana”, ela disse. Se desdisse: “Na próxima também não dá!”

“E no sábado à noite?”, ele perguntou.

“Tenho igreja”, ela frisou.

“Hum...”, ele quis dizer: “eu já estava ansioso em ter que esperar uma semana para talvez termos um encontro, agora vou ter que ficar na expectativa até deus sabe quando?”. Pensou.

Foi dito e foi feito. Isso mesmo, como escritura sagrada. Ela, boa samaritana, disse que cuidava de crianças, ou ministrava aulas de ensino bíblico, catequese, ele não sabia ao certo. No sábado, era o culto em si.

“Então vou à igreja!”, ele propôs.

“Ah!”, ela exclamou, sem ter, ou saber o que falar.

Ele decidiu não ir. Até iria, mas o fato de ter se convidado tirava toda a intenção de chamado divino. Pelo jeito, trejeitos, atos, ela é mulher de Jesus, e ele até que estava pensando em abrir algumas concessões, tipo, beber menos, voltar a ler a bíblia, escutar algum cantor gospel. Mas não. Ela, se quisesse algo, arrumaria brechas em seus afazeres para fazerem alguma coisa juntos, ou nada.

Desse modo ele fica na mão dela. Como se quando estalar o dedo ele vai, ou quando as rugas do dedo fizerem-na ver que está perto do pai amado, o chama. Desencana. Se o chamar ele vai, mas dá uma semana de prazo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Depois de algum tempo

Depois de algum tempo, volto aos escritos, logo dois, um sobre o fim de ciclo, o outro sobre o começo de outro, respectivamente, livre para o mercado de trabalho e enfrentando as agruras dessa liberdade. Tentar postar semanalmente é de novo a meta, tentar ir me re-regrando e entrando em um eixo. Io Gio.

Na Revistaria de uma Livraria. Cap. Final

Como uma revista que vai à falência e sai de circulação sem mais nem menos, sem ao menos deixar um aviso aos leitores na última página da última edição, não tenho mais meu espaço cativo na gôndola da banca de revistas.

Após dois anos vendo e vendendo capas e mais capas, comprando todo mês aquela escolhida, às vezes alguma outra por matéria que interessava, agora não vejo mais os lançamentos quando chegam, qual título tem maior saída, se bem que isso não vá mudar radicalmente da noite para o dia. A minha rotina sim mudou. Posso seguir por hora meu relógio biológico, então, vou dormir praticamente na hora em que são entregues os malotes de jornais, ou na hora em que saem de casa os motoristas e cobradores de ônibus, no ‘negreiro’, na madrugada, no nevoeiro. Mais tarde, na hora do almoço deles, pegarão em algum cruzamento do centro da cidade o jornal “Metro”, mais ou menos no horário em que eu estava indo para a labuta, quase na hora de seus respectivos almoços. Irão folhear e ler as figuras, ou ler notícias no formato de manchetes de internet, se tendo por completamente informados. Já é alguma coisa.

Eu, do lado inverso, agora que não lido mais com os fardos amarrados em cordão que chegavam todo o santo dia, de onde não sei saindo tanta informação e/ou entretenimento, várias cores, tamanhos, formatos, nomes de periódicos, agora leio mais. Antes, mais as figuras, as nuances de cores e tipografias de letras nos títulos.

Já pensei em ter uma banca minha, mas o fato de ter que madrugar (acordar de madrugada e não dormir de madrugada) é um freio, como também o desconto para consignação ser muito baixo.

O fato é que fui jornaleiro. A intenção é ser Jornalista.